Quando começamos 1984 com Prince e Tina Turner dominando as paradas mas, a partir de outubro, o mundo virou palco de uma única artista: Madonna. Ela já era conhecida desde 1982 e cada vez mais popular, mas, com Like a Virgin, Madonna virou a mulher mais famosa e fotografada do planeta (ao lado da Princesa Diana), com uma multidão de meninas copiando seu guarda-roupa, maquiagem e cabelo. Nada que tenha agradado aos pais, afinal eram rendas, soutiens, pulseiras e outras roupas provocativas. Nada que comparasse ao choque de ouvi-la cantando que era ‘como uma virgem’. Isso mesmo, há 40 anos Madonna virou um fenômeno cultural.

Incrível como quatro décadas se passaram tão rápido. Like a Virgin não é o melhor da discografia de Madonna, mas, como seu segundo álbum é significativo. Ele contém nada menos do que três de seus maiores sucessos até hoje – Like a Virgin, Material Girl e Dress You Up – e, numa segunda leva incluiu também Into the Groove. Ou seja, qualidade que supera o teste do tempo.
Madonna sempre teve a ambição de ser a pessoa mais famosa do planeta e seu álbum de estreia, embora vendido bem (e com sucessos como Everybody, Boderline e Holiday), não tinha um som unificado (vários produtores) e não a tinha colocado em primeiro lugar nas paradas, o que era necessário. Por isso, quando chegou a hora de gravar, ela escolheu ninguém menos do que Nile Rodgers, da banda Chic, para produzir o álbum. Afinal, com Niles prouzindo Let’s Dance, David Bowie estava fazendo sucesso na época.
Assim como em Madonna, a cantora trouxe composições próprias para o estúdio, nada menos do que seis das 10 faixas. Gravou três canções de outros e um cover, com Angel sendo a única das originais que sobrevive ao tempo. A partir de True Blue, Madonna foi se estabelecendo como produtora e compositora, talvez por isso até hoje, por ter que tocar as canções de Like a Virgin, as altere tanto e nem sempre pareça empolgada. Afinal, ela não gosta de compartilhar a atenção.


Gravado no famoso Power Station, Like a Virgin teve a base de músicos do Chic: além de Niles, Bernard Edwards (baixo) e Tony Thompson (bateria) estão em várias faixas. Love Don’t Live Here Anymore é poderosa por causa deles. Todos ficaram impressionados com o foco e profissionalisto de Madonna, cujo perfeccionismo impressionou quem ainda não a conhecia.
Embora suas canções fossem ‘aprovadas’, nenhuma delas tinha potencial de single, por isso Like a Virgin foi tão bem aceita. A voz da estrela está com muito efeito, mas sua malicia é perfeita para a duplicidade da letra. Outro hit, Material Girl – que Madonna veio a detestar porque embora a mensagem seja antimaterialista, até hoje a chamam assim – também usou a voz robótica repetindo o refrão e Dress You Up, que foi a última faixa a ser adicionada ao álbum, dançante e leve, que mais tarde Madonna usava para abrir seus shows. As três foram exploradas por brilhantismo nos únicos vídeos do álbum: Like a Virgin gravado em Veneza, com Madonna dançando em uma gôndola; Material Girl refilmando Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras e Dress You Up, com Madonna cantando ao vivo e promovendo a turnê Virgin Tour.



Mas o que ficou ainda mais marcante em Like A Virgin foi a parceria de Madonna com o fotógrafo fashion Steven Meisel, que trabalhou com ela em imagens hoje icônicas. Aqui a cantora já começava sua assinatura de pop e Arte, assim como sua imagem sexy e provocativa, vestida de noiva na capa, deitada na cama com um buquê no colo, maquiagem pesada e aludindo ao fetiche de pureza e pecado. Na contracapa, de preto, com a cama desfeita e lençóis de cetim, Madonna já é uma mulher dominando, não mais a noiva que em vez de virtude, passa a mensagem de desejo. Mais ainda, seu cinto de fivela e os dizeres de “Boy Toy”, que causou incômodo entre os conservadores. E olha que ainda era uma Madonna quase casta!
A partir da capa de Like a Virgin, Steven Meisel se tornaria um colaborador regular de Madonna. Esse trabalho foi fundamental para estabelecer a ‘moda Madonna’, o epítome do cool nos anos 1980s, considerado também uma das imagens libertadorass e mais influentes da cultura pop e da moda, imortalizando Madonna.
Com Like a Virgin, Madonna quebrou a barreira e quebrou o recorde como o primeiro álbum feminino da história a vender mais de cinco milhões de cópias nos Estados Unidos e ainda hoje é um dos mais vendidos de todos os tempos, ultrapassando a marca de 21 milhões de cópias em todo o mundo.

A partir de 1984, Madonna virou a maior estrela internacional, direto nas rádios e na MTV, que soube explorar como poucos. Em 2023, o álbum foi selecionado para preservação no Registro Nacional de Gravações dos Estados Unidos pela Biblioteca do Congresso como sendo “culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo”.
Embora tenha sido gravado em abril de 1984, a gravadora segurou o álbum até o fim do ano, para dar maior chance ao álbum Madonna, frustrando a estrela tremendamente. Like a Virgin chegou ao topo da parada em menos de seis meses, sendo o mais tocado em 1985. Em setembro de 1984, Madonna fez história no primeiro MTV Video Music Awards, cantando a canção título, aparecendo no palco em cima de um bolo de casamento gigante vestida com um vestido de noiva e usando o agora famoso cinto “Boy Toy”, simulando um orgasmo no final da apresentação.
Depois de ser capa da revista Time e estrear no cinema, Madonna conseguiu o estrelato que queria, mas, mais importante conseguiu se estabelecer como ícone. Aos 24 anos, era uma mulher no controle de sua vida e carreira sexual, inspirando adolescentes ao redor do mundo, provando ter versatilidade mesmo fora das pistas de dança e Like a Virgin foi considerado um dos melhores da década e o principal de uma artista feminina. Musicalmente não é o ponto alto da artista que hoje Madonna é, mas abriu o caminho. E mais importante, foi o trabalho que colocou Madonna no trono, ainda hoje mantendo o reconhecimento de Rainha do Pop.


Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

1 comentário Adicione o seu