O que o SAG sinaliza para o Oscar

A transmissão da festa do SAG Awards pela Netflix foi impecável, tranquila e tecnicamente perfeita. Não quero mais ver em outra plataforma, pena que o Oscar desse ano ainda esteja na concorrência.

Isso – para mim – fica ainda mais frustrante porque há intervalo e tenho que escapar dos comentaristas que falam em cima dos discursos e disputam entre si o momento inútil de compartilhar seus sentimentos em vez de acrescentarem informações relevantes. Gosto de ouvir no áudio original, que me transporta para a festa e me deixa sentir a verdadeira emoção da festa. Algo que hoje em dia, sem nenhuma expectativa de surpresa, é ainda mais importante.

Mas, vamos que vamos: na semana ainda teremos os outros prêmios do Sindicato (Diretor e Roteirista), que não têm tanto apelo como a dos Atores, que têm mais categorias, mas o mais importante é que em 10 dias, teremos o Oscar 2024.

Você lembra quem ganhou em 2023?

Se você ainda está sob o efeito do susto do tapa de Will Smith em Chris Rock, ou da boca ainda caída da noite na qual Lala Land foi anunciado como vencedor para, no palco, ter que entregar a estatueta para o verdadeiro votado como Melhor Filme de 2017, está tudo certo. Com os anos da pandemia tudo ficou ainda mais estranho e a festa do ano passado foi super tranquila. Não lembra?
Esse é o sinal da previsibilidade: temos que parar para pensar quem ganhou o Oscar.

Em 2024, sabemos que Oppenheimer vai levar “tudo”, ou quase tudo, e a menos que um raio caia em Hollywood vai mudar o roteiro. Desde o Golden Globes até o SAG, foram praticamente os mesmos indicados e os mesmos homenageados. Já sabemos cada vírgula do que vem aí.

As confirmações para 10 de março

Na festa conduzida com classe e leveza por Idris Elba, o SAG Awards 2024 teve diversidade e meio que desempatou as duas principais categorias: Melhor Ator e Melhor Atriz. Os coadjuvantes estão fechadíssimos em Da’Vine Joy Randolph e Robert Downey Jr. não perderam um único prêmio da temporada, não precisam nem crescer em ansiedade.

Da’Vine nos salva de ouvirmos as mesmas coisas. Seu trabalho como a cozinheira de luto de The Holdovers, dirigida por Alexander Payne é unanimidade e ela agora já tem seu discurso escrito, o que juro não ser arrogância, ao contrário, demonstra sua humildade de estar pronta e não passar vexame. Dito isso, eu espero que no Oscar ela nos renda lágrimas e bons momentos porque será impossível para ela manter a compostura.

Robert Downey Jr. tem me desapontado. Sua lista de agradecimentos é bem específica: de Mel Gibson a Jodie Foster, passando por Gwyneth Paltrow, ele é bem específico em reconhecer os que o ajudaram em sua pior hora de vida de de carreira, sem entrar em detalhes. Considero essa a parte interessante de seu agradecimento, mas as brincadeiras quanto à sua arrogância e o fato que Christopher Nolan o teria orientado a ser menos histriônico já está cansando. Seria interessante que, para o Oscar, ele traga outra historinha de bastidores.

Se não há dúvidas que Oppenheimer vá ganhar Filme, Diretor, Trilha Sonora, Ator e Ator Coadjuvante, as mulheres do elenco podem esquecer de sonhar com o palco. O favoritismo está empatado para Ator e Atriz, com Cillian Murphy (Oppenheimer) e Emma Stone (Pretty Little Things) ganhando a mesma quantidade que Paul Giamatti (The Holdovers) e Lily Gladstone (Assassinos da Lua das Flores)

Nas festas onde Drama e Comédia estavam separadas, os quatro estavam levando, mas, no SAG, como no Oscar, é um grupo só e a dúvida foi descartada: Cillian e Lily são os favoritos da Academia. Dificilmente vão perder no dia 10 de março.

