O alto custo do silêncio: Rhaenys determinha o destino trágico de House of the Dragon

No livro Fogo e Sangue, Rhaenys Targaryen é uma das mais importantes aliadas de Rhaenyra Targaryen, apoiando sua prima-nora na sucessão ao trono. Na série há muito mais camadas de cinza nesse apoio, com decisões que custaram caro às duas, mas, em especial, à Rhaenys (Eve Best).

Rhaenys Targaryen, conhecida como Lady Rhaenys, é a esposa de Lord Corlys Velaryon (Steve Toussaint), a Serpente do Mar, e mãe de Laena e Laenor Velaryon. Chamada de rainha que nunca foi, ela poderia ter tido o direito ao trono de ferro, mas foi preterida na linha de sucessão duas vezes – uma vez por seu tio, Baelon Targaryen, e depois por seu primo, Viserys I (Paddy Cosidine), em favor de Rhaenyra (Emma D’Arcy). Assim como no livro, em House of the Dragon ela acaba do lado dos pertos, mas sua trajetória traz uma nova leitura à historia. Uma que poderia ter mudado todo o curso da saga.

Houve nada menos do que três Rhaenys Targaryens

Se há algo que os leitores da saga imaginada por George R. R. Martin já sabem é que “Rhaenys” é um nome de mulheres fortes na Casa Targaryen, mas sem futuro. São quatro, todas com destino trágico.

A primeira e ultra fascinante estará na série A Conquista de Aegon pois a primeira de seu nome é justamente uma das irmãs-esposas de Aegon I, montadora da dragão Meraxes e uma das conquistadoras originais dos Sete Reinos. Sua morte será um dos mistérios a serem descobertos na série.

Houve também a filha de Rhaegar Targaryen e Elia Martell, a pequena Rhaenys que era criança durante os eventos da Rebelião de Robert, que antecede Game of Thrones e que brutalmente morta junto com seu irmão Aegon, e sua mãe, Elia, nas mãos de Sor Gregor Clegane, o The Mountain, por ordem de Tywin Lannister (Charles Dance).

Por hora, vamos focar em Rhaenys, a Rainha que Nunca Foi. Também conhecida como “a Rainha Vermelha”, é uma figura chave na Dança dos Dragões. Neta de Jaehaerys I e Alysanne, e filha do Príncipe Aemon e Lady Jocelyn Baratheon, foi preterida da linha sucessória por ser mulher. É quem acompanhamos em House of the Dragon e falaremos mais aqui.

A frustração de testemunhar o que poderia ter sido sua vida

De uma forma tortuosa, Rhaenys pavimentou o caminho de Rhaenyra e é algo que ela tenta alertar à jovem princesa, mas que encontra resistência da menina.

Nascida co primogênito do rei Jaehaerys, Aemon, foi chama de futura rainha por sua avó e desde nova reivindicou Meleys e viajou pelo reino acompanhando o avô. Quando tinha apenas 16 decidiu se casar com Corlys Velaryon, com a bênção de sua família. A união de amor, igualmente política pois os Velaryons tabém vinham de Valyria, gerou um casal de filhos que ambos adoravam. Tudo parecia certo até que não.

O pai de Rhaenys morreu antes de Jaehaerys e com isso o rei teve que decidir a ordem de sua sucessão. Isso porque Rhaenys era mulher, portanto não era automaticamente obvio que ela seria a Rainha após ele. Em vez de oficializá-la, ele nomeou Baelon, tio de Rhaenys e irmão mais novo de Aemon, mesmo sabendo que a neta estava grávida e poderia ter um filho homem.

Rhaenys e Corlys se revoltaram e retornaram para Driftmark em protesto. As mulheres ficaram contrárias à decisão de Jaehaerys, tanto a mãe dela, Lady Jocelyn Baratheon, seu tio, Lorde Boremund Baratheon, e sua avó, a esposa do rei Jaehaerys, a rainha Alysanne Targaryen, mas não adiantou. Ainda mais que ela deu luz à uma menina, Laena Velaryon.

