A profundidade e beleza da série Expatriadas não têm sido destacadas com merecido mérito. É uma série que retrata com sensibilidade e muita objetividade personagens comuns de toda sociedade, ressaltadas em um cenário exótico onde pessoas de diferentes culturas se cruzam. São pessoas carentes, co dependentes, perdidas, sofridas, egoístas e bondosas, numa Hong Kong onde os contrastes sociais e culturais são vividos quase com indiferença.

No penúltimo episódio da série, as três mulheres que interferem em seus destinos – Margaret (Nicole Kidman), Hillary e Mercy – chegaram à encruzilhada de suas vidas. E a solidão é o que une todos ao seu redor (mesmo que estejam sempre acompanhados). Infelizmente não estamos perto de entender ou descobrir o que houve com o pequeno Gus, mas seu desaparecimento será uma ferida na trajetória de todos, inclusive da plateia.
E aqui entra o bom gosto da produção e da mão firme da diretora Lulu Wang, com uma trilha sonora sempre precisa. Desde a cena onde Hillary e Margaret dançam Heart of Glass, de Blondie quando ainda a estávamos compreendendo e conhecendo à abertura do episódio com Roar, de Kate Perry, nos assegurando suavemente que ‘tudo vai ficar bem’, ela fecha um episódio sufocante, úmido e angustiante com um clássico country dos anos 1970s, que é de quebrar nosso coração: We Are All Alone.
A canção de Boz Scaggs foi gravada por ele e Frank Valli, mas ficou mundialmente famosa na aveludada e linda voz de Rita Coolidge, com várias regravações desde então. A letra é sobre, obviamente, solidão, algo que em algum momento todos em Expatriadas sentiram e expressaram no episódio. Embora ela narre a história de um casal apaixonado que se estão sozinhos no mundo, é sobre encontrar conforto um no outro, mesmo com todos desafios da vida. Uma escolha perfeita de Lulu Wang para o episódio.
Sem surpresa, Boz Scaggs se inspirou na dor de seu divórcio que o fez se sentir solitário, usando We’re All Alone como sua forma de lidar com a dor da separação, inserindo a esperança de que o amor será a salvação.


Na série, o episódio se passa em uma noite de temporal severo em Hong Kong, que isola as personagens e ao mesmo tempo as une, algo que a abertura da canção – Lá fora a Chuva começa – uma metáfora para melancolia batendo, mas ao mesmo tempo, literal no que estamos vendo, sendo que nos dois casos, a chuva também é o símbolo de todas as dificuldades e sentimentos de vidas complexas e desafiadas.
E, amarrando tudo, ela canta no final a paradoxal frase Estamos todos sozinhos juntos, que é exatamente o que lindo episódio de Expatriadas nos mostra como é possível. Só falta entender se teremos uma solução realista ou edificante. Ou as duas coisas. Seja como for, estaremos menos sozinhos em nosso universo.
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