30 anos sem River Phoenix: o James Dean moderno

Se você não faz parte da geração X pode até ter ouvido falar de River Phoenix, mas não tem a dimensão como em sua curtíssima trajetória – ele morreu com apenas 23 anos – é digna de sua lenda em Hollywood. Lindo, talentoso e autêntico, River já acumulava uma indicação ao Oscar e um potencial ímpar em uma indústria cruel. Em vida já era comparado à James Dean, outro astro que se foi antes mesmo de entender sua dimensão, aos 24. Parecidos fisicamente, ambos alimentam muito a imaginação de “e se”, algo que não teremos resposta. Tudo isso ganhou nova dimensão em 1993, quando completaram 30 anos da morte de River, por overdose de drogas, na porta da casa de shows The Viper Room, em Los Angeles.

Se tivesse sobrevivido, River teria completado 53 anos em agosto. Irmão mais velho de Joaquin Phoenix, River cresceu em uma família itinerante e criado de maneira inovadora para época, sem escolaridade formal e incentivo desde cedo para Artes. A música era sua primeira opção, mas começou sua carreira de ator com apenas 10 anos, estrelando comerciais de televisão até quase que imediatamente ser identificado por Hollywood. Não era difícil se encantar com sua inegável beleza, alinhada com um carisma raro além de grande talento para interpretação.

Se os primeiros passos foram os comerciais, logo veio a TV onde começou a crescer com apenas 13 anos. A estréia no cinema foi em em 1985, com Explorers, ao lado de Ethan Hawke, mas foi no ano seguinte, com o cult Stand by Me que alcançou estrelado internacional. O filme era baseado em um livro de de Stephen King, The Body, e virou referência na literatura e cinema. Ainda desconhecido, River testou para outro papel, ganhando um dos principais, Chris Chambers, que tinha seu amigo Ethan Hawke em consideração.

Daí fez o papel de filho de Harrison Ford e Helen Mirren em The Mosquito Coast, dirigido por Peter Weir e foi praticamente a única unanimidade da crítica sobre a produção. A ligação com Harrison Ford viria a render uma ponta mais tarde na franquia Indiana Jones, onde fez um Indy adolescente sendo perfeito em trazer as características de Ford para o papel em Indiana Jones e a Última Cruzada Mas antes disso, testou sua habilidade cômica em A Night in the Life of Jimmy Reardon, que não deu certo. No mesmo ano estrelou Little Nikita ao lado de Sidney Poitier, já sendo um dos atores mais famosos de sua geração. Com esse sucesso, em 1988, estrelou Running on Empty, dirigido por Sidney Lumet e sua atuação foi tão marcante que mesmo com apenas 18 anos, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (perdeu para Kevin Kline em Um Peixe Chamado Wanda). Mal sabíamos que o teríamos por tão pouco tempo entre nós.

Entrando nos anos 1990s, o mundo parecia se desenhar para ser de River Phoenix. Ele era a referência máxima de sua geração (que incluía Johnny Depp, Keanu Reeves e Ethan Hawke, para citar poucos), com um mundo à sua frente. Estrelou a campanha da Gap e foi fotografado por Bruce Weber para a Vogue. Emendou a exposição do Oscar na comédia, I Love You to Death, ao lado de Kevin Kline e de Keanu Reeves, seu melhor amigo. A essa altura, o irmão caçula de River, Joaquin, estava ensaiando seguir os passos dele e tinha estrelado com Keanu o filme Parenthood. Imaginem que nesse período fez o teste para trabalhar com Keanu em Bill & Ted’s Excellent Adventure, mas foi preterido por Alex Winter. Aí veio o clássico My Own Private Idaho, em 1991. Sua ousadia de viver um garoto de programa gay é considerada a sua melhor atuação.

Daí, se manteve no cinema independente, onde não se apoiavam em sua beleza, mas em seu talento como ator. Na comédia romântica, Dogfight interpretou um fuzileiro indo para Guerra do Vietnã, em Sneakers, estava de igual para as grande estrelas do elenco, que incluíam Robert Redford e Sidney Poitier, em 1992.

Hoje é incrível pensar que River Phoenix foi preterido em nome de Brad Pitt para o drama A River Runs Through It e apenas por isso estrelou no filme de Peter Bogdanovich, The Thing Called Love, que viria a ser o último filme concluído antes de sua morte. Ele estava escalado para estrelar ao lado de Tom Cruise e Brad Pitt em Entrevista com o Vampiro, cujas gravações começariam em duas semanas quando passou mal na entrada do The Viper Room, morrendo na calçada antes do socorro chegar.

Entre os vários projetos associados à River antes de sua morte, três ‘fizeram’ a carreira do jovem Leonardo DiCaprio, na época com apenas 19 anos. The Basketball Diaries, Total Eclipse e até Titanic. Mas embora tivesse essa dimensão como ator, era na música que ele se encontrava como pessoa. E não era o front man, ele era o guitarrista da banda Aleka’s Attic, onde sua irmã, Rain, era a vocalista. Foi como músico que River estava na famosa casa de shows na fatídica noite de outubro de 1993.

Vegano, ativista pelo meio-ambiente em tempos em que nada disso era popular, River Phoenix representava uma mudança no perfil dos astros do cinema. Ele namorou duas co-estrelas, Martha Plimpton e Samantha Mathis (que estava com ele na noite de sua morte), mas seu uso de drogas e bebiba, ainda que desconhecidos do público, eram problemáticos em seu círculo de amigos. Martha e ele romperam por causa disso, mas há muitos que garantem que ele era apenas usuário ocasional de drogas e que aí estaria o acidente trágico. Ele tinha acabado de voltar das gravações de Dark Blood, e estava com Samantha Mathis, seu irmão Joaquin e sua irmã Rain, indo para se apresentar com a banda P. Teve convulsões diante dos amigos e parentes sem que pudesse fazer algo. Ele ainda chegou com vida ao hospital, mas não resistiu, sendo declarado morto às 1h51 PST da manhã de 31 de outubro de 1993, aos 23 anos.

Por muitos anos, a gravação do 911 foi um dos momentos mais marcantes de Joaquin, cuja carreira começou à sombra de um peso ainda maior quando River se foi. Criando seu próprio nome, foi indicado ao Oscar quatro vezes e (finalmente) ganhou em 2020, por Joker, onde emocionado, homenageou ao irmão (que também é o nome de seu filho com Rooney Mara).

A curta e impactante trajetória de River Phoenix são frequentemente comparadas às de James Dean, e com justiça. Assim como River, Dean era de uma beleza inegável, carisma e uma forma natural de interpretar que influenciaram gerações. Sua filmografia foi ainda mais curta, embora tenha morrido com os (quase mesmos) 24 anos.

Dean perdeu a vida em um acidente de carro  em 1955 e sua lenda é uma das mais fortes até hoje no cinema mundial (até maior do que a de River Phoenix). Em 2023, voltou a ser notícia quando surgiram os boatos de que usariam Inteligência Artificial para reavivá-lo. Será? Ícone da rebeldia, seria uma forma de decifrá-lo. Será que farão o mesmo com River Phoenix um dia?


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