Há 165 anos, um romancista mudou o jogo do tarô

Para quem gosta de tarô, o nome Peladan é imediatamente associado ao jogo rápido que usamos para as perguntas de ‘sim’ e ‘não’. Criado por Joséphin Péladan, o romancista, crítico de arte e aspirante a guru que ganhou grande destaque na Paris de 1890. Sua confiança era tanta que se Le Sâr, Sâr Mérodack, em homenagem à antiga palavra acadiana para “rei.” Mais ainda, andava com uma capa branca esvoaçante, uma jaqueta azul, uma gola de renda e um chapéu de Astrakhan, combinados com com cabelos longos e barba de duas pontas. Isso mesmo, uma figura e a imagem de um Mago. Tirando isso, seu método de leitura é até hoje um dos mais populares.

Nascido em 1859 em Lyon, filho de um jornalista que havia escrito sobre profecias e fundador do rosacrucianismo e catolicismo universalista, antes de ser um “mago”, Joséphin ser tornou crítico literário e de arte, mas toda sua família era curiosa por alquimia e ocultismo. Sem surpresa, quando começou a escrever seus romances, manteve o tema no centro de suas histórias. Seu primeiro, Le vice suprême, recomendava a salvação do homem através da magia oculta do antigo Oriente. Sucesso absoluto!

Isso porque naquele período, o final dos anos 1880s, havia muito interesse por temas de espiritualidade e misticismo e o autor se baseou nos princípios inspirados na ordem dos Rosacruzes de Toulouse. Quem o iniciou foi seu irmão, Adrien, e eles tinham a meta de fazer o bem no mundo e alcançar ideais espirituais. E circulando nesse meio, ele conheceu Gérard Encausse, com quem desenvolveu a a Ordem Cabalística da Rosa-Croix (Ordem Cabalística Francesa de Rosa-Croix, O.K.R.C.).

Embora a parceiria não durasse para sempre, a proposta era mesclar os ensinamentos cabalísticos com misticismo, e a ordem chegou a conceder diplomas universitários sobre temas esotéricos. Em 1892, com a exposição Salon de la Rose + Croix, abraçou o movimento simbolista dando ênfase em suas formas sobrenaturais, alcançado o máximo de fama e de crítica também. Poucos anos depois, antes de sua morte, em 1918, muitos já riam de Joséphin Péladan e outros o acusavam até de adepto da magia oculta.

Estudiosos do Simbolismo e artistas como o compositor Erik Satie reverenciavam Péladan (antes de brigarem), com historiadores apontando o ‘mago’ como um dos vanguardistas da arte moderna. Afinal, ele acreditava que a arte com mensagens e símbolos espirituais codificados poderia despertar a ascensão espiritual e muitas obras seguiam o conceito.

Por volta dos anos 1900s, Péladan deixou de assinar como Sâr Mérodack, decepcionado com a reatividade à sua proposta. No total, deixou um bibliografia de mais de 100 títulos e sempre ligado ao esoterismo. O jogo de tarô que leva seu nome usa apenas 5 cartas, Arcanos Maiores, em formato de Cruz e que permite uma avaliação direta da questão. Ele morreu há 105 anos, de intoxicação por frutos do mar combinada com pneumonia. Sua imagem nunca recuperou credibilidade, mas seu jogo? Bom, é um dos mais eficientes e populares do tarô. Acho que ele gostaria desse legado.


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