Os desafios da notícia: The Morning Show está de volta

The Morning Show é uma série que tem inegável apelo de elenco, uma qualidade de produção. e texto, mas que não me conecta. Sou jornalista, trabalhei em um jornal matutino como o que retratam e pelo menos na redação que vivi anos não era nem a metade do glamour que retratam, mas isso nem é o problema. Tampouco são os temas que tentam destacar a cada temporada. O problema está em conectar com personagens tão confusas e inexpressivas como Alex Levy (Jenniffer Aniston) e Bradley Jackson (Reese Witherspoon). As duas são ricas, famosas, poderosas, influenciadoras, mas estão em constante infelicidade que mais do que nos angustia, nos irrita.

Com uma introdução tão negativa devo ser paradoxal porque a terceira temporada pareceu abrir com mais consistência que as anteriores, talvez porque a essa altura já conhecemos um pouco melhor a dinâmica da série. E esperamos menos? Na primeira temporada os temas mesclavam abuso sexual, etarismo, sororidade e políticas empresariais. Na segunda, COVID-19, cancelamento, homossexualidade e… políticas empresariais. Abrimos na terceira com ataque cibernético, sexo no trabalho e… políticas empresariais. Pausa para o bocejo. Okay. Alex Levy está com um programa próprio, Alex Unfiltered, Bradley no (mais prestigiado?) jornal da noite. Parece que finalmente são genuinamente amigas, que o mundo gira em paz. Se apenas fosse assim. Bradley, que não está mais namorando (secretamente) Laura Peterson (Juliana Marguiles) e não engrenou um romance com Cory (Billy Crudup). A paixao de Chip (Mark Duplass) por Alex foi ignorada, Mia (Karen Pittman) segue miseriosa e ressentida com os homens. Temos a implacável Stella Bak (Greta Lee) liderando o jornalismo e agora um bilionário charmoso, Paul Marks (Joe Hamm) querendo comprar a emissora.E Alex e Bradley segue frustradas de não conseguirem o que querem na hora que querem, podendo ser apenas um reconhecimento ou até uma matéria que a emissora prefere abafar.

Se Bradley, ou Alex, fossem “mesmo” jornalistas dedicadas à notícia, parte de seus ímpetos seriam interessantes, mas em suas vidas milionárias quando embarcam em uma história não é pelas pessoas, é pela fama, algo que a série não endereça. O instinto suicida-profissional-pessoal de Bradley, de viver sempre arriscando tudo, tampouco engrena. Ela não sai do armário, ela não se apaixona… não fosse o carisma inegável de Reese Witherspoon ela seria uma personagem mais do que confusa para a gente.

O antagonismo entre Alex e Bradley, prometido desde o início, esbarra com o politicamente incorreto de colocar duas mulheres disputando poder, mas a amizade das duas é forçada demais para que a gente compre. Fica uma impressão de que a série nasceu com uma intenção, mudou o rumo para evitar reações negativas e até agora não consegue se encontrar pelas mesmas razões. Se comparássemos com Succession, que também de alguma forma lida com uma emissora de TV, o problema de The Morning Show é ainda tentar proteger suas personagens da antipatia e defeitos. Nenhum dos Roys, menos ainda Shiv (Sarah Snook) eram pessoas bacanas. Todos eram descaradamente narcisos e justamente esse desafio nos fazia amar-odiá-los sem culpa. Colocar Alex e Bradley como pessoas fingindo empatia não as faz complexas, as faz distantes.

Portanto, The Morning Show está de volta no mesmo lugar, com os mesmos problemas que são facilmente ignorados pela falta de opção. Críticos enaltecem Jenniffer Aniston que já ganhou um Emmy pelo papel de Alex, mas pra mim são Reese e Billy que carregam qualquer ilusão de curiosidade sobre as vidas dessas pessoas, mais merecedores se é que podemos considerar que qualquer um mereça o seleto lugar de finalista por premiações. A série é superestimada em prêmios e elogios, é apenas mais uma tentativa da TV de mostrar seus bastidores, sem conseguir passar algum realismo. Ainda assim, comas greves de atores e roteiristas já secando a oferta de conteúdo novo, vou apreciar e seguir o que tenho.

Sobre o ataque cibernético, a ligação entre Paul e Stella e o futuro da UBA? Ficou sem ter muito espaço para especulação, mas, certamente, a sombra de dúvida do envolvimento de Stella terá destaque ao longo da história.


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