Os 70 anos de um balé assinatura de Balanchine: O Quebra-Nozes

É aquela época do ano na qual Tchaikovsky é a trilha sonora nas quatro partes do mundo. Em 2022, lembramos os 130 anos da primeira produção de O Quebra-Nozes assim como várias curiosidades sobre a obra. Pois bem, a versão mais clássica – para alguns (como eu) a imbatível – é a versão de George Balanchine que em fevereiro de 2024 completa 50 anos.

Criada para o New York City Ballet e usando muito da lembrança dos natais que coreógrafo viveu como criança na Rússia, a produção é considerada um programa obrigatório de Natal e confesso, porque vi ao vivo no Natal de alguns anos atrás, é mesmo emocionante. Ela está em cartaz e é uma das coisas mais perfeitas criadas por Balanchine, filmada em 1992 e atemporal.

Quando estreou em 1954, eram 90 bailarinos, 62 músicos, 40 ajudantes de palco e mais de 125 crianças, todas estudando na School of American Ballet. Isso mesmo: é o balé que marca todo profissional da dança, que, invariavelmente, em algum momento, dançou O Quebra-Nozes ainda pequeno. Por isso também é tão mágico, como a árvore de cerca de 12 metros de altura que marca o começo do sonho de Clara. Seja na platéia ou no palco, a reação é a mesma, garanto. Doce, feliz e esperançosa. 

Dentre todos os clássicos, essa obra de dois atos e um prólogo é a que marca a tradição mundial ao redor do mundo de montar O Quebra-Nozes. No caso de Balanchine, é também um dos mais complexos do repertório da Companhia. 

Outro destaque, embora algumas vezes eu não tenha curtido, são os trajes coloridos criados por Karinska, assim como os cenários mágicos de Rouben Ter-Arutunian. Cada cor, forte ou pastel, reflete uma memória do criador, alinhado com elementos do palco e uma iluminação projetadapara intensificar a imaginação com efeitos visuais frequentemente aplaudidos em cena aberta. Seja a neve que cai no primeiro ato, a árvore de Natal que cresce de 4 para 12 metros em uma cena importante, a figura cômica da Mãe Ginger do alto dos quase três metros de largura e uma saia que demanda nada menos que um time de três pessoas para movimentar, o que não falta são momentos de suspiro.

No primeiro ato, na festa de Natal dos Stahlbaum, Marie (Clara) e Fritz, brincam com amigos e anseiam pelas trocas de presentes. O padrinho de Marie, Herr Drosselmeyer e seu sobrinho, trazem bonecos de tamanho natural, mas é o pequeno quebra-nozes que encanta a menina. Fritz o quebra, Drosselmeyer o conserta, mas depois que todos se vão, ela volta sozinha até a sala para dormir perto do brinquedo. Em um sonho ultra real, ela encolhe para o tamanho onde fica de igual estatura dos bonecos e dos ratos, que atacam. Ela é salva, claro, embarcando numa viagem mágica ao mundo dos doces antes de acordar na sala na dúvida do que “realmente” aconteceu.

No segundo ato, Balanchine fez mudanças importantes. O solo da Fada Açucarada é um dos primeiros movimentos do segundo ato e o pas-de-deux, depois de uma estonteante Valsa das Flores (cuja primeira solista foi a encantadora Tanaquil LeClerc) é um desafio da física para os dançarinos. Por isso vale buscar o filme com Macaulay Culkin para entender uma parte do que estou descrevendo. Podem até ter 70 anos, mas não envelheceu em nada.


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