A longevidade da banda The Who é inegável. Em 1964, quando adotaram o nome, já estava na estrada há pelo menos dois intensos anos com outro nome, claro. Por isso que 2024 é, oficialmente, o ano de seu sexagenário. Isso mesmo, estão juntos há 60 anos. E merece o post porque não apenas foram contemporâneos dos The Beatles e Rolling Stones, foram ainda mais porque, com justiça, são considerados uma das bandas de rock mais influentes do século 20, com contribuições artísticas e técnicas para o rock como nenhum outro grupo. Pois é, quem? The Who.

Como todas as histórias de bandas, tudo começou no colégio, onde Pete Townshend e John Entwistle conheceram Roger Daltrey. Townshend e Entwistle tocavam juntos, mas mais focados em jazz. Depois que Daltrey foi expulso da escola, com apenas 15 anos, ele fundou o grupo Detours, a base do que viria ser o Who. Ele já tocava profissionalmente quando por acaso encontrou Entwistle na rua, carregando um baixo e o chamou para tocar no Detours. Logo depois, Townshend foi recrutado como guitarrista. Apoiados pela família do guitarrista, que era de músicos, eles foram avançando aos poucos e encontrando seu estilo, mudando o nome profissional para o que tem hoje.
A virada mesmo veio quando o baterista Keith Moon entrou para o The Who, com apenas 19 anos. A energia que ele trouxe para a música mudou não apenas o som do grupo, mas do rock em geral. A essa altura, a banda já estava em sua meta de conseguir contrato com gravadoras e mudando de empresários. Unindo ótimas melodias, letras e um som pesado com uma estética da subcultura mod (até hoje uma cara britânica que mescla música, alta costura e penteados desgrenhados), o The Who foi ganhando popularidade.
Além da assinatura ‘tresloucada’ de Moon na bateria, que incluía jogar as baquetas para o alto no meio da batida, todos os membros tinham alguma assinatura anticonvencional no palco: Daltrey começou a usar o cabo do microfone como chicote, ocasionalmente saltando no meio da multidão e Townshend usava a guitarra imitando uma metralhadora enquanto pulava no palco e tocava com um movimento rápido de girar os braços. Também criou o que passou a ser conhecido como “homem pássaro”, quando elevava os braços e os mantinha erguidos para produzir feedback com a guitarra. Talvez a “assinatura” mais clássica do grupo, que passou a ser imitada ao redor do mundo por roqueiros (até hoje) tenha sido “quebrar a guitarra”, um acidente que mudou o rock. E que aconteceu há 60 anos. Durante uma apresentação, Townshend acidentalmente quebrou a cabeça de sua guitarra no teto baixo do palco e se irritou com as risadas do público, decidindo a quebrar o instrumento no palco antes de pegar outro e continuar o show. A reação do público foi o surpreendente: gostaram tanto do gesto, que passaram a esperar a repetição em todos os shows. Para ficar ainda mais icônico, Moon passou a chutar sua bateria também. Arte autodestrutiva se tornou assinatura do The Who no palco.


Essa veia artística é sempre atribuída aos anos de Townshend na escola de arte que deram a formação experimental a ele. Logo passou a ser o principal compositor e eventualmente assumiu a liderança do grupo. The Who passou a sempre estar à frente e experimentar, criando uma expectativa constante em o que fariam em seguida. No final de 1964, a banda consquistou o reconhecimento da crítica e o mundo, com um contrato com a gravadora Decca Records distribuindo sua música nos Estados Unidos também.
Um dos fatores da longevidade do The Who talvez esteja no fato de que os músicos efetivamente nunca foram amigos íntimos o que os ajudou a superar as inúmeras brigas e diferenças focando na música e no trabalho. Ainda antes de ‘explodirem’ também decidiram que funcionariam democraticamente sem uma liderança única. Coisa rara em grupos de rock mas funcionou com eles.

My Generation, em 1965, determinou a entrada do The Who para a História do rock. A ópera rock Tommy, de 1969, é “apenas” outro clássico que confirma a originalidade do grupo e sua posição de um de maiores influenciadores de várias gerações desde então. Quando começaram os anos 1970s, o The Who era reconhecida como uma das melhores e mais populares bandas de rock ao vivo.
Drogas, álcool e brigas fizeram parte dos bastidores como em muitos outros grupos, mas a dependência química de Keith Moon, culminada por sua morte por overdose em 1978, marcou o que muitos consideram o fim do “verdadeiro” The Who. Como sabemos, a banda superou o trauma e entre idas e vindas, separações e reuniões, seguiu em frente. Com a morte de Entwistle em 2002 (do coração, com o uso de cocaína atribuído como fator preponderante para o infarto), o The Who passou a ser efetivamente o duo Daltrey-Townshend, que tocou no Rio de Janeiro em 2017. Eles alegam que depois de mais 50 anos, hoje são melhores amigos. Segundo Townshend, aceitar suas diferenças “nos trouxe um relacionamento realmente genuíno e compassivo, que só pode ser descrito como amor”. Um amor retribuído por fãs de todas partes do mundo e de todas gerações.
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
