Vamos falar de Tyrion Lannister?

Esperei muitos anos para falar de um dos meus favoritos da série Game of Thrones. No livro, sabemos, ele é bem diferente do que Peter Dinklage levou para as telas. Tyrion, como todos em Westeros, não é uma personagem transparente, mas foi justamente sua empatia que contribuiu para a destruição de sua família, amigos e boa parte da população de King’s Landing. Sim, o rei do paradoxo. Uma enquete sobre quem teria sido o Melhor Mão do Rei/Rainha me viu votando para deixá-lo entre os piores, o que dói meu coração. A imperfeição de Tyrion era parte de sua atração: malandro, falastrão, bebarrão, mas diplomático e estrategista. Como ficou tão mal no final da história? Sim, falaremos do Tyrion da série, o rei das frases de efeito e que ficou sem palavras diante da destruição total de Westeros.

Se dependesse da primeira cena de Tyrion em Game of Thrones jamais pensaríamos que torceríamos por ele e que ele seria o primeiro a nos fazer redimir os Lannsiters. Sardônico, imoral, e irresponsável, logo percebemos que tem mais em Tyrion do que a imagem negativa possa sustentar.

Tyrion é o irmão da Rainha, Cersei Baratheon, e do Chefe da Guarda Real, Jaime. Filho caçula de Twyin e Joanna Lannister, tem dupla rejeição em sua família por sua mãe ter morrido no parto e ele ser anão, oposto da beleza atlética de sua Casa. Portanto cresceu em meio à dor e humilhação constante, contando apenas com o apoio do irmão. Sem ter físico para lutar, é extremamente culto e inteligente e empático. A dor alheia sempre o incomoda, assim como a injustiça. Ele ensina à um tímido Jon Snow o truque da sobrevivência: use sua fraqueza como escudo. Jon é constantemente lembrado que é um bastardo, Tyrion, que é anão. Ele se apóia do conhecimento que esse ataque sempre será um dos primeiros para driblar seus oponentes com astúcia. Tyrion também se solidariza com a dor de Bran, quando ele fica paraplégico. Ele sabe que os Starks o desperezam por ser um Lannister, mas demanda dos sobrinhos educação e postura. De acara, um homem diferente e interessante.

Tyrion , como todos, sabe que seus irmãos são amantes. eque seus sobrinhos frutos bastardos e incesto, mas não os julga nem os expõe. Embora seja rejeitado por seus parentes, sempre os protege sem se enganar de suas falhas. Todas essas caraterísticas incongruentes serão importantes na trágica tragetória de Tyrion Lannister, cuja interpretação premiada de Peter Dinklage fizeram dele um dos mais populares da saga. Tyrion esteve, do início ao fim, involuntariamente na posição determinante de salvar Westeros. Suas falhas, mesmo que bem intencionadas, foram fatais.

Sem amor, sem rancor. Vingança nunca foi seu forte

Tyrion aproveita que não querem por perto para observar as pessoas e relações. Enquanto todos ridicularizam e maltratam Jon Snow, ele conversa francamente com o menino, criando um vínculo improvável entre eles. Só se reencontram seis temporadas depois, mas o entendimento está lá. Jon e Tyrion têm muito em comum, inclusive uma esperança quase injustificada de que as pessoas sejam melhores. Eles não querem responder na mesma moeda e embora passem por traições e julgamentos armados, não agem necessariamente do ódio. Mais à frente sobre o tema.

Tyrion é acusado – injustamente, apenas nós sabemos – de ter mandado matar Bran, levando à vingativa Catelyn Stark a buscar Justiça, mesmo que para isso ela sequestre e ponha Tyrion em um fórum onde claramente será condenado à morte. Não importa o quanto alegue inocência, nem o fato de que salva Catelyn de um ataque quando a morte dela daria liberdade à ele. Ele se safa graças à parceria com o mercenário Bronn e à sua inteligência.