O destino deu uma nova chance à Rhaenys alguns anos depois, quando Baelon morreu e o Rei Jaehaerys convocou o primeiro Grande Conselho em Harrenhal para decidir a questão da sucessão. É a cena que abre House of the Dragon.

Quatorze reivindicações foram consideradas, incluindo a reivindicação dupla de Rhaenys: por ela mesma e por seu filho, Laenor, já nascido. As casas Baratheon, Stark, Dustin e Manderly também foram a seu favor, mas ela foi rejeitada por ser mulher, mas todos consideraram que Laenor – como homem – encerraria o drama, mas Viserys, filho de Baelon foi o escolhido.

Com isso tudo, tantos anos depois, Rhaenys viu mais uma vez a história se repetir quando Viserys ficou repentinamente viúvo e sem um herdeiro homem. Porém, diferentemente de seu avô, Viserys não pediu a opinião da sociedade ou convocou um Conselho: ele anunciou sua única filha, Rhaenyra, como sua sucessora.

No livro não esclarecem, mas, na série, Rhaenys fica um tanto enciumada e preocupada. Ela já tinha vivido e visto muito para não antecipar o resultado. Ela alertou Rhaenyra, mas suas palavras foram ignoradas. Os homens nunca deixariam uma mulher sentar no trono de ferro.

Praticidade e cinismo: Rhaenys tentou fazer a sua parte

Apesar de ter sido preterida por Viserys, Rhaenys sempre gostou de seu primo (não fica claro como era sua relação com Daemon (Matt Smith), que depois veio a ser seu genro). Ela ficou triste por ele quando Aemma Arryn (Sian Brooke) faleceu, mas logo que o Pequeno Conselho passou a cobrar dele um novo casamento, ela e Corlys ofereceram a pequena Laena, com apenas 12 anos na época.

A proposta era mais do que indecente, dada a idade da menina, mas mostra como Rhaenys entendia que casamentos por amor eram raros e nem sempre possíveis. Por um lado, podemos argumentar que Rhaenys teve pouco envolvimento com a sugestão, mas que não se opôs. Por outro, há uma alusão em House of the Dragon que o casamento foi mais ideia de Corlys, por ambição e ressentimento de que Rhaenys não tinha sido rainhas. Há uma terceira possibilidade, a de que o casamento de Viserys com Laena devolveria à seus herdeiros o que era deles desde o início, além de não torná-la uma exceção, como Rhaenyra sugere, de ter sido rejeitada não por ser mulher, mas porque não a quiseram.

Infelizmente Otto Hightower (Rhys Iphan) foi mais rápido e colocou Alicent (Olivia Cooke) no caminho, criando novo impasse dos Velaryons e a linha sucessória. Isso só foi resolvido quando Rhaenyra se casou com Laenor, unindo, finalmente as casas valirianas e colocando os netos de Rhaenys no caminho do trono. Será mesmo?

Onde a série foi melhor do que o livro

A relação de Rhaenyra e o primo Laenor ia sempre ser complexa por ele ser gay. O acordo era tentarem até gerarem um filho, com cada um vivendo sua vida à parte, porém algo aconteceu e embora o livro deixe em aberto a verdade, na série foi escancarada: os filhos não eram de Laenor, mas de Ser Harwin Strong (Ryan Corr).

Rhaenys portanto não se aproxima de Rhaenyra, ao contrário, sente que ela está humilhando seu filho e é educada com todos, sem desenvolver o mesmo afeto que transmitia às suas netas, filhas de Laena e Daemon. Esse julgamento sobre Rhaenyra determinaram muitos dos passos não explícitos no livro.

Tudo piora quando praticamente na mesma semana (no livro é no mesmo ano), tanto Laena como Laenor morrem. Em House of the Dragon, Daemon e Rhaenyra secretamente ajudaram Laenor a fugir com o amante, Sor Qarl Correy, mas sem saber disso, Rhaenys ficou com raiva do casal.

