Posso dar uma dica clássica? A primeira cena de uma peça, série ou filme, assim como suas primeiras palavras, em geral, SEMPRE escondem a conclusão da história. Seja para nos “confundir” ou para “nos indicar” como será a conclusão. Dito isso, é interessante que no monólogo da abertura da temporada de Only Murders in the Building, Loretta (Meryl Streep) faz seu teste admitindo que a babá é a assassina para proteger um dos bebês suspeitos de um crime.
Agora que nos aproximamos do fim da MELHOR temporada da série, é ainda mais importante lembrar como Meryl, para variar, chegou com o pé na porta e arrasou no primeiro take. “Eu mataria para proteger uma das crianças que eu cuido?”, a babá pergunta ao detetive (no caso o falecido Ben Glenroy (Paul Rudd)), “Eu mataria sem remorso, pelo bem e segurança de toda criança que cuido. Então você tem a sua resposta”, ela confessa. Então temos a confissão: a babá é a assassina! Na peça sim, na série? Devagar…

A afirmação responde ao motivo do crime – uma mãe ou cuidadora maternal – faria qualquer coisa para proteger a criança (ou filho). Portanto, a lista de suspeitos muda radicalmente se lembramos da dica que os roteiristas nos deram logo na abertura.
A terceira temporada de OMITB é uma lição da narrativa de metalinguagem, com a produção de uma peça, transformada em musical, sacudida pelo assassinato de sua maior estrela na noite de estreia e com todo elenco, e produção, com motivos para matar. Tem sido uma lição de como atores funcionam, diretores trabalham, produtores interferem, os termos que se usam no teatro, suas lendas, até fantasmas! Sou uma Broadway Freak, estou no paraíso. Mas o texto é conduzido de forma que embora seja detalhista, também é explicativo sem ser paternalista. Perfeição para quem gosta de storytelling. E do gênero “quem matou”? Que obvio amo. Seguindo essa fórmula, a dúvida de quem é o culpado precisa segurar nosso interesse até o final, em geral, nos surpreendendo. Nessa linha, estamos bem servidos!
Em geral o culpado está nas entrelinhas, no inesperado portanto quem parece ser logo de cara, em geral, não é. Dessa forma, sempre descartei que Loretta fosse a assassina, embora insistam em colocá-la como a principal opção. Meus suspeitos sempre foram outros: pensei em Howard (Michael Cyril Creighton), Dickie (Jeremy Shamos) ou Cliff (Wesley Taylor). Claro, temos Tobert (Lesse Williams), mas como ele é o “namorado” e já tivemos essa versão de assassino na primeira temporada, não o tenho no topo da lista. Mas agora tampouco incluo Howard ou Dickie.
Espera, como? Isso, seu ei que os dois últimos episódios foram direcionados para meu (antigo) suspeito favorito, Dickie, com Loretta “assumindo a culpa” para protegê-lo (olha a babá assumindo o crime!), mas paradoxalmente por isso mesmo ele não é culpado, mesmo que tenha parecido ter feito uma confissão para Loretta, eu sei, mas ela está tão desesperada em defendê-lo que é justamente isso o elimina. Sei que Oliver (Martin Short), que prefere que Dickie leve a culpa para não interromper a temporada, diz que “Mabel (Selena Gomez) nunca erra”. Dessa vez afirmo: não foi Dickie! Agora eu volto a sugerir: foi Cliff!!!! E Donna (Linda Edmond), encobriu o crime.

Várias dicas foram dadas ao longo do tempo, mas a mais forte veio pelo furtivo esbarrão entre Donna e Loretta no banheiro no qual a produtora suspira que uma “mãe faria qualquer coisa para proteger seu filho”. Death Rattle é a primeira produção de Cliff e prometia ser um fracasso até que Ben fosse, efetivamente, assassinado. Em tese, acabaria tudo, mas Oliver transformou a tragédia em musical e voltou a ser uma grande promessa de sucesso, sendo que Mabel acabou interferindo ao relançar o podcast (sozinha) questionando o primeiro suspeito preso pela polícia.
Mabel está determinada que Dickie é o culpado, porque claramente há mais do que ele deixa transparecer, mas apenas quando é tarde demais que, com a ajuda de Charles (Steve Martin), ela descobre a conexão de Loretta com os irmãos Glenroy. Sem que eles saibam (até onde vemos), eles não sabem que Loretta é a mãe biológica de Dickie, que sempre foi maltratado por Ben. Ela admitiu ter matado Ben porque acha que Dickie confessou ter assassinado o irmão adotivo, e sem, até o momento, os dois têm mesmo os maiores motivos para matar, mas reafirmo que não serão eles os culpados. O motivo terá sido “amor de mãe”, mas é referente à outra família. Cliff e Donna.

Ao mesmo tempo, ver o trio de podcasters voltando a trabalhar junto obviamente é outro ponto alto do episódio, assim como o retorno triunfal da detetive Donna Williams (Da’Vine Joy Randolph). A temporada tem sido um show ininterrupto de Martin Short com um Oliver que não apenas é hilário em seu narcisismo, como mantém o drama logo abaixo da superfície. Oliver esconde de todos seu infarto, seus medos e Martin nunca nos deixa esquecer disso, com suas pausas sutis, seus olhares, suas palavras não ditas. Espetacular é o mínimo que penso e esse Emmy de Melhor Ator será merecido quando vier (em 2024?). Mais uma vez elogio também, a trilha sonora, que a cada arranjo altera o tema central e é de uma genialidade ímpar.
Dito tudo isso, será que eu acerto mais uma vez o culpado? Infelizmente, estamos chegando ao fim… e acho que estou certa!
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