Esse sequestro é o gatilho para todas desgraças na história, com consequências irreversíveis. Ned Stark é executado, Robb Stark declara guerra aos Lannisters e Tyrion fica no meio do conflito entre as casas mais poderosas de Westeros, incluindo a Casa Baratheon pois Stannis se considera o herdeiro legítimo após a morte de Robert. Ou seja, sem saber que o quer morto (a lista é longa), Tyrion tem que sobreviver e ajudar sua família, sem esquecer do Reino.

A relação de Tyrion com seu pai é a pior possível, mas Twyin o usa quando convém. Liderando a defesa contra os Starks, coloca o caçula na posição temporária de Mão do Rei e é relevante avaliar sua gestão.

Sem preparo militar, e ciente de que diplomacia não é alternativa, Tyrion se prepara para salvar sua família e King’s Landing. Ele tenta reequilibrar e controlar Joffrey, primeiro fazendo justiça com Ned: enviando para a Muralha traidores e afastando Maester Pycelle do conselho. Traça uma estratégia de defesa que é eficaz, porém sofre uma nova tentativa de assassinato e perde todo crédito do que fezpara seu pai, que chegou ao final de toda batalha contra Stannis como salvador da pátria.

A essa altura, outra vulnerabilidade fica clara: Tyrion quer se apaixonar, mas tem uma história tão triste que receia se entregar. Quando tinha apenas 16 anos, se apaixonou por uma moça pobre, Tysha, com quem se casou em segredo. Quando Tywin soube, fez. oinimaginável. Revelou que Tysha era uma prostituta, paga para seduzir Tyrion e tirar sua virgindade e como prova, a entrega a cada um de seus guardas enquanto Tyrion é forçado a observar. Por isso, quando se une a Shae, está tão receoso. Em manipulações políticas, Tyrion é forçado a se casar com Sansa, mas digno, não à força a consumir o casamento. Ele acaba criando uma amizade com ela também, confirmando a dualidade de ser um Lannister, mas ser uma boa pessoa.

Uma das medidas corretas que toma, para desagrado de Cersei, é casar a sobrinha e mandá-la para Dorne, onde estará segura, mas longe de sua mãe. Infelizmente ele é sempre o bode espiatório. Quando Joffrey é assassinado na frente de todos, Tyrion é o último a ter servido bebida para o sobrinho portanto preso imediatamente como suspeito. O julgamento que se segue é uma farsa. A relação com Cersei e Twyin está insustentável com ambos armando para matá-lo e/ou exilá-lo, mas Jaime intervem (duas vezes) para ajudá-lo. É a traição de Shae que pela primeira vez tira as esperanças de Tyrion. Ele a mata, mata Twyin e jura matar Cersei. Ele é a peça que falta no jogo de qualquer oponente dos Lannisters. E agora?

Um novo continente, um novo Tyrion

Apesar da bravata de quer matar seus inimigos, na verdade Tyrion está tentando SE matar – com álcool. Varys o leva a ajudar Daenerys Targaryen a retomar o Iron Throne. Há mas nessa viagem, mais riscos, sequestros, mas eventualmente Tyrion é “entregue” à Mãe dos Dragões. Não é dito, mas é claro: ele se apaixona assim que a vê. Um Tyrion apaixonado, longe de Westeros é um que ainda não conhecemos e, infelizmente, não é o que esperamos.

Em Essos, Tyrion vê os dragões, se vê em meio à ataques, à campanha de Danny de abolir a escravidão. Ela o ouve, ele é estimado e alcança tudo que foi negado em sua terra. Está feliz, inspirado. Silenciosamente vai afastando todos os homens que poderiam tirar sua proximidade à Daenerys do circuito, mesmo Jorah.

Esse foi um momento entre fãs onde as teorias conspiratórias cresciam em todas redes sociais. Há muito se dizia que como o Dragão tem três cabeças, e nós sabíamos que Danny e Jon eram duas, portanto todos discutiam que Tyrion seria a terceira.