E Barbie?

Bom, teremos Billie Eilish com sua canção, provavelmente, mas, em geral, Barbie já é passado para Hollywood.

Efeito Pedro Pascal estragou a festa de Succession

A parte mais complexa do SAG Awards em 2024 foi a TV, nem tanto o cinema. Isso porque as greves do ano passado interferiram nos Emmys, e agora estamos ainda falando de Succession e The Crown quando as duas séries saíram do ar há mais de seis meses.

No caso, a noite de 24 de fevereiro foi a despedida dos tóxicos Roys e assim como Barbie, a Indústria parece estar com pressa de festejar o que vem a seguir. Assim, cantamos como certas as vitórias de Sarah Snook e Kieran Culkin, que levaram todos os prêmios até aqui, mas que perderam para Elizabeth Debicki de The Crown e, o mundo parou, Pedro Pascal por The Last of Us.

O que?

Pois é. Succession ainda levou Melhor Série Drama, mas sua derrota foi uma nota meio triste para um conteúdo tão celebrado em 2023.

O susto pegou Pedro de uma forma que o faz ainda mais popular entre os fãs. Despreparado, mas rápido no improviso, foi humilde, emocionado e muito merecido.

Sua dominância é obvia, tendo estrelado The Mandalorian e The Last of Us, dois grandes sucessos e sendo que na série da HBO sua técnica foi mais demandada, com uma atuação sentida e emocionante nos tons certos. Quem sabe o que vem pela frente da segunda temporada sabe que ainda teremos mais Pedro nos palcos quase garantido.

Em parte, ao frear a festa de Succession ficamos com a impressão de que estão todos cansados de olhar para traz. Se houvesse mais um prêmio antes do Oscar, Oppenheimer estaria vivendo os dias de Barbie, mas, para sua sorte, está ainda com a vitória no bolso.

The Bear: um drama vendido como comédia que está no lugar errado

Sou muito fã de The Bear e queria o elenco todo premiado, celebrando sua vitória como Melhor Série pelo segundo ano, porém me irrita que esse drama esteja concorrendo como Comédia. Não há como comparar as atuações e o resultado, para mim, é desleal.

Até que uma comédia de peso ameace a estratégia da StarPlus veremos essa bizarrice mais vezes. Uma pena!

A homenagem à Barbra Streisand

A homenageada por sua incrível carreira no cinema foi a lendária Barbra Streisand, que obviamente é icônica e merecedora como poucos do prêmio. Seu discurso foi breve, falou de Política, falou de como abriu portas, fez uma menção ao seu famoso temperamento difícil.

O que ficou estranho mesmo é que embora Barbra tenha uma vasta e importante carreira, o vídeo de apresentação focou repetidamente nos mesmos (poucos) filmes do passado e mal se referiu aos trabalhos mais recentes. Foram comédias rasgadas sem grande repercussão? Ainda assim!

Ninguém esperava que Barbra não fosse aplaudida de pé, que houvesse fãs dela na platéia, mas a emoção chorosa de Anne Hathaway mesmo quando a atriz estava fazendo piadas pareceu overacting, quase gritei para que devolvesse seu Oscar. Para mim, o momento constrangedor da noite.

Parabéns, Netflix

Para quem acompanhou as greves e a liderança de Fran Drescher, foi um tanto tenso ela lembrar a pauta das disputas na frente de um dos executivos que se opôs aceitar as demandas dos atores, Ted Sarandos, o chefão da Netflix. Claro que está tudo resolvido, mas por alguns frames foi se estivessemos de volta à junho de 2023, não deve ter sido conversas agradáveis entre eles.

Mas agora que Hollywood está em Paz, é preciso voltar a elogiar a transmissão do SAG Awards pela Netflix, marcando sua estreia em transmissão ao vivo global. Em uma palavra? Perfeita.
Que venha o Oscar!


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário