O caso de Billy Milligan fascina muitos amantes de true crime porque a primeira pessoa na história dos Estados Unidos absolvida de um crime grave alegando transtorno dissociativo de identidade, em outras palavras, personalidades múltiplas. Sua história foi contada pela primeira vez em 1981, logo depois de seu julgamento, no livro The Minds of Billy Milligan, um romance de não-ficção escrito por Daniel Keyes. A continuação, The Milligan Wars foi publicada em 1994 que é a base da série The Crowded Room.

A série, estrelada por Tom Holland, tem uma longa história antes de chegar à Apple TV Plus, com várias tentativas de adaptação desde os anos 1990s. Primeiro por James Cameron, que não chegou a filmar porque foi processado pelas questões dos direitos autorais. Já batizado com o nome atual, The Crowded Room passou a ser liderado por Joel Schumacher e depois por David Fincher (que usou a idéia para Fight Club), sendo que o papel de Billy foram considerados atores como Matthew McConaughey, Johnny Depp, Brad Pitt, Sean Penn e John Cusack, sendo que depois passou a ter Leonardo DiCaprio como possível estrela. Em 2016, o diretor M. Night Shyamalan se inspirou na história de Billy para criar Split e em 2021, a Netflix apresentou o documentário As 24 Personalidades de Billy Milligan (Monsters Inside: The 24 Faces of Billy Milligan), que também é cheia de spoilers para a série da Apple TV Plus.
Em The Crowded Room, Billy é Danny Sullivan, um homem que é preso após seu envolvimento em um tiroteio na cidade de Nova York em 1979 e é investidado por Rya Goodwin (Amanda Seyfried), que o entrevista para entender sua história e envolvimento com o crime do qual é acusado. Na vida real, Billy era um estuprador que escapou da justiça quando foi diagnosticado como portador de múltiplas personalidades.
Segundo os estudos da época, o distúrbio psicológico pode ter começado quando Billy tinha apenas 8 anos e foi abusado sexualmente pelo padrastro, Chalmer Milligan. A violência sexual continuou ao longo dos anos e, juntando ao trauma do suicídio de seu pai biológico, teria causado a “divisão da personalidade”, que desenvolveria perfis diferentes “lutando pelo controle” do corpo de Billy. Segundo ele contou, sua mente funcionava “como um quarto escuro com uma luz no centro onde as personalidades ficariam para ganhar o controle”, interagindo entre si como uma grande família. Com controvérsias, chegaram a listar até 24 personalidades diferentes, que “levaram Billy a cometer os crimes”.

Com uma juventude conturbada, em 1977 Billy foi preso em um centro de detenção juvenil e tentado suicídio, mas, depois que ganhou liberdade, foi preso novamente cerca de seis meses depois, quando foi indiciado por três acusações de sequestro, três acusações de roubo agravado e quatro acusações de estupro de mulheres no campus da Universidade do estado de Ohio. Billy alegava, e convenceu muita gente, que não lembrava de nada. Durante o processo judicial, foi submetido à avaliação psiquiátrica onde era pessoas completamente diferentes em questão de segundos. Segundo ele, seu alter Regan cometeu os assaltos e Adalana, uma lésbica melancólica, os estupros.
Diante da complexidade do quadro, o psiquiatra George T. Harding e a psicanalista Cornelia Wilbur foram chamados para uma avaliação mais apurada do caso. Juntos alegam que Billy tinha até 24 personalidades, sendo que 10 (8 homens e 2 mulheres) foram identificadas de cara. Segundo explicaram, Billy estaria “dormindo” nos últimos sete anos, sendo dominado por essas personalidades. Em termos jurídicos, estabelecia argumentos de insanidade e a sugestão de que o verdadeiro Billy não teria cometido os crimes. Embora houvesse a corrente que acreditava no fingimento do criminoso, ele foi considerado inocente em dezembro de 1978. Um detalhe, o filme As Duas Faces de Um Crime (Primal Fear), usou o argumento do fingimento para o papel de Edward Norton.
Embora “inocente”, a justiça determinou a internação de Billy e ele passou os próximos 11 anos no Central Ohio Psychiatric Hospital, onde Daniel Keyes trabalhou com ele para escrever The Minds of Billy Milligan. Foi em 1986, quando Billy fugiu do hospício que voltou a ser notícia. Foi internado novamente e recebeu alta dois anos depois, sendo que em 1991 estava completamente livre. Seus últimos anos de vida foram em uma casa comprada por sua irmã, até morrer de câncer, em 2014, aos 59 anos.
The Crowded Room, da Apple TV Plus traz um ótimo Tom Holland, mas uma narrativa lenta e confusa nos dois primeiros episódios. Para quem não conhece a história de Billy – ou viu Clube da Luta – haverá a grande virada da história quando for revelado o que está realmente acontecendo, mas, para quem sabe da origem, falta ritmo e lógica. Uma pena!
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