O filme Chevalier destaca uma série de histórias tão incríveis que seriam facilmente consideradas ‘ficção’, mas foram verdade. Dentre elas o romance entre o compositor e a marquesa de Montalembert, uma história de amor fadada à um final infeliz, como vemos no filme. Kelvin Harrison Jr. e Samara Weaving (sobrinha de Hugo Weaving) interpretam os jovens amantes cuja impossibilidade de ficarem juntos emocionou a muitos que testemunharam sua paixão.
Marie-Joséphine de Comarieu foi uma atriz e cantora, casada com Marc-René de Montalembert, engenheiro militar e escritor, que chegou à posição de Marechal ainda no reinado de Luis XVI. A casa dos dois era renomada pelas recepções de luxo e cultura, portanto, sem surpresa, eles e Joseph Bologne, Chevalier de Saint-Georges cruzaram caminhos. Como erudito, Marc-René escreveu algumas peças curtas, todas encenadas por Marie-Joséphine, que agradaram muito a sociedade francesa nos últimos anos de monarquia.


Foi para Marie-Joséphine que Saint-Georges escreveu sua primeira ópera, Ernestine, com libreto de seu amigo e autor de Ligações Perigosas, Pierre Choderlos de Laclos. Foi apresentada em 19 de julho de 1777, na Comédie-Italienne, mas só teve uma única apresentação. O problema não foi com a música ou a artista, mas justamente o roteiro de Laclos, considerado “fraco” e confuso. Marie-Antoinette, amiga pessoal do compositor, estava na platéia na noite de estreia. Porém, o fracasso da ópera causou transtornos financeiros para Saint-Georges e foi ajudado pela esposa do duque d’Orléans (irmão do Rei). Essas relações seriam caras para todos em poucos anos, quando a revolução tomou corpo.
Chevalier lutou pelos rebeldes, mas os Montalembert fugiram para Inglaterra depois que todos seus bens foram sequestrados pelo novo governo. Antes de voltar para França e conseguir recuperar tudo, com o perdão oficial dos rebeldes, Marc-René e Marie-Joséphine se divorciaram.

Depois que foi abandonada pelo marido em Londres, Marie-Joséphine precisou de ajuda de amigos para sobreviver Poucos sabem, mas, além de cantora e atriz, ela também foi escritora e compositora. Publicou dois romances que fizeram sucesso: Elise Dumesnil (1798) e Horace (1822), assim publicou uma coleção de 6 sonatas para cravo ou fortepiano.
O destino de Chevalier Saint-Georges também foi triste. Sua música foi praticamente esquecida e perdida com o tempo, mesmo tendo sido contemporâneo, amigo e comparado à Mozart. No período do Terror nos anos seguintes à queda da Bastilha, foi preso por conta de seu passado ligado à nobreza. Estava preso quando amigos – incluindo Marie-Antoinette – foram mortos na guilhotina. Ganhou liberdade, mas viveu uma vida simples quase pobre, para morrer apenas 7 anos depois. Sua trajetória foi recuperada, mas a de Marie-Joséphine segue à sombra dos homens. Uma pena, pois ela deve ter sido uma mulher notável.
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