Em inglês, Moonlighting quer dizer ter um segundo emprego, fazer uma consultoria. Isso porque, como quem sabe inglês percebe, a palavra se traduziria como banho de lua, ou seja, trabalhar até tarde da noite. Essa premissa é importante para o nome de uma série americana de grande sucesso nos anos 1980s, mas que, no Brasil, ficou conhecida como A Gata e o Rato. Se você tem mais de 40 anos, sabe de qual série estou me referindo, mas o que importa é que, numa homenagem ao astro dela, Bruce Willis, e uma onda de revival daquela década, a série original vai voltar a ser exibida. Isso mesmo, a plataforma Hulu recuperou os direitos e vai disponibiliza-la. Algo ultra interessante para quem gosta de entretenimento e TV. Vejamos.

A Gata e o Rato ficou no ar por poucos quatro anos, mas definitivos. Lançada em 1985, no Brasil foi exibida na TV Globo, virando febre mundial por quase todo tempo que esteve no ar. Estrelada por Cybill Shepherd, vinda do cinema e do sucesso de Taxi Driver e um desconhecido Bruce Willis, em seu papel de estreia, a proposta era atualizar a fórmula de A Megera Domada ou Muito Barulho Por Nada, onde o casal principal vence a mútua hostilidade até se apaixonar. No caso, , Madelyn “Maddie” Hayes (Cybill Shepherd), uma ex-modelo que acorda falida e tendo que começar a trabalhar para recuperar a estabilidade financeira e descobre que um de seus investimentos antigos era uma agência de de Detetives Particulares, a Blue Moon, onde seu funcionário e gerente, David Addison (Bruce Willis) é um malandro e criativo detetive. Os dois obviamente são de personalidades opostas – ela organizada, ele caótico – e os dois também têm interesses distintos. A princípio, Maddie quer vender a agência, ele precisa que ela mantenha os negócios. Aos poucos, a ex-modelo se envolve no mundo de mistérios e investigações e, claro, viram sócios.
Se a fórmula parece a mesma de muitas outras séries fiquem atentos: essa foi a primeira, as outras são as imitações. Com diálogos rápidos, parecendo improvisados e uma clara tensão sexual entre seus protagonistas, foi sucesso imediato. A Gata e O Rato, foi considerada um dos primeiros exemplos influentes e bem-sucedidos de comédia dramática ou “dramédia”, que hoje é tão comum e a série está na lista da Time como um dos “100 melhores programas de TV de todos os tempos”, com David e Maddie liderando um dos casais mais queridos da TV.


O showrunner Glenn Gordon Caron, que era um dos produtores do similar Remington Steele, é quem está por traz da volta da série. Ele conseguiu emplacar várias ousadias, como quebrar a quarta parede e ter as personagens conversando com o público diretamente, acelerou o ritmo da ação e se inspirou diretamente nas clássicas “comédias malucas” dos anos 1930s e 1940s do cinema, como os do diretor Howard Hawks. A ousadia levava a ter episódios onde a equipe de produção e os sets se envolvem na trama, como o que Maddie e David “descobrem” que o show está sendo cancelado, e o escritório é desmontado ao redor deles enquanto discutem com um produtor. Era hilário. Além disso, fez crossover com outros sucessos da época, como ter o astro de Remington Steele, Pierce Brosnan, participando em um episódio e assumindo a influência de Casal 20 (Hart to Hart) – que terá um post em breve em MiscelAna – quando em um episódio baseado no filme Felicidade Não Se Compra (It’s a Wonderful Life) a realidade alternativa que Maddie vê traz Jonathan e Jennifer Hart (Robert Wagner e Steffanie Powers) comprando a Blue Moon e até contando com uma ponta de Max (Lionel Stander).
Obviamente, nem tudo foram flores. Bruce Willis não foi uma escolha emplacada com facilidade e depois que “roubou” a série, ele e Cybill Shepperd também tiveram desavenças nos bastidores. Para piorar, esticando ao máximo o “ficam ou não ficam” dos dois, quando a série uniu David e Maddie como um casal, foi justamente quando perdeu a audiência, criando a famosa “praga de A Gata e O Rato”, que se refere como o público torce pelo casal, mas perde interesse quando ficam juntos. Claro que é uma leitura simplista, mas criou a tradição de quase nunca manter um casal protagonista sem crises ou juntos o tempo todo. Não é exagero, podem fazer um Google e verão que a “culpa” é de A Gata e o Rato.
Com o sucesso e suas estrelas com outras prioridades (Cybill teve filhos, Bruce virou febre mundial com Duro de Matar) as gravações sofreram muito, assim como a audiência. Outro agravante foi a greve dos roteiristas que foi de março a agosto de 1988 atrapalhou ainda mais as gravações. Nesse hiato forçado o cancelamento foi antecipado. E a volta foi justamente o episódio que mencionei sobre o fim da série, que terminou com os créditos dizendo que “A Blue Moon Investigations encerrou as operações em 14 de maio de 1989. O Caso Anselmo nunca foi resolvido… e permanece um mistério até hoje.”
Por toda importância e o impacto que causou na TV, é que celebramos a “volta” da série original à plataforma da Hulu, que é parcialmente da Disney mas apenas nos Estados Unidos. Por hora. E devemos agradecer ao showrunner Glenn Gordon Caron que se empenhou por anos e encarou o pior dos desafios que era liberar: os direitos da trilha sonora. “Em cinco temporadas, acho que fizemos apenas 66 shows. Usamos 300 músicas. A ideia de voltar atrás e renegociar com todas aquelas pessoas quando efetivamente elas estão com você em apuros não era algo que qualquer estúdio esperasse”, ele mencionou.

Para Glenn, a saúde de Bruce Willis, que sofre de Afasia e está em avançado estágio de demência fronto temporal que é associada à dificuldade na fala e à compreensão escrita, sonora e visual.
“À medida que tomei conhecimento da doença de Bruce Willis, isso se tornou mais urgente para mim, porque eu sabia que grande parte do mundo o conhecia como um cara que carregava uma arma [por causa de seus filmes de ação], mas não sabiam que ele era um protagonista romântico. Eles não sabiam que ele é incrivelmente engraçado e incrivelmente hábil verbalmente. Eu escrevia esses monólogos de oito páginas para ele às 5h30, e ele os memorizava perfeitamente às 7h20, principalmente porque ele era musical e abordava tudo como uma proposta musical”, ele lembrou.
Alguns conteúdos da Hulu estão no Star Plus, aqui no Brasil, ficamos na torcida para que a liberação seja mundial. E fica a recomendação para os mais novos: vale a pena curtir e conferir, porque ser inovador não é para todos e esse foi um conteúdo que mudou muita coisa. Uma ótima notícia para os nostálgicos!
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Será que, algum tempo após o fim da série, eles se tornaram amigos? A notícia que vazou na época era que não se suportavam atrás das câmeras.
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Pois é, pelo que entendi na melhor das hipóteses ficaram “distantes”. Acho que nunca superaram as diferenças
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