Há anos pareço um disco arranhado sobre o “novo estilo de documentário” que é nada mais do que calculada propaganda. A falta de respeito e até irresponsabilidade de profissionais que assinam campanhas de pessoas que “querem mudar narrativas”, para mim, chega a ser criminoso. Não sou a favor de proibir as pessoas de contar a história como acham que devem, mas me assusta como não há contrapontos para que o público esteja ciente do que está consumindo. Hoje é aniversário de morte de John Lennon, assassinado covardemente há 43 anos quando chegava em casa. E a Apple TV Plus disponibiliza o incompreensível John Lennon: Murder Without a Trial que dá destaque ao assassino, questionando motivos e até o fato de que até hoje não foi solto. Honestamente, são outros 5 tiros no legado que Lennon deixou.

Dividido em três episódios, há curiosidades para os fãs: os registros de um John Lennon exuberante, feliz, animado pela vida que poderia recomeçar aos 40 anos, vivendo em Nova York e se dedicando à causas humanitárias. Um músico que tinha passado os últimos 5 anos dedicado à sua família, ganhando um merecido espaço depois de ter sido febre global como fundador dos Beatles. Tristemente, descobrimos que suas últimas palavras foram de confusão e tristeza. “Fui baleado”, disse antes de cair no chão sem ao menos entender o que houve. E aqui está a questão: por que Michael David Chapman o matou?
O título suspeito da obra é referente ao fato de que o assassino se recusou a apelar para insanidade, assumindo ser culpado e portanto eliminando a necessidade de um julgamento. A discussão que sugere complôs da CIA e até a efetiva insanidade de Chapman é o que o documentário se propõe a fazer, basicamente nos pedindo a considerar que ele se arrependeu, que ele era louco e que seus pedidos de liberdade condicional negados nos últimos 23 anos, merecem ser ouvidos. Em que mundo estamos vivendo?


A falta de sensibilidade de colocar um conteúdo como esses na plataforma justamente na data do crime mostra a que ponto as plataformas vão para usar o algoritmo. Inclusive colocam um fã sugerindo que Lennon teria perdoado Chapman. Prefiro a resposta de Yoko Ono, que menciona o gesto de Joao Paulo II com seu agressor: “Não sou o Papa”, ela diz resumindo tudo. John Lennon não sobreviveu à calculada ação de Michael David Chapman naquela noite de 8 de dezembro de 1980. Ele teve sua voz calada covardemente por um homem que nem tinha motivos profundos para fazer o que fez. Por essa razão é que ele tem tido os pedidos de condicional negados e é um absurdo que a Apple faça campanha por ele. Porque é isso que John Lennon: Murder Without a Trial se propõe: humanizar o assassino do artista.
Para homenagear John Lennon, prefiro ouvir sua música. Se perder esse documentário, não estará fazendo nada mais do que ganhar seu tempo. E respeitar o ídolo.
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