2023: incertezas e fusões marcaram Hollywood

Como publicado no CORREIO DO ESTADO

Quando chegamos a dias do final do calendário anual baixa a nostalgia e uma imediata vontade de listar positivos e negativos. Eu não vou falar de “melhores de 2023” porque fiz isso ao longo do ano, não precisamos de retrospectiva, não é? Vamos olhar pra frente.

Para quem acompanha as movimentações do mercado de cinema lembra que 2023 foi um tanto bizarro: nada menos do que DUAS greves que paralisaram Hollywood: roteiristas e atores pleiteando atualizações de salários e direitos, mas, sobretudo, ambos apavorados com a utilização de Inteligência Artificial, que pode (ria) fazer com que humanos se tornassem irrelevantes. Essa visão se traduziu na eterna fórmula na qual a IA é a vilã, reforçada em Missão: Impossível e outros filmes e séries. A realidade é mais complexa do que isso e estaremos ainda acompanhando o desenrolar dessa luta de tecnologia versus Arte.

Fazer cinema é para os fortes. São anos trabalhando em um mesmo projeto, lidando com egos e orçamentos, estratégias e competição. A pandemia também deu força a outro ‘inimigo’ dos filmes: as plataformas digitais. Dessa vez, até a TV que brigava com o Cinema se uniu à ‘ameaça’ de consumo. Uma batalha inglória que só o bolso pode mudar o resultado. O conforto de ver o que quiser, como quiser e em casa foi essencial quando realmente era impossível sair e se sociabilizar. No caminho, grandes diretores inverteram algumas máximas como o que chamo de “poder de concisão”. Pelo visto, ninguém mais consegue contar uma boa história em duas horas, menos ainda de forma linear. Todos os grandes sucessos de bilheteria somam 3h de projeção e eu juro que não vi nenhum filme que justificasse isso, nem Oppenheimer ou Assassinos da Flor da Lua. Sou da minoria que achei muitas cenas arrastadas e até desnecessárias para o que precisávamos saber, mas ei, não discuto Arte. Filmes lindos, poderosos e que fizeram sucesso.

Outra mudança forte em 2023 que acompanharemos desenrolar em 2024 são as temidas fusões dos estúdios e plataformas. Elas impactam diretamente em empregos cortados e menos produções aprovadas, ou seja, menos conteúdo. Há quem pergunte se precisamos de tanta coisa e tenho certeza que você, como todo mundo, sentiu uma certa angústia de não estar conseguindo acompanhar tanto lançamento simultâneo. Pode ficar tranquilo, isso acabou. E parte porque, ao multiplicarem as plataformas, o consumidor se empolgou no início, mas sentiu o aumento do gasto e já está reduzindo novamente.

Netflix se mantém soberana nessa guerra, tendo sempre mantido vanguarda e liderança. Por exemplo: fora The Crown, com seis temporadas, nenhuma outra série original da plataforma sobrevive tantos anos. E não é problemático porque assim mantém o frescor de lançamentos, selecionando seus investimentos regidos pela novidade. O público jovem é fiel à plataforma e ela fechou o ano sem passar por crises ou atrasos de entrega como as outras, que foram atingidas pelas greves. Por outro lado, gigantes como a Disney estão penando com a queda da valorização dos super-heróis, desgastados com 50 mil séries que abriram tantos multiversos que passou a ser irrelevante estar acompanhando todos. Com o estúdio aparentemente à venda, a Star Plus vai deixar de existir (seus filmes e séries passarão para a Disney Plus) e claro que isso significa que teremos menos lançamentos em ambas plataformas. Sinto bastante pois sou consumidora ferrenha da Star Plus, vocês sabem. A HBO também virou Max, foi comprada pela Discovery e pelo que parece em 2024 vão abocanhar também a Paramount Plus (outra que tem apresentado ótimos conteúdos). Pois é, de muitas, teremos menos ofertas em breve. Amazon Prime Video e Apple TV Plus, cujo negócio não é exclusivamente audiovisual, não parecem afetadas diretamente. Por hora.

Sei que soa como um futuro medonho para 2024, mas não é. Teremos de janeiro a junho a temporada das premiações, com tapetes vermelhos e a coroação de novos talentos. A onda de biopics, filmes biográficos, assim como o consumo de true crime se mantém forte, mas algo de novo certamente vai surgir. Para quem tem preguiça de sair para salas de cinema, a janela de espera foi reduzida de três meses para máximo de semanas, então é a questão de escolha pessoal. E isso é ótimo!

Estou animada pelo que vem pela frente. Agradeço a companhia de vocês mais uma vez, desejo ótimas festas e nos vemos aqui semana que vem! Falando, é claro, de Hollywood!


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