Um Assassinato no Fim do Mundo nos deixou pensando do início ao fim, um mérito criativo que nos faz relevar a mensagem e algumas falhas narrativas de toda jornada. Isoladas em um retiro que é marcado por mortes misteriosas, as mentes mais brilhantes do mundo são incapazes de decifrar quem é o assassino e menos ainda, por que começou a matar. E sabe o que mais? Todos acertamos em parte, a surpresa é justamente a razão.

Então, assim como Darby (Emma Corrin), muitos agora apontam os dedos para o bilionário abusivo Andy (Clive Owen) como o grande culpado de todas as mortes. O problema é que ele insiste em sua inocência. Em um clássico momento onde todos os suspeitos estão na mesma sala, discursando e discutindo, se justificando e acusando, descobrimos que muitas teorias estavam certas. Zoomer (Kellan Tetlow) foi o assassino físico de Bill (Harris Dickinson) e Rohan (Zaved Khan) porque foi induzido pelo jogo eletrônico comandado pela Inteligência Artificial, Ray (Edoardo Ballerini). Sian (Alice Braga) foi apenas um acidente de quebra de segurança.
A razão de tudo, como descobrimos, é que Ray considerou Bill e Rohan ameaças de segurança à Andy e seu programa é feito para protegê-lo em qualquer circunstância. Ao ter acesso aos pensamentos mais íntimos de seu criador – que desejou a morte do pai biológico de Zoomer, mas jamais o mataria literalmente – a IA foi ‘brilhante’ em eliminar os riscos. Para Andy, o risco colocado por Bill nem era brigar legalmente pela criança, mas o fato de que ele estava ajudando Lee (Brit Marling) sequestrar a criança. Portanto, todos ficam meio que abismados mas poderiam tecnicamente acusar Andy por um crime que ele jamais oficialmente encomendou? A IA que se antecipou baseada em dados, não sentimentos. Quem é mesmo o culpado? Zoomer”Andy? Ray?

Bom, ainda há um problema. Eles estão isolados e sob o controle da IA, o que une as duas hackers Darby e Lee para “eliminar” Ray, o que ajudaria Lee a fugir, mas também elimina as provas dos crimes. Seja como for, Ray é apagado, Lee foge com Zoomer, e nos despedimos com a leitura do novo livro de Darby, Retreat, que reconta mais esse crime elucidado por ela. E em uma linda declaração póstuma de amor, reforçando o que Bill disse arrasado há alguns episódios, ela só o amou de verdade depois que ele morreu.
Em geral, gostei de Um Assassinato no Fim de Mundo, mesmo com crateras na narrativa e até momentos cafonas, para deliberadamente tentar confundir a gente. Embora pareça infantil, algumas das mensagens típicas do cinema que sempre coloca a tecnologia como vilã por não lidar com sentimentos, não deixou de ser uma opção curiosa de que em em um “whudunit” (quem matou) importa menos do que whydunit/ por que matou. Afinal, fisicamente o nosso assassino não é culpado porque Ray, usado por Andy como terapeuta pessoal em um momento de solidão, foi “acidentalmente corrompido” por um rompante de pensamentos sombrios de seu criador, que levou a IA considerar Bill uma ameaça à segurança. Dessa forma, fica o questionamento do uso de tecnologia “exagerado” e como máquinas são perigosas por juntarem pensamentos sem o contexto dos sentimentos. Portanto, todos são culpados em um sistema alimentado por diferentes dados que interferem no destino de nossas vidas.


A série deixa em aberto que Darby Hart possa a ter mais aventuras, afinal, a essa altura ela tem dois best-sellers e um público fiel. Emma Corrin já anunciou que topa continuar. Só espero que Darby nos mostre efetivamente sua habilidade de detetive e menos de narradora, mas quem sabe ela evolui? Eu só fico com pena porque não teremos mais Bill Farrah e ele sim, foi a personagem mais interessante de toda história.
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
