Segredos colocando a sociedade em cheque em The Gilded Age

O terceiro episódio de The Gilded Age confirma que ritmo e energia estão dando o tom da história agora, o que apreciamos. Marian Brooks (Louisa Jacobson) está à vontade, mais firme (ainda que relativamente conformada) com seu papel em uma sociedade curiosamente tradicional em um país supostamente moderno. Sim, sabemos que muitas das tramas são inspiradas em histórias reais e ao comparar The Buccaneers não perdemos a ironia de que a colônia pode ter se rebelado com o Reino Unido e criado uma república democrática, igualmente sobreviveu à uma Guerra Civil (que terminou apenas há uns 8 ou 9 anos antes do que estamos acompanhando), mas segue rígida em seus costumes e admirando a aristocracia da qual espertamente se livraram. A chegada do Duque de Buckingham (Ben Lamb) vai sacudir ainda mais uma temporada tensa na série. Isso mesmo, ele já foi mencionado e será mais um motivo da guerra entre novos e velhos ricos em Nova York. Mas vamos ao nosso recap crítico de Cabeça a Cabeça, por personagens e não a ordem exibida.

A sinopse do episódio diz que “a guerra da ópera aumenta quando um convidado inesperado comparece à gala de angariação de fundos de Bertha para o Metropolitan Opera, enquanto Agnes dá o seu apoio à luta da Sra. Astor pela Academia de Música”. Já falei antes e repito aqui: é uma falha de The Gilded Age insistir em antagonizar Agnes Von Rhijn (Christina Baranski) com Bertha Russell (Carrie Coon). Bertha mal lembra de Agnes com razão porque Agnes é uma personagem usualmente imóvel, que entra em cena para frases curtas e marcantes, mas que não interage com ninguém que não venha visitá-la, portanto sua antipatia gratuita por Bertha porque ela é “dinheiro novo” é deliberadamente tola, mas sem uso na trama igualmente. Isso porque, como já reclamei antes, Bertha é inspirada em Alva Vanderbilt, que embora citada na série não é uma personagem e Caroline Astor (Donna Murphy), sua rival, é. A presença de Caroline esvazia a existência de Agnes, um espelho divertido de Lady Violet Crawley (Maggie Smith) de Donwton Abbey. Mas, em Violet tem destaque porque é uma anti-heroína que circula, que interage e interfere. Esperava muito mais. de Agnes! Então vamos falar de Agnes no episódio.

Agnes é proporcionalmente incrível com Peggy Scott (Denée Benton) como é propositalmente desagradável com todo o resto. Ao sentar e perguntar à Caroline Astor “me dê as ordens, o que quer que eu faça” revela sua dimensão reduzida em tudo que acontece. A Guerra das Óperas está acirrada, mas apenas Bertha e Caroline realmente se importam. A noite de estréia está marcada para mesma data justamente para fazer a divisão mais clara e assim temos uma vilã ativa, que não é nenhuma das duas senhoras tradicionais, mas justamente Turner, desculpem, a Sra. Winterton (Kelley Curran). Por hora, a ajuda de Agnes é espalhar boatos para poupar Caroline de se expor como a mesquinha e preconceituosa que é, ameaçando quem escolher apoiar Bertha de perder “o camarote na Academia de Música”, ou seja, o seu apoio.

Saindo dessa reunião de Garotas Más na meia-idade, Agnes revela para nós um segredo que Marian ainda não percebeu. Dashiell Montgomery (David Furr) já pediu à tia ajuda para conquistar Marian, algo que Agnes celebra porque ele é perfeito para a sobrinha. No entanto, Agnes não é burra e sabe que Dashiell precisa conquistar a moça porque ela não vai aceitar casar por conveniência. Não sei se Aurora Fane (Kelli O’Hara) já foi acionada, me parece que sim porque toda hora ela cria situações onde Dashiell pode estar por perto e Marian ainda não percebeu. Dito tudo isso: ainda não percebi se podemos torcer por ele. Sua discrição parece genuína, ele tem o apoio da família e está indo devagar na paquera, portanto é o oposto de Tom Raikes (Thomas Cocquerel) e bem mais ativo do que Larry Russell (Harry Richardson) – este mais ocupado na sua paixão pela viúva Susan Blane (Laura Benanti) – mas como sou do time #larrmar estou ainda esperando o outro sapato cair para entender qual é de Dashiell de verdade.

Já que mencionei Larry e Susan, ela sim está bem mais “suspeita”. Ele está apaixonado e ainda não percebeu que Susan, embora empolgada, está se divertindo com sua liberdade, mas não quer nem escandalizar a sociedade ou algo permanente. Sei não, Marian parece estar menos vulnerável à uma decepção amorosa que nosso querido rapaz nessa temporada. E também porque falamos de Tom Raikes, quem está nessa vibração suspeita é o pastor Luke Forte (Robert Sean Leonard). A carência de Ada (Cynthia Nixon), em mais uma atuação brilhante e sensível de Cynthia Nixon, é comovente e mesmo numa idade onde deveria ter desistido do amor, sonha com o casamento. É emocionante, porém a coloca sempre à disposição de predadores. Agnes, em sua sabedoria cínica, já pescou que o pastor tem algo interesseiro, pelo teaser sabemos que vai se opor ao romance com a irmã dela e ainda nos resta descobrir se mais uma vez será certeira. Pobre Ada.

No campo de romances, Oscar Van Rhijn (Blake Ritson) segue na busca por uma esposa, aparentemente encontrou uma candidata, Maud Beaton (Nicole Brydon Bloom ), mas sem conseguir disfarçar sua infelicidade. É, a terceira temporada está plantando muitas decepções amorosas para nosso elenco.

Antes de chegar aonde quero, vale mencionar que a trama de Watson (Michael Cerveris) querer esconder que é um homem rico transformado em valete e que está preocupado em não expôr sua filha, Flora (Rebecca Haden), vai fazer sentido quando for “expor” a nova Sra. Winterton. A oferta de seu genro, Mr. MCneil (Christopher Denham), que vá embora seria até funcional se Watson já não estivesse conversando sobre a verdade com mais de uma pessoa na cozinha dos Russells. Segredos são a tônica e estamos vendo que nenhum está bem guardado!

O único discreto é George Russell (Morgan Spector), que está lidando com problemas de trabalho de novo (post à parte a caminho) e ‘guardou’ de Bertha a tentativa fracassada de Turner ao tentar seduzi-lo na temporada passada apenas para a ex-camareira jogar a verdade na cara de Bertha. Homem nenhum entende como ainda que ter recusado uma mulher possa ser uma traição para outra, mas estou com Bertha. A humilhação que viveu sem nenhum conhecimento a deixa como tola para Turner, e George vai ter que rebolar muito para superar essa bola fora.

Não vou deixar passar a perigosa trama que está se desenhando para nossa querida Peggy, claramente se apaixonando por seu chefe casado e se jogando em uma missão suicida de ir até o sul do país para fazer uma reportagem. A escravidão, que me arrepiou quando lembrada de forma tão casual, era uma realidade nos Estados Unidos menos de 10 anos da história que estamos acompanhando e justamente porque o Sul era arraigado à essa brutalidade que é tão perigoso que nossa heroína se aventure por lá. A segregação está presente em muitos momentos mesmo em Nova York e The Gilded Age também mostra isso, sem colocar esse drama real e inconcebível no centro da história, mas o perigo para Peggy é muito real. Peggy merece trazer essas histórias para nossa atenção. Quem se importa com casas de ópera, duques ou casamentos entre ricos com isso tudo literalmente na porta?

Mas a tônica de toda temporada é mesmo ‘segredos’. Turner tem o perigo oposto de Watson: quer omitir sua origem recente de trabalhadora, mas com claramente um infiltrado na equipe dos Russells (quem é aquele valete bonitão?) e todo staff ciente de sua posição, é meio complexo colocar a culpa nos ombros de Bertha quando os outros a encontrarem. TODOS a viram trabalhando para os Russells: Marian, Aurora, Oscar… mas por hora parece ser o que querem que acompanhemos. O segredo de The Gilded Age é sempre a ironia da hipocrisia. E nós adoramos!


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário