Como explicar para quem não viveu os anos 1980s que o visual colorido, bufante e ‘grandioso’ era propositalmente cafona? Nos primeiros anos de MTV, evangelizando o rock em grande parte, tudo era a mais: os clipes, os cabelos esvoaçando, os shows em estádios lotados. E mesmo que o pop estivesse sempre em alta com as ondas new wave e gótica, o heavy metal viveu seu apogeu, porém também apelidado de “hair metal” justamente pelo visual copiado, multiplicado e esgotado de tantas bandas que soavam iguais como pareciam iguais. O ótimo documentário da Paramount Plus, I Wanna Rock: The ’80s Metal Dream resgata esse período com ótimos depoimentos e perspectiva.

Na plataforma desde julho de 2023, o documentário é dividido em três episódios e acompanha as vidas atuais de alguns artistas que brilharam naquela década de exageros, traçando com detalhes e boas análises como tudo começou e acabou (a lenda alega que o grunge matou o hair metal, mas a série sugere algo mais plausível).
As entrevistas com Janet Gardner, da banda feminina Vixen, Kip Winger, o cofundador e guitarrista da banda Skid Row, Dave “Snake” Sabo, o vocalista John Corabi e, claro, o vocalista da banda Twisted Sister, o sempre preciso Dee Snider relatam histórias de bastidores, cruzadas com jornalistas e outras pessoas que viveram aquele período do apogeu das gravadoras. É bom demais.
A análise de todos, relembrando os cenários importantes do rock em Los Angeles e Nova York, nos ‘educa’ sobre como foi o movimento e como a MTV foi essencial para sua popularização assim como sua demonização. Como eles explicam, a emissora tinha 24h de programação para preencher e o visual dos artistas tinha até maior relevância que a música. Dessa forma, quando identificaram algo que ressoou com os jovens, clonaram a fórmula em quase todos. Couro, correntes, androginia e cabelos penteados e penteados com spray tornaram-se a norma, assim como refrões fortes e guitarras estridentes. Sim, também havia o machismo e a misoginia: mulheres objetificadas sexualmente eram igualmente o padrão dos vídeos de rock.

A sinceridade dessas ex-estrelas do rock é emocionante. Quando o ‘hair metal’ “acabou”, pareceu repentino para muitos deles que literalmente de um dia para o outro, não perderam apenas prestígio e fortuna, mas a credibilidade de seguir fazendo a música que amavam. Por exemplo, hoje Janet é dentista (além de ter um grupo de rock) e Kip é um compositor de música clássica, mas a estrada de fama e derrocada são endereçadas com vasto material de vídeo que nos faz querer ouvir tudo novamente. Aliás… fiz uma playlist depois que acabei de assistir.
Tudo acabou em 1991, quando a banda Nirvana fez a escolha oposta dessas bandas e explodiu – literalmente – tudo que os anos 1980s representavam. De alternativo, agora o grunge passou para o main stream, também se multiplicando em sósias. É uma excelente aula de história da música. E sério, você vai querer rock non-stop quando acabar. Super recomendo!
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