Quando Viserys falece, Rhaenys está em King’s Landing e é feita refém pelos verdes. Isso porque Alicent sabe da fragilidade da relação da princesa com sua nora e tenta explorar os conflitos para ganhar um importante apoio para Aegon II (Tom Glynn-Carney), sem sucesso.

Um silêncio e a decisão que custará tudo para Rhaenys

Ao longo da vida, de forma realista e interessante, Rhaenys não é alimentada de motivos ou esperança que Rhaenyra serja uma rainha justa ou que esteja preparada. Sua arrogância juvenil e o fato de que os homens nunca a deixariam reinar fazem de Rhaenys uma cínica de plantão.

Portanto, fica um tanto em aberto se ela iria ficar do lado dos pretos ou dos verdes. Minimamente ficaria neutra, mas o destino forço a sua mão.

No livro, Rhaenys apoia imediamente Rhaenyra, a ajudando na estratégia de ataque e participando das batalhas. Em House of the Dragon, o apoi é ganho gradualmente. E o momento mais marcante foi o de que Rhaenyra entra no Dragonpit para resgatar Meleys e teve a oportunidade de matar em um único comando não apenas Otto, Alicent e Aegon, mas Aemond (Ewan Mitchell), Ser Criston Cole (Fabien Frankel) e Helaena (Phia Saban). Ou seja, acabaria com os usurpadores e não haveria guerra civil. Será mesmo?

A recusa de começar a guerra, mas o apoio à herdeira mulher

“Essa não uma guerra minha para começar”, é o que Rhaenys argumenta quando é questionada na série pelo ERRO fatal. Ela não quis ser uma kinlsyaer, mas os verdes não vão retribuir com agradecimento ou cuidado quando chegar a vez deles enfrentá-la. Os mesmos Cole, Aegon e Aemond vão tirar sua vida sem pudor, a induzindo cair em uma armadilha sangrenta na batalha de Rooks Rest. Teria sido melhor e menos sangrento terminar o golpe quando ele mal tinha começado.

Tudo bem que, anaquele momento, Rhaenys estava ainda querendo entender quem ela iria apoiar. Rhaenyra não era sua favorita em nada: teve o apoio pela sucessão que foi negado a ela duas vezes, era arrogante, parecia irresponsável, tinha dado o nome de família de seu filho aos bastardos que gerou com o amante, claramente estava envolvida com a morte de Laenor, se casou com Daemon imediatamente após a morte de Laena e era insegura como regente. De alguma forma, as atitudes de Rhaenyra pareciam reforçar todo preconceito machista contra as mulheres como regentes. Dá para entender como vacilou em decidir.

No entanto, suas netas legítimas – filhas de Daemon e Laenor – adoram Rhaenyra e estão prometidas aos filhos da princesa, em tese, seus primos. Mais uma vez o destino parece acenar com a correção do desvio sucessório: os filhos de Rhaenyra (em tese) serão seus herdeiros e uma vez casados com as netas de Rhaenys, mesmo eles sendo parcialmente Strong, são Targaryens o suficiente para ter seu sangue no trono de ferro. Mas, como sabemos, não era para ser.

O pior de tudo é que a morte de Rhaenys vai causar uma divisão entre Corlys e Rhaenyra, uma que eles superam sem convicção e que, de alguma forma, vai definir a Saga dos Targaryens. Isso porque a semente da discórdia estará plantada.

Hoje Corlys, que renegava enxergar que o filho era gay, abraça seus netos bastardos apoiando Rhaenyra na perigosa farsa, uma que é o que provoca ainda mais a ira nos verdes. Com a morte dos netos, e sem Rhaenyra ou Daemon, Corlys vai perdendo sua conexão com a rainha dos pretos. Sua paranoia e, principalmente suas decisões passionais vão acabar por colocar os antigos aliados em lados opostos. E a cena mais marcante da primeira temporada voltará para nos assombrar. Por que não acabou a guerra antes de começar?


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