Não houve como evitar, no ano em que o filme O Exorcista completa 50 anos, a morte de seu diretor teria o filme citado no título. Certamente o clássico do terror é um dos mais importantes do cinema e da filmografia de William Friedkin, mas foi o filme que rendeu o Oscar de Melhor diretor, em 1972, que tem sua maior assinatura, A Conexão Francesa. Seja como for, Hollywood sentiu a morte de um de seus maiores mestres, aos 87 anos, em decorrência de uma pneumonia.
William Friedkin era endeusado com razão. Tinha um olhar apurado, inovava nas sequências de ação, trabalhava o som e a trilha sonora para acelerar a tensão e acima de tudo tratava qualquer gênero com a mesma seriedade. Foi considerado um dos maiores dos anos 1970s, ao lado de Spielberg, Coppola, Scorcese e DePalma. Seu mentor foi ninguém menos do que Alfred Hitchcock e quando ganhou o Oscar, foi o diretor mais jovem da história da academia, com apenas 25 anos.

Muitos se surpreenderam que depois do drama da Conexão Francesa tenha apostado no subgênero de terror ao lançar O Exorcista, mas sempre foi originais. A diferença e o sucesso do filme estão no fato de que ele jamais encarou a história fora da caixa do drama (em sintonia com o autor do livro, William Peter Blatty) e o impacto foi pessoal, até morrer seguiu fascinado pelo tema de exorcismo e religião até porque, como sempre gostou de destacar em suas obras, era a luta entre o bem e o mal que o inspirava contar histórias, que também apreciava evitar felizes, heróis perfeitos ou dramas sem vítimas.
Filho de emigrantes judeus, William vinha de origem pobre, que considerava algo irrelevante porque a seu ver, todos eram como ele se, saber à cultura.a diferença entre certo e errado” e sem acesso. Entrou para o cinema quando conseguiu um trabalho administrativo em um estúdio de TV, onde descobriu outro universo. Foi ascendendo até ser diretor de TV ao vivo. Lá, as histórias de dramas reais o atraía e seu documentário sobre um homem inocente condenado à morte, em 1962, recriando o que teria sido o crime e uma montagem fantasiosa da execução, não apenas tirou Paul Crump da fila da Morte como colocou o nome de William Friedkin em destaque como um talento a ser acompanhado. Assim, com prestígio, chegou à Hollywood, como documentarista. Acabou conseguindo entrar para a produção de TV de Hitchcock, onde dirigiu alguns episódios. Seu primeiro longa, Good Times, foi estrelado por Sonny e Cher. Um fracasso.
Nenhum dos outros três deu certo e foi quando conheceu a histórias dos dois detetives da polícia de Nova York que haviam apreendido uma quadrilha internacional de heroína que percebeu que tinha uma boa história para contar. Foi o único, Conexão Francesa tinha sido rejeitado por outros de maior renome. Os bastidores foram marcados por brigas, mas rendeu não apenas atuações premiadas como uma das sequências de perseguição mais icônicas da história do cinema. Mesmo com o prestígio do maior prêmio da indústria, Friedkin não foi a primeira opção para O Exorcista (Stanley Kubrick e Mike Nichols recusaram) e já ganhava a fama de “difícil”. Para homens, era quase um elogio, na verdade.


Antes de fechar com Ellen Burstyn, ele tentou convencer Audrey Hepburn (que queria gravar na Itália, onde vivia, por isso acabou sendo descartada), Anne Bancroft que só estaria liberada no ano seguinte e até Jane Fonda, que recusou o papel. As gravações famosamente foram cheias de entrevistos e desastres, com atrasos, incêndio destruindo o set e elenco sem conectar com a emoção que ele buscava (sendo que o diretor usou de abusos físicos e psicológicos para ter o que queria). Deu certo porque emplacou um dos maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos.
O Exorcista marcou seu auge, seguiram alguns fracassos que abalaram sua trajetória de sucessos no cinema, algo que equilibrou dirigindo para TV e óperas. A essa altura, sua arrogância e temperamento explosivos praticamente o isolaram no mercado. Trabalhou até recentemente, menos adorado e ainda argumentando que não teria feito o seu maior filme. Bobagem, sabemos que tinha. E não apenas um, mas dois dos maiores de todos os tempos.
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