Falamos com tantos elogios que Bertha Russell (Carrie Coon) se espelhava em Alva Vanderbilt, destacando a tenacidade e grandes vitórias da milionária transformada em feminista que em geral passamos batido pelo fato de que, para ascender socialmente, Alva “vendeu” a filha Consuelo em um casamento sem amor com um Duque britânico. A matriarca se arrependeu anos depois e ajudou no processo de anulação da união, mas isso depois de que a filha já tinha filhos e vivia uma relação de pura infelicidade longe de seu país e amigos. Consuelo nunca se casou com quem queria originalmente e embora tenha até sido feliz mais tarde na vida, certamente ‘perdeu’ bons anos em uma estratégia que só serviu ao marido (que ficou com a fortuna para reformar seu palácio) e sua mãe (que temporariamente voltou a ter prestígio nas festas em Nova York). Um tropeço que em The Gilded Age nos faz questionar: Bertha é vilã ou apenas ambiciosa?

Os sinais estavam claros desde o início, com a chegada de Bertha depois de construir uma das maiores e mais caras mansões de Manhattan, desfilando etiqueta e tentando fazer novas amizades. George (Morgan Spector) faz as vontades da esposa, sem levar muito a sério a dedicação e foco dela para ascender entre as famílias de “velho dinheiro”, não importa o custo. Ela explica de cara que descartou todos os amigos anteriores porque eles não “serviam mais”, querendo “novos amigos”. Parece pouco, mas ao dizer que amigos tem “utilidade” sempre foi um detalhe relevante para contextualizar as relações de Bertha: elas tem um propósito material. Sempre.
No embate de sua ascensão, como sempre, George investe dinheiro e compra quem está à venda, mas em alguns casos não foi o suficiente. Caroline Astor (Donna Murphy), por exemplo, não precisava de nada materialmente e só precisou conceder quando Bertha manipulou sua filha, a excluindo de uma festa em que todos os outros foram convidados, para dobrar a matriarca de Nova York. Esse embate tomou a primeira temporada e nós estávamos torcendo por Bertha, afinal, ela queria ser aceita, fazer festas e ser popular. Os sinais estavam lá.
Desde o início também somos informados de que na casa dos Russells quem manda em tudo e todos entre as quatro paredes é Bertha, George pode eventualmente tentar argumentar a favor dos filhos, mas a chefe é ela. Em especial com Gladys (Taissa Farmiga) que ela “protege” de interesseiros e diz que tem sonhos altos para ela. Que Oscar Van Rhijn (Blake Ritson) nunca serviria, até nós sabíamos, mas qualquer outro candidato, mesmo com sobrenome ou fortuna, também não estava à altura do plano secreto de Bertha. Nem George sabe o que ela quer.

O paralelo de The Gilded Age com a vida dos Vanderbilts segue quase passo a passo o drama real de Alva e Consuelo, por isso quando o Duque de Buckingham (Ben Lamb) entrou na trama, já sabíamos onde iríamos parar. A questão é, de alguma forma, ninguém ainda pescou o que Bertha está fazendo e agora entendemos como uma parceria tão alinhada com George vai degringolar. Uma coisa é fazer festas gastando dinheiro, outra é prometer sua filha a um nobre falido apenas porque quer ter prestígio e títulos. Pois é, se continuarmos com a séries (é uma aposta quase segura de que sim), não teremos como defender Bertha pois ela ultrapassou os limites do razoável. Sabe quem parece um doce perto dela? Você acertou se repensou em Enid Turner (Kelley Curran).
Então o que vem para Bertha?
Sua briga com Caroline Astor vai ser a menor de todas as dores de cabeça. Na vida real, o marido de Alva se apaixonou por outra mulher e ela teve a ousadia de pedir um divórcio, apenas para descobrir que a sociedade apoiava à ele e ela teria voltado à estaca zero, sem receber convites para mais nada. Ela reverteu o quadro casando Consuelo com o Duque de Malborough, criando um evento que toda sociedade nova iorquina quis participar. A moça não aceitou facilmente a imposição, pois estava apaixonada por outro. Fez greve de fome, se trancou no quarto e se recusou até Alva alegar que estava doente e para morrer, o que fez a filha mudar de posição e aceitar o casamento, chorando copiosamente durante toda cerimônia.


Casada novamente, Alva eventualmente se envolve com Política e passa a ser defensora do Voto Feminino e outras causas feministas, se arrependendo amargamente do que fez com Consuelo. A vida da filha foi marcada por muita infelicidade pois o Duque usou sua fortuna para restaurar o palácio da família e tinha uma amante por quem era abertamente apaixonado. Mesmo com dois filhos, Consuelo pediu que seu casamento fosse anulado pelo Vaticano, para poder voltar a se casar. Alva testemunhou a favor da filha, assumindo o papel manipulador e de pressão para que Consuelo se casasse contra a vontade. Só assim mãe e filha se reconciliaram. Ou seja, material para duas longas temporadas de The Gilded Age!
Outro aspecto “vilanesco” de Bertha foi quando interferiu na vida de Larry, quando ele estava apaixonado por Susan Blane (Laura Benanti). Desde o segundo que se conheceram, Bertha percebeu o olho da viúva em seu filho e a chamou de “velha”, sempre deixando claro que não estava aprovando a relação. Também para Larry foi sincera quanto ao desagravo sobre vê-lo abertamente com uma mulher imprópria para se casar. Quando chegou aos seus ouvidos que todos estavam falando a mesma coisa, antes que o escândalo crescesse, teve uma conversa franca com Susan onde a viúva optou em ceder e se afastar do rapaz. Não precisa de muito para saber que Susan ainda vai reaparecer na vida dos Russells.

É onde entra Marian Brooks (Louisa Jacobson), por quem Bertha aparenta ter carinho, mas não é próxima. Bertha sabe que Marian sempre foi uma das que a apoiou e enfrentou a velha guarda para estar com os Russells, mas, quando Tom Raikes estava em tese comprometido com Marian, Bertha não teve a menor dó ou sororidade ao excluir a jovem e convidar o advogado quando precisava de um homem para deixar os números pares em um evento. Foi assim que Raikes conheceu a mulher por quem abandonou Marian, ou seja, via Bertha, que jamais mostrou nenhum arrependimento ou sequer conhecimento do que estava acontecendo. Isso porque foi Marian que conseguiu a informação que salvou os negócios de George quando ele foi acusado de corrupção. Até Marian, para Bertha, é apenas útil.
Nessa segunda temporada, quando estava sendo traída e perdendo o Duque de Buckingham, Bertha quase acusou Turner, mas foi Marian que revelou que Warden McCallister (Nathan Lane) era o que estava atrapalhando tudo. Provavelmente o convite de Marian ao camarote do Metropolitan deve ter sido o que julgou ser um reconhecimento suficiente. E na terceira temporada teremos que descobrir se ela vai considerar Marian um bom partido para Larry.
Isso mesmo, com o beijo do nosso casal favorito, um tanto corrido para duas pessoas que mal tinham saído da zona de amigos, Marian e Larry são o foco principal do aspecto romântico da história. Agnes seria contra porque Larry é “dinheiro novo”, mas agora sua voz não tem volume e ela sabe que Marian já teve duas chances, a terceira é a última e terá que se conformar. Já Bertha, eu estimava que fosse achar que Marian seria ‘pouco’ para Larry, no entanto as coisas mudaram. Não apenas Marian tem nome, como agora com Ada rica, é herdeira assumida da tia. Ter sido noiva rapidamente de Dashiell Montgomery (David Furr) não é necessariamente um problema, mas nunca se sabe. O fato é que Larry dificilmente abrirá mão de Marian, que é determinada como a própria Bertha e que tem o apoio de George, afinal, foram DUAS contribuições diretas para ajudar os Russells. Por isso muitos acham que na verdade Bertha vai aprovar o casamento. E eu reforço, agora que Marian é herdeira. Antes, não.


E quem pode parar Bertha Russell além de Enid Turner? A ex-governanta está determinada a batê-la no jogo, tem um marido que a apoia e quem sabe se associa à Susan Blane? Inimigos não faltam, o que Bertha ainda não percebeu é que em breve pode perder a única pessoa ao seu lado: um cada vez mais desconfiado George Russell…
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