Eric Carmen popularizou  Rachmaninoff para sempre

O falecimento de Eric Carmen, aos 74 anos, voltou às playlists um de seus maiores clássicos: All By Myself, uma canção emblemática de quem sofre por amor, eternizada no cinema em Bridget Jones com Renée Zellwegger e na TV na série Friends. Na verdade, a canção é uma adaptação de uma música clássica, já usada no cinema antes, por David Lean e escrita por Sergei Rachmaninoff em 1901. Vale resgatar o histórico!

O compositor original

Sergei  Rachmaninoff foi considerado um dos maiores pianistas e compositores russos do século 20 e um dos últimos grandes representantes do Romantismo na música clássica russa, explorando melodias “fáceis” e memoráveis. Quem não cantarola sua inesquecível Rapsódia de um tema de Paganini? Ok, você vai falar que é o tema de Em Algum do Passado (Somewhere in Time). Antes, porém foi seu Concerto para Piano nº 2 que fez sucesso.

Rachmaninoff começou a aprender piano aos quatro anos e quando se formou em composição no Conservatório de Moscou, em 1892, já tinha escrito várias peças. Em um tempo em que não era comum falar de saúde mental, ele lidou com a depressão e foi justamente no período de tratamento que escreveu uma de suas obras mais famosas.

Com a Revolução Russa, o compositor deixou seu país e foi viver em Nova York, se apresentando como condutor e pianista. Em 1942, para lidar com sua saúde frágil se mudou para Califórnia, onde morreu de melanoma em 1943.

A triste melodia criada através de hipnose

O tratamento de depressão de Rachmaninoff, antes de deixar a Rússia, não era convencional. Seguia a linha do médico e músico amador Nikolai Dahl que incluía sessões diárias de hipnoterapia e terapia. A meta era melhorar a questão da insônia, do humor e da falta de apetite. Sobretudo, recuperar seu desejo de compor. E funcionou. Foi assim que escreveu o Concerto para Piano nº 2 e dedicou a peça à Dahl.

Com esse trabalho, o compositor ganhou o Prêmio Glinka, o primeiro de cinco concedidos a ele ao longo de sua vida, e um prêmio de 500 rublos em 1904. Sucesso de crítica e público.

A versão de Eric Carmen

Filho de imigrantes judeus-russos, Eric Carmen nasceu em Cleveland em 1949 e desde cedo revelou talento musical. Ainda criança estudou violino (aos seis anos), seguindo os passos de sua tia violinista, mas logo passou para piano e violão. Para um jovem que viveu os fenômenos dos Beatles e Elvis Presley, o rock era mais atraente do que a música clássica. Logo passou a circular em grupos amadores e a ensaiar escrever canções.

Assinando como Cyrus Erie, tentou uma carreira solo antes de formar a banda Raspberries, em 1970. Uma das características da banda era um repertório de músicas mais populares, indo contra a onda do rock pesado e progressivo que era a maior aposta daquele tempo. Emplacaram hits como Go All the Way, I Wanna Be With You, Let’s Pretend, Tonight e Overnight Sensation.

Em 1975 lançou seu álbum solo que incluía, claro, a balada All By Myself. Considerando que a melodia era de domínio público – não era o caso – ele usou o segundo movimento da obra de Rachmaninoff (Adagio sostenuto) do Concerto para piano nº 2 em dó menor, Opus 18 como base principal da canção. O refrão ele pegou emprestado de outra composição sua (Let’s Pretend) e criou algo “novo”.

A inspiração de usar o concerto veio justamente quando assistiu novamente o magnífico filme de David Lean, Desencano (Brief Encounter), de 1945, que tem a peça original e sua trilha sonora. Impactado com a bela melodia russa e ele mesmo um grande pianista, Eric adaptou a melodia do segundo movimento para escrever o verso principal.

Nos anos 1970s discutir direitos autorais era complexo pois nada estava claro e para surpresa do roqueiro, a composição ainda estava protegida fora dos EUA e criou um impasse com a família de Rachmaninoff e depois de um processo judicial ficou acordado que o espólio receberia 12 por cento dos royalties de All by Myself. Como Eric Carmen fez algo parecido com Never Gonna Fall in Love Again, de novo usando a melodia do russo, mas agora com o terceiro movimento da Sinfonia nº 2, também rendeu parte dos lucros com a família.

All By Myself virou sucesso mundial imediato e vendeu mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos. “Não há tanto combustível para ser feliz quanto para ser infeliz. Ser infeliz é um grande catalisador para compor músicas, pelo menos para mim”, o cantor explicou em uma entrevista. “Não consigo imaginar que Rachmaninoff estivesse feliz quando estava escrevendo a segunda sinfonia e o segundo concerto para piano. Não acho que a angústia e a angústia dessas melodias venham por estar muito entusiasmado,” comentou.

E, com isso, ganhamos dois clássicos.


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