Tecnologia ou Submissão Humana: de quem é a culpa?

Em geral muitos dos medos que sentimos e inseguranças que temos em relação à tecnologia em geral, encontram a fonte e eco no cinema. Desde Metrópolis, passando por Matrix, 2001 Uma Odisséia no Espaço ou a franquia Exterminador do Futuro (The Terminator) ou até mesmo Tron, computadores, máquinas e Inteligência Artificial acabam acelerando ou decidindo pela destruição dos humanos. Mas, Black Mirror acerta no nervo mais uma vez com um episódio que tem causado furor entre amigos e redes sociais, o excelente Joan é Horrível.

Em uma característica ousada e bem humorada crítica aos tempos atuais, Joan é Horrível usa de meta linguagem e participação de artistas famosos para ressaltar os ‘riscos’ do uso da tecnologia: algoritmos e constante atualizações de Apps, aos quais nos submetemos por motivos diversos – desde a preguiça de ler os contratos ou a submissão imediata às regras do jogo para manter o pertencimento – mas que nos expõe impiedosamente à realidade binária. Um deslize transforma sua existência, conduz a narrativa e não dá espaço para entrelinhas. O episódio, estrelado por Annie Murphy (inicialmente irreconhecível) e Salma Hayek é nervosamente engraçado e trágico, mais ainda, ultra realista. Nele, uma mulher chamada Joan (Annie Murphy) descobre que sua vida se transformou em um programa de TV em um serviço de streaming no estilo Netflix, com Salma Hayek interpretando-a. Na luta para interromper a transmissão, ela descobre realidades que alimentam sua existência virtual.

A discussão em torno de toda temporada, liderada por esse episódio (o que é estrelado por Anthony Mackie também é desconcertante) , confirma o lugar antológico da série distópica criada há seis anos por Charlie Brooker. Uma espécie de Twilight Zone atualizada, Black Mirror em geral reflete em seus episódios os medos do uso da tecnologia, paradoxalmente alimentando o algoritmo de engajamento diante das reações críticas (positivas ou negativas) do que apresenta.

E aqui está a grande questão que o episódio Joan é Terrível é tão perfeito. As críticas vão além de uso de apps ou computadores, mas acertam no coração muito humano da questão do consumo do milênio. Em uma plataforma de streaming, a vida comum de uma pessoa é transformada em conteúdo e o que engaja são os conflitos, onde destacando seus erros e defeitos as pessoas se sentem superiores e atacam. Não há como deixar esse universo onde avatares e realidades virtuais se confundem (o momento metaverso é de rir e chorar ao mesmo tempo) e tudo graças ao pertencimento.

Black Mirror é ‘avançada’ nos temas que aborda, mais ainda, é certeira no que exibe, porém é frequentemente apontada como mais uma ‘vítima’ de uma fórmula antiga e persistente: o medo do avanço da ciência. Charlie Brooker alega que sua intenção é oposta e não busca alimentar receios, mas sim destacar a contribuição do nosso comportamento na formatação de um futuro distópico. É o ovo ou a galinha novamente. Nove entre 10 histórias sobre futuro e Ciência envolvem a questão da inteligência artificial tomando o comando de tudo. Seria realidade ou um algoritmo manipulando nosso engajamento? Um vício completamente binário e… irresistível, que Black Mirror usa com maestria, como pudemos mais uma vez conferir.


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário