Nem viram já reclamam. O drama dos narizes prostéticos em Hollywood

Nem deu tempo para postar sobre a biopic sobre o famoso maestro Leonard Bernstein (e sempre há drama de bastidores), Maestro, com Bradley Cooper no papel principal e bum! As pessoas só estão falando do nariz prostético dele. O tempo avança, mas a moda de falar mal nunca envelhece. Sim, estão reclamando que além de dirigir, a decisão dele de estrelar o filme o colocou em um papel para o qual não estaria adequado. O mundo é feito de roteiristas e diretores de elenco, ao que parece.

A discussão agora é sobre o nariz prostético que Bradley usa no filme Maestro, para tentar ficar mais parecido com Bernstein. Em uma atuação que o coloca entre os certamente indicados ao Oscar, com chance de ganhar, ele esta na trilha que outros colegas traçaram antes dele. Talvez a mais famosa tenha sido Nicole Kidman, ‘transformada’ em Virginia Wolff com um nariz que muitos brincaram ter sido o que rendeu a ela seu Oscar de Melhor Atriz. Maldade! Steve Carrell também foi criticado em Foxcatcher.

A discussão em torno da maquiagem em Maestro esbarra com outro problema em Hollywood: a etnia dos atores ou até sua religião. Bradley não é judeu como Bernstein e o nariz para muitos é uma forma de racismo e ofensa, ainda mais que com Jake Gyllenhaal essa questão não existiria. As comparações são inevitáveis e desrespeitosas. Se fosse por isso, como Carey Mulligan está fazendo o papel de uma chilena no mesmo filme quando é britânica?

Mas controvérsias tendem a seguir linhas distintas. A nacionalidade latina não provoca a mesma reação que o tamanho do nariz que Bradley Cooper exibe no trailer, que era para “compensar”a diferença entre o dele e do Leonard Bernstein, distrai tanto que é o que ganha destaque, mesmo que o ator tenha o apoio integral dos três filhos do maestro: Jamie, Alexander e Nina Bernstein. Voltando à mesma Nicole Kidman, ela também voltou a ser criticada (mas apoiada pela família) quando ‘ousou’ interpretar Lucille Ball.

Por que se herdeiros aprovam, ainda não é o suficiente para alguns? Jake Gyllenhall teria o mesmo problema? Não saberemos…

Jake Gyllenhaal que chamaria seu filme de The American e teria a assinatura do diretor Cary Fukunaga, mas enfrentou uma disputa acirrada nos bastidores. A versão dele concorria com a de Bradley Cooper e estavam no meio da briga pelos direitos musicais da propriedade de Bernstein, sendo que o espólio cedeu a Cooper. Sem permissão para apresentar nenhuma música composta por Bernstein, incluindo West Side Story, o projeto foi engavetado. Não é de hoje que Hollywood quer contar a vida do compositor. Um roteiro escrito há cinco anos passou pelas mãos de Martin Scorsese antes de ser descartado. Com o sucesso de Nasce uma Estrela, Bradley ganhou a liderança de reascender a idéia. Tudo lindo até a exibição do trailer…

No comunicado em apoio à Bradley Cooper, os filhos de Bernstein dizem que foram “é verdade que Leonard Bernstein tinha um nariz bonito e grande. Bradley escolheu usar maquiagem para ampliar sua semelhança, e estamos perfeitamente bem com isso. Também temos certeza de que nosso pai também ficaria bem com isso”, acrescentando que “reclamações estridentes sobre esse assunto nos parecem, acima de tudo, tentativas hipócritas de rebaixar uma pessoa de sucesso – uma prática que observamos ser perpetrada com muita frequência em nosso pai”.

Infelizmente, com os diretores de elenco de plantão, dificilmente haverá acertos em filmes biográficos. Nem Meryl Streep ou Anthony Hopkins, premiados como já eram, foram protegidos os que reclamaram quando usaram narizes prostéticos para encarnarem Margaret Thatcher e Richard Nixon, respectivamente. No entanto, Meryl ganhou seu terceiro Oscar pelo papel e ninguém ousou sugerir que o nariz ‘ajudou’, como fizeram com Nicole anos antes.

A discussão em torno do ‘erro’ de ter Bradley Cooper como Leornard Bernstein esbarra também no tema da biopic aposentada sobre Joan Rivers, que selecionou inicialmente uma atriz não-judia para o papel antes de ser engavetada, cuja sugestão de uma atriz de diferente religião também foi usada, mesmo que Kathryn Hahn seja uma das mais respeitadas do mercado e uma excelente humoristas da atualidade. Nesse caso, a família não aprovou nem o roteiro ou casting, cortando a produção antes mesmo de começar.

A ‘culpa’ dessa discussão está mesmo no histórico questionável dos filmes antigos – como Cleopatra – que não se preocuparam em nada com lugar de voz ou até mesmo respeito histórico. É sempre ideal buscar pessoas parecidas para um papel histórico, mas o talento de ‘transformação’ também conta. Não? A liberdade de atores não superaria os problemas sociais e culturais?

A polêmica está longe de acabar…


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