Dramas relevantes, muita coisa ao mesmo tempo

O ambiente de trabalho do The Morning Show é a maior definição de ambiente tóxico do universo. Política, assédio, preconceito, mentiras, ressentimentos. A cada episódio a lista aumenta. No entanto, embora tenham esbarrado com o tema de racismo estrutural em outras temporadas, o tema foi o que moveu o excelente White Noise, que, por ser incômodo, é um dos melhores até o momento.

Há muito que a sociedade pré-millenial recente: as regras mudaram, a tolerância para erros foi praticamente erradicada e é preciso calar, ouvir, aceitar e MUDAR. Seja qual for o tema. Em uma narrativa quase professoral, a série nos faz visitar os dois lados da moeda do racismo. Obviamente, é mais uma jogada de Cory (Billy Crudup) que não mede esforços para se manter no comando da UBA, especialmente agora que quer que o bilionário Paul Marks (Joe Hamm) compre a emissora. Cybill (Holland Taylor) precisa ser eliminada e ele é implacável com a oportunidade.

Depois de terem sido hackeados no episódio passado, todos na UBA ainda estão navegando com medo e cuidado do que ainda possa surgir das mensagens e emails trocados com informações sigilosas ou delicadas. Duas se destacam: a que mostra as diferenças salariais gritantes entre funcionários e a que Cory autoriza liberar, uma troca de e-mails com comentários racistas de Cybill quando contrataram a âncora negra, Christina (Nicole Beharie). Embora Christina tenha sido uma escolha como foi Bradley (Reese Witherspoon) no passado – inexperiente – ela ganha menos que a sua antecessora e pelas trocas de mensagens, claramente foco de preconceito racial. Cybill se desespera e tenta se articular para “não ser cancelada por um ‘único’ erro” e porque sabe que é uma movimentação de Cory de tirá-la do Conselho da UBA. Perde nas duas frentes. E é importante que aprendamos a lição dessa derrota.

Cybil se justifica com as razões que muitos dos pre-millenials ainda enxerga como justificável: não era sua intenção, agiu como as regras da sociedade, blá blá blá. Mas no fundo o grande problema e o pânico do cancelamento, de novo rondando a pauta de The Morning Show, é o que vem do estrutural e o que impede que o pedido de desculpas seja completo, sincero e o início de uma mudança. Parte da reação do “cancelado” é estar perdido do que fazer para evitar o linchamento público, mas no fundo encontrar as justificativas para se isentar de culpas. Christina é acusada de todos os lados de estar se fazendo de vítima, quando até seu marido ignora o impacto psicológico que teve ao se questionar de seu valor. Ela vira o jogo, elimina Cory, mas não há vitoriosos na arena.

Cory tem muitos problemas mesmo dentro da UBA: Stella (Greta Lee) não apenas discorda de suas escolhas e atitudes como já se uniu à Mia (Karen Pittman) e as duas como aliadas não podem ser ignoradas. Ela revelou apenas para Mia que tem uma conexão com Paul Marks, alegando que era profissional apenas (soa uma grande mentira) e que teme a ele mais do que Cory porque Paul é “implacável”. E vemos um pouco disso quando ele humilha Cory, fingindo ter perdido interesse no negócio que ele está claramente fazendo de tudo para fechar, mas nos termos e valores dele.

Houve pouco que Alex (Jenniffer Aniston) ou Bradley fizessem no episódio. Alex tenta se esquivar de se envolver com o problema de Cybill, seu esforço é mínimo mas fica aparentemente bem com os dois lados da moeda. Já Bradley e seus dramalhões pessoais irritam até Mia, que já está com outro talento (Christina) para cuidar.

The Morning Show abraça questões polêmicas desde o início e tenta trazer sempre uma luz para o que é realmente o problema. Incomoda, certamente, mas quando conclui nos sentimos entendendo um pouco melhor os obstáculos mais delicados do nosso momento. The White Noise destacou o talento de Nicole Beharie. Estou muito mais interessada nela do que nos dramas de mulheres brancas que conduz a série. Será que em uma quarta temporada invertem o protagonismo? Me parece que já chegou a hora.


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