O final de True Detective poderia ser mais simples…

A conclusão da quarta temporada de True Detective Night Country será divisiva como os episódios, mas, eu que estava entre os fãs até a metade, não estarei com eles no final. A história deu voltas a mais, deixou tramas soltas, criou dúvidas desnecessárias. Mas, no geral, avalio como positiva. Vamos à crítica.

“Algumas Perguntas Simplesmente Não Têm Respostas”, avisa Liz Danvers

A temporada assinada por Issa López, completamente independente do criador da franquia, Nic Pizzolatto, ignorou as duas outras, mas amarrou sua trama à melhor de todas, a primeira. Dos símbolos, das frases e até personagens, houve um desfile de easter eggs que fizeram da história algo bem mais interessante.

Na tradição de colocar dois detetives em crise e em confronto, outra tradição de True Detective, funcionou com Liz Danvers (Jodie Foster) e Evangeline Navarro (Kali Reis) e a química entre as atrizes sustentou o drama. O crime de seis anos antes do início da história separou as duas investigadoras, mas a falta de solução também as atormentou. A estranha morte dos cientistas de um centro de pesquisa sugere que conseguirão solucionar o mistério e por isso se unem novamente para tentar. E conseguem.

Há muito conflito nas vidas pessoais dessas duas mulheres, assim como na pequena Ennis, Alasca, onde algo sobrenatural também ronda essas almas atormentadas que precisam sobreviver ao inverno no polo norte, onde não há luz solar por várias semanas.

Vou aproveitar para lembrar que ACERTEI na teoria de quem matou Annie K (Nivi Pederson): foram os cientistas. Só não fui certeira com a morte deles porque caí na pegadinha do sobrenatural, mas a explicação final, embora mais plausível do que espíritos, foi tão exagerada que eu juro que dei gargalhadas.

Portanto Annie descobriu que a equipe de Tsalal estava diretamente envolvida com a poluição da água local e ia denunciá-los, depois de destruir anos de pesquisa. Foi morta pelos homens que conseguiram viver sem nenhum remorso ou medo, uma vez que Hank Prior (John Hawkes) mudou o corpo de lugar e ninguém conseguiu traçar a ligação da ativista com o laboratório.

Porém, seis anos depois, as mulheres da limpeza se revoltaram e invadiram as instalações para vingar Annie. Por que apenas agora ficou incerto, mas no final das contas foi olho por olho. Danvers ficou mais chocada do que Navarro com a verdade, mas deixou passar, Afinal, a autópsia tinha mesmo definido que os homens morreram de hipotermia e não precisava mexer em nada.

As pontas em aberto

Quem deixou a língua de Annie K no laboratório? Ninguém sabe e vai ficar por isso mesmo, Danvers deu de ombros e Navarro está mais do que pronta para aceitar o sobrenatural.

Com isso tudo, ficamos preocupadas com a saúde mental de Peter Prior (Finn Bennett), que, após matar o próprio pai, precisou se desfazer do corpo pessoalmente. Ele é avisado por Rose (Fiona Shaw) que o pior não foi ter puxado o gatilho, mas será ter que conviver com a dor de ser um assassino e seguir a vida como se nada tivesse acontecido. Pelo menos Peter se reconciliou com a esposa.

Outra que tem problemas de trauma e depressão é Navarro. Ela tenta segurar a onda no meio de toda tempestade porque está determinada em elucidar o assassinato de Annie, mas, com isso resolvido e a Paz que restabeleceu com Liz, tem menos motivação para seguir em frente.

Em um flashback, sabemos que ela e Danvers brigaram mais porque Navarro matou um homem que assassinou a esposa do que a questão do assassinato de Annie K. Em uma catarse emocional, Navarro se conecta com espíritos, recebe e transmite uma mensagem importante para Danvers e confessa que considera “sumir”. A sempre prática Danvers não a impede, mas pede para voltar de vez em quando…

Em seguida descobrimos que Navarro é uma mulher de palavra porque seis meses depois, o corpo de Hank nunca foi encontrado e Navarro não foi mais vista em Ennis, sem que ninguém saiba bem o que houve com ela.

Antes de ir, Navarro deixou para Danvers a confissão gravada por Raymond Clark sobre o que acontecia em Tsalal e se seu acordo com a Silver Sky. O vídeo ‘vazou’ para a Internet e a mina foi fechada. Podemos concluir que o desemprego em Ennis deve estar batendo recordes…

Quem fica bem, em Paz e até feliz é Liz Danvers, que resgata sua relação com a enteada, Leah (Isabella LaBlanc) e segue sua vida no Alasca sem muito alarde. Ela responde às perguntas da investigação interna sempre mantendo o cinismo e omitindo fatos. Talvez ela não saiba como Navarro “foi embora”, mas também sabe que a detetive precisava ir. Temos uma imagem das duas olhando para a varanda, que pode ser algo “real” ou apenas uma conexão espiritual entre as duas.

“Assim é Ennis”, Danvers avisa. “Ninguém nunca vai embora.” Será mesmo?

Mesmo com críticas e misoginia: Issa López resgatou a franquia

True Detective Night Country teve seu lançamento adiado mais de uma vez, sendo que a segunda foi uma decisão estratégica da Max para cobrir o espaço causado pelas greves de 2023. Embora o atraso sugira uma incerteza sobre a franquia e se teria força para voltar, é de se parabenizar Issa López pela missão hercúlea e bem cumprida.

Mesmo sem unanimidade da crítica, a audiência da série sugere que teremos uma quinta temporada para 2025, devemos aguardar o anúncio. As pontas soltas podem nos fazer retornar à Ennis ou Liz pode ir encontrar Rust Cohle (Matthew McConaughey), quem sabe?

As atuações de Jodie Foster, Kali Reis e Finn Bennet foram consistentes com o material que receberam. O roteiro de Issa é menos interessante, mesmo que tenha conseguido um resultado positivo para a franquia. Flertou com o terror, criou pegadinhas e não conseguiu sustentar a promessa. Há situações surreais, cenários toscos e muitos furos em uma trama que não precisava ter sido tão complexa se os crimes seriam tão óbvios. Num resultado morno para quente, dá para elogiar. Mas também dá para esperar mais em uma próxima. E que tenha mesmo, mais uma temporada!


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário