Quando penso que a temporada de The Idol não ultrapassará seis episódios e já vimos dois deles, me dá um certo alívio. Por outro lado, porque os trailers revelaram tanto e só haverão seis episódios, a história dá uma impressão ainda mais rala. E insistente onde é mais fraca: na sensualidade.
O segundo episódio da série de Sam Levinson responde algumas perguntas básicas, deixando várias outras no ar. A maior parte – e propositalmente – sobre Tedros (The Weeknd), mas o mais importante no momento é poder se conectar com Jocelyn (Lily-Rose Depp) e o que está a conduzindo à autodestruição. Mais uma vez é a sincerona e cruel dona da gravadora, Nikki (Jane Adams) que a ‘coloca no lugar dela’, grosseiramente, rejeitando a versão do remix feito pela cantora antes mesmo de ouvir, assediando moralmente até a própria sombra para que a gente entenda que ela é má, foda e que é pelo menos 90% responsável pelo estado atual de Jocelyn.

Tudo bem que é Nikki que nos revela que Jocelyn se sente culpada por ter mantido sua carreira andando enquanto sua mãe morria de câncer (uma alusão baixa e contrária do que Taylor Swift vive e viveu), e nos deixa sabendo que o “bonitão Rob” deu um fora na cantora ao mesmo tempo que perdia tudo. Cade e quem é o “bonitão Rob”? É o Jason Statham de Uma Saída de Mestre (The Italian Job)? Espero que não. E Nikki é quem manda, portanto todos obedecem. A figura de Nikki é um dos problemas machistas dos homens criativos: é importante que os abusos saiam de uma mulher para escapar a polícia feminista, mas gente, quando e em que universo uma mulher teve a chance de ser a principal voz de uma gravadora? Quando um dos problemas mais intricados da indústria da música é justamente a falta de equidade? Nikki é desagradável e clichê, imediatamente procurando e encontrando uma substituta para Jocelyn e imediatamente a enviando para o estúdio gravar depois de um teste de meio segundo. Cruzes! É também porque Levinson tinha ‘apenas’ alguns episódios para resolver essa parte da trama, o do medo de Jocelyn de que o mundo descubra “uma nova Jocelyn” e a esqueça. Seria um alívio…

E com Nikki então confirmamos que a simpatia de Dyanne (Jennie Kim), era mesmo parte do plano de Tedros de invadir a vida de Jocelyn. O plano parece ser insistir no domínio da vida da cantora para destruí-la e dar ainda mais espaço para Dyanne brilhar. Tedros ganha de todas as formas, se Jocelyn ficar por cima, ele a controla. E se Dyanne brilhar, ele é seu empresário. Acho que a briga será entre Nikki e Tedros, não exatamente entre Jocelyn e Dyanne.
Todo drama, incluindo a pressão financeira sobre Jocelyn que não está tão assegurada no seu estilo de vida como acredita, a faz querer estar ainda mais com Tedros. Em uma cópia de 50 Tons de Cinza ainda mais explícita do que o piloto e – por sua vez – uma cópia explícita do clássico dos anos 1980s, 9 semanas e meia de amor, a relação entre o dono da boate e a cantora é feita no quarto, onde Tedros dá os comandos sexuais para uma obediente Jocelyn antes de engajar fisicamente com ela. Não há nada de sexy nas grosserias ditas por ele, se querem entender como as mulheres piram com um homem dominador devem assistir ao clássico de Adrian Lyne e que fez de Mickey Rourke o mistério para gerações atuais de como um dia ele foi o cara mais desejado do cinema. Claro, antes de destruir o rosto e a carreira. Ninguém conseguiu depois dele ter o mistério e domínio das fantasias femininas (mais clichês e machistas possíveis) e pra quem teve o melhor nas telas, é doloroso ver a cópia.

Portanto com Leia (Rachel Sennott) sendo a única a perceber a chegada de Tedros, costuramos algumas informações sobre ele. É um bandido que faz chantagem e é meio o líder de um culto (?) onde coleciona (?) talentos (?) como Izaak (Moses Sumney) e Chloe (Suzanna Son), que cantam e compõem, mas também seduzem e fazem sexo sob comando do sinistro vilão. Especialmente incompreensível é o passado e o presente de Izaak, sendo torturado (?) por Tedros enquanto faz sexo na frente das pessoas e claramente com a missão de tirar Leia da cena. Ainda assim, ele conta como foi descoberto no coro da igreja e como idolatra Tedros.
E nos despedimos essa semana com Chloe inspirando Jocelyn com uma canção triste ao piano, O refrão – essa é minha família, não gostamos muito um do outro – deveria ser o alerta final para a cantora, mas ela já está cega e autorizou a Tedros a se mudar para sua casa, com todos os asseclas, para ‘tirar a voz que ela tem dentro dela pra fora’.
E assim, The Idol confirma estar disputando com a lendária e risível segunda temporada de True Detective como conteúdo tão ruim que até, ocasionalmente, fica bom. De todas as maneiras erradas, o monstro que tanto cantam.
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