Os perigos da Rússia em The Great

Das ocasionais verdades de The Great está justamente a mais assustadora: o levante dos camponeses contra a Imperatriz instigados por Yemelyan Pugachev. Na brilhante série imaginada por Tony McMara, fica ainda mais assustador porque é o medo de Catarina (Elle Fanning), que se recusa a ungir o filho Paul como herdeiro do trono ‘aprovado’ por Deus para que não questionem o fato de que ela usurpou a Coroa, que vai acelerar as mudanças que ela tanto queria, e não positivamente para ela. Em um não que parece irrelevante, ela perdeu seus aliados mais importantes, Archie e Elizabeth, despertou a frustração de Peter (Nicholas Hoult) e, claro, desagradou toda Rússia.

Depois que Marial (Phoebe Fox) mencionou a recuperação de Pugachev (Hoult), ele é usado por Archie para instigar a população contra ela, um perigo ainda mais assustador quando sabemos que é a semente da revolução que muitas décadas depois vai mudar o país. O objetivo do arcebispo é rapidamente alcançado: agora que Catarina se sente humilhada e desesperada por uma solução, ela começará a ouvi-lo novamente e aprenderá que a igreja está em primeiro lugar no coração das pessoas. Elizabeth só a ajuda a tentar descobrir quem está por trás de tudo porque a revolta popular pode atingir a todos e como não há um herdeiro ungido por Deus, qualquer um pode se lançar para governar o país. Obrigada, Catarina!

Obviamente a confusão gira em torno disso tudo, mas, quem sabe o spoiler da temporada, já sentiu a tristeza no coração. Em uma atuação mais brilhante atrás da outra, com monólogos e diálogos ao mesmo tempo divertidos e devassadores, é de terminar o episódio de boca aberta e querendo muito mais de todos. Nicholas Hoult no papel duplo é um dos maiores injustiçados do Emmy: não é nada fácil dar empatia a um narcisista como Peter, ainda mais à dois tão diferentes como o Imperador e Pugachev. A decadência e tristeza de Velementov no alcoolismo e fim da vida também são enternecedores. E aquela cena de Elizabeth? Sério, fiquei sem ar de tão incrível que The Great é.

Vemos Peter tentar ajudar a esposa (e a si mesmo) primeiro pedindo o trono de volta e depois pedindo um papel militar para ter algo em sua posição, mas a única que ela o permite é de ser um bom pai e um bom amante. Nada que entre para as páginas da História. Ficou fácil para Hugo e Agnes pegarem os restos jogados fora por Catarina: Peter e Velementov vão ajudá-los a recuperar a Suécia e a Imperatriz não percebe.

Ter um grande roteirista no comando transforma a fantasia em algo que não conflita com os fatos. Por exemplo, o Nakaz (ou Instrução) que deflagrou parte dos problemas da temporada, foi um mesmo ambicioso empreendimento legal criado por Catarina, onde ela delineou a visão para uma nação russa progressista. Sim, chegou a cogitar a abolição da servidão, mas nada saiu do papel. Ainda assim, o tratado deu fama à ela como uma governante iluminada, Huzah!

O movimento liderado por Pugachev é um pouco diferente. Na verdade ele era um oficial militar desiludido que aproveitou o conflito da Rússia contra a Turquia para liderar centenas de milhares de descontentes à rebelião. É o futuro da temporada ainda. Sabemos que eventualmente Catarina consegue reprimir o levante, mas será uma carnificina.

Ter Pugachev (interpretado por Nicholas Hoult) como antagonista é brilhante porque ele era contrário às crenças iluministas de Catarina, especialmente no fato de que não pôde tocar na questão da servidão para manter a nobreza do seu lado, a fazendo ser hipócrita no coração de suas propostas. Fato e ficção alinhados. Talvez pior do que um líder com crenças erradas é o fato de que ela sabia que era errado, mas manteve o feudalismo para garantir sua Coroa. É cruel. E vai demandar mais atuações como as que estamos tendo. É bom demais!


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