O pai dele, Tywin, era um dos melhores amigos do pai de Danny, e servia como Mão até que Aerys, o Rei Louco, se encantou com Joanna Lannsiter de uma hora para outra. Uns alegam que houve estupro, outros romance, mas algo fez com que Tywin abandonasse Kings’Landing repentiamente. Não muito tempo depos ficou viúvo como nascimento de Tyrion. O fato de que os dragões Viserion e Rhaegal não o atacassem também teria sido um claro sinal de que Tyrion poderia ser um Targaryien.

Certamente para simplificar uma trama já intricada, diante da popularidade mundial da série, os showrunners não seguiram com essa linha. Jon seria um Tarrgaryen e era o suficiente. Eu considerei uma pena.

Na ausência temporária de Danny é Tyrion que comanda Essos e já o vemos fazer erros de julgamento e estratégia atrozes. Sua visão de escravidão e como aboli-la são horripilantes, mas corerentes com um homem misógino e rico. Sem surpresa Daenerys volta diante do caos instalado e mesmo sob ataque ele ainda a convence de evitar violência. Ou melhor, de usar “menos” do que poderia usar. Daenerys retoma o controle e por mais que venha escutando Tyrion que seria melhor adiar o plano de invasão à Westeros, eles embarcam. finalmente para aguerra entre as Rainhas.

Os Erros, os erros, os erros: servir duas Casas, duas Rainhas

Temos na etapa final, um Tyrion “do lado certo da História”, oficialmente o Mão da Rainha e responsável pela restauração Targaryen e derrocada de sua família, os Lannisters. Os problemas de Daenerys são vários: ela vem de uma família impopular em Westeros, cujo pai era louco e sádico, ela nunca viveu ali – crseceu no exílio – portanto não tem uma conexão cultural ou apego à terra ou ninguém, está cada vez mais intoxicada com o Poder que seus dragões trazem, entre vários outros. Mas, o pior, é ter um Conselho costurado de inimigos entre si e cuja prioridade é vingança, não necessariamente ter um Targaryen no trono. Nem. ela e muito menos Tyrion tem o comando ou orespeito desses aliados improváveis. Era a receita anunciada do desastre.

Tyrion tem algo coerente: ele segue aconselhando à Daenerys evitar usar seus dragões e tentar diplomacia. Conquistar seria fácil, mas governar as cinzas, nem tanto. E para nossa supresa, depois de ter anunciado querer matar Cersei, vemos que tudo que Tyrion faz é ganhar tempo para salvar a irmã. Por que?

Talvez fosse porque Tyrion amasse Jaime, que amava Cersei. Talvez porque não contava que Daenerys fosse cair de quatro quando conhecesse Jon Snow. Ou porque Daenerys sabia e estava certa que nenhum governo absolutista abrisse mão do Trono se o pedido fosse educado. Seja como for, nada – mas NADA – que Tyrion planeja ou sugere dá certo. E Daenerys demora a reagir. O despreparo é claríssimo, a invasão foi prematura.

O princípio de Tyrion é que está preocupado com os inocentes, porém é apenas Cersei que se bebeficia de suas furadas. Quando Daenerys desabafa “chega de planos espertos”já está em uma guerra perdida. Para piorar, ela está de novo certa ao negar à Jon a ajuda de lutar contra o Night King. Ela tinha que ter atacado King’s Landing primeiro, depois voar até ao Norte para lidar com os mortos. Mas Game of Thrones sempre avisou: o amor é a morte do Dever. Danny estava apaixonada, Jon estava apaixonado, Jorah seguia apaixonado, Tyrion também. Claro que só poderia dar em desgraça.

Na época tinha vazado que Tyrion trairia Daenerys e seria conado à morte. Eu ainda acredito que o plano imbecil de enviar Jorah e Jon para além da Muralha para capturar um morto-vivo era apenas para tirar a competição do caminho. Tanto que quando os dois pediram ajuda, ele pediu que ela não fosse. A ideia brilhante de Tyrion custou Viserion, quase matou Jon e só fez Daenerys ficar ainda mais apaixonada por ele.

Mesmo assim, Tyrion insistiu que Cersei se sensibilizaria, que todos lutariam juntos e depois retomariam o impasse.De ONDE ele tirou essa convicção, não sabemos. Rimos com Sansa quando ela retrucou que o tinha como um homem inteligente até então.

A essa altura, Tyrion deveria ter aberto mão de sua posição por obvia incompetência. Nunca foi militar, errou nas batalhas, errou no julgamento das pessoas, errou na fofoca com Sansa sobre Jon, depois com Varys. Errou, errou, errou. E terminou sua história com Daenerys como a começou: um traidor.

De volta ao começo

Ao fim, Tyrion não avançou em nada. Ele sabe que se Jon assumisse a Coroa como Aegon Targaryen estaria ainda melhor do que Daenerys, a quem isolou e minou qualquer chance de vencer. As mulheres não o ouviam – nem Cersei, Dany ou Sansa, mas Jon o respeitava o problema seria como trair as duas Rainhas sem pagar por isso?

De todos os erros de Tyrion, ajudar Jaime a tentar ajudar Cersei não está na minha lista. Tyrion estava certo, eram seus irmãos e as chances deles eram tão ínfimas que valia tentar. Ele se sacrificaria pelos dois. Mas lembra do Tyrion que não buscava vingança? Ele não estava naquela cela quando convenceu ao vulnerável Jon Snow a salvar o mundo matando Daenerys. A adaga era de Jon, mas o golpe veio de Tyrion. O mesmo Tyrion que se safou da forca e voltou à posição de Mão do Rei e de um Rei ausente. Sua trajetória não veio sem dor, mas foi vencedora de qualquer jeito.

Como um dos protagonistas e uma das raras mentes cínicas, mas solidárias no universo de Game of Thrones, Tyrion foi por muitos anos um dos mais populares da franquia. Merecidamente. A meu ver, e já escrevi aqui sobre isso, ele e Jon Snow ‘sofreram’ o ajuste cultural do #metoo. Em vez de ‘melhorarem’e se ‘redimirem’ de repetir os padrões machistas (Jon tinha que ‘salvar’as irmãs, mas não as ouvia; Tyrion era abusivo com Cersei e outras mulheres), como já estavam escritos como machos alfas sensíveis, não foi feita. aadaptação. Jon e Tyrion passaram a serem ‘burros’, ‘perdidos’ e quase, irrelevantes. Foram superados por Sansa e Cersei, atrapalhando Daenerys que ainda os quis levar em consideração. Nem é culpa apenas dos showrunners, ambos homens, e do autor, George R. R. Martin. Faltou a perspectiva feminina para endereçar esse ajuste, que destoou do que foi prometido no início. Talvez se ambos tivessem se associado às mulheres em vez de protegê-las, teriam ficado menos ‘datados’. O que nem é menos polêmico pois a história retratava um período medieval e brutalmente pratriarcal, ao tentar se reformular em pleno vôo, teve suas turbulências. Tyrion foi uma delas.

Eu torci por uma história melhor para ele. Ansiei por longos meses o que o levaria ser traidor – como tinha vazado – até porque era inconcebível que depois de tudo fosse se associar à irmã má. A alternativa foi adequada: Tyrion era mais pelo que Jaime sentia por ela, pelo filho dos dois que a “Rainha Lannister”. A semente do ciúme (sua paixão não correspondida por Daenerys) faria sentido com um Tyrion-livro, que é um homem menos ‘bonzinho’ como o da série, mas tampouco teria tempo para desenvolver em poucos episódios.

Portanto, assim como Jon que não voltou o mesmo depois da morte, Tyrion “morreu” na flechada que deu no pai. Embora seus erros estratégicos tivessem sido anunciados em erros anteriores e fizessem sentido pela inexperiência militar dele, nas últimas temporadas Tyrion deixou a desejar. Espero que tenha sido melhor Mão do Rei com Bran, mesmo que tenha se despediu da gente com outro erro: dizer que a história de Bran era a mais interessante de todas? Nunca! Aquilo já era Tyrion sendo puxa-saco e pensando no futuro. Saiu vencedor! O que nos faz perguntar se Snow sair do papel, cmo será sua participação?


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