Por que ainda estamos falando dos abusos contra Sharon Stone?

Sei que a idade ajuda a lembrar, mas quando Sharon Stone era a maior estrela de Hollywood, em 1993, sob o falso “adjetivo” de “sexy symbol”, ela foi meio que “obrigada” a fazer um filme explorando o mesmo universo do título que a fez famosa, Instinto Selvagem. Nesse caso, o detestável, fracassado e constrangedor Invasão de Privacidade (Sliver).

Curiosamente, os problemas de bastidores nunca foram novidade, mas, em 2024, voltou a ocupar as redes sociais. Por que ainda estamos falando de Sharon Stone sofrendo com o abuso e exploração machista de Hollywood? Porