A vida do soprano Maria Callas estava aparentemente destinada a estar à sombra de uma Jackie. Muitos anos antes de que ela e Jackie Kennedy ficassem em lados opostos por causa de Aristotle Onassis, havia Jackie Callas, sua irmã mais velha e preferida de sua mãe. A relação das duas, espelhando à maternal, foi complexa.
Yakinthi, registrada como Jackie quando os pais emigraram da Grécia para os Estados Unidos, era 5 anos mais velha que Maria, que nasceu em Nova York. Sempre magra, tida como “mais bonita” e mais popular, Jackie era tudo que Maria não era quando não estava cantando. Diante da toxidade da relação familiar dos Kalogeropoulos, sempre foi impossível para as duas irmãs terem uma relação saudável. E no filme em produção, Maria, de Pablo Larraín, Jackie Callas será interpretada por ninguém menos que a italiana Valeria Golino.

O filme, estrelado por Angelina Jolie, vai se espelhar nas duas biopics anteriores do diretor, Spencer e justamente, Jackie, sobre a rival de Maria, Jackie Kennedy Onassis, onde se concentra em alguns dias vitais nas vidas de Diana Spencer e a ex-primeira dama. No caso de Maria, seus últimos dias isolada em seu apartamento em Paris relembrando seu passado e seus relacionamentos com Onassis (Haluk Bilginer) e seu marido, Meneghini (Alessandro Bressanello), quase sempre ouvindo suas próprias gravações. Kodi Smit-McPhee será um repórter que vai conversar com a diva.
“Respondi que sim porque adoro o estilo de [Pablo] Larraín, um realizador de grande estatura e sem escrúpulos. Gostei muito da Jackie dele”, revelou Valeria Golino poucos dias antes de começar. a gravar, em outubro de 2023.
Como preferida, Jackie chegou a sonhar com uma carreira de cantora, mas, sem o talento de Maria, ficou em segundo plano. A competição entre as duas fica clara quando as palavras que ela usou para falar quando viu o corpo da irmã morta como: “Ela tinha tudo no final. Eu era a linda, era a irmã que iria se casar. Mary [seu apelido de infância], Mary atarracada e de pernas gordas, cantava. Agora, lá estava eu, sessenta anos, solteira e lá estava Mary, uma das mulheres mais famosas do mundo”, escreveu em sua biografia, publicada no final dos anos 1980s.

Será curioso ver esta relação de irmãs ainda não explorada nos filmes sobre Maria Callas. O soprano morreu de ataque cardíaco, doze anos depois de ter terminado sua carreira na Ópera (mesmo que ainda estivesse dando aulas e fazendo concertos por algum tempo). Maria ressentia sua família desde sempre, por se sentir explorada por eles.
A escritora Lyndsy Spence, com quem vou conversar para minha coluna em CLAUDIA em breve, teve acesso à documentos e cartas que mudaram a narrativa dos últimos anos de Callas. Neles encontrou evidências que ela sofria de um distúrbio neuromuscular que se começou a manifestar ainda na década de 1950, assim como estava dependente de sedativos, tudo que acelerou a pressão sobre um coração frágil e machucado. Sempre trágica, sempre fascinante.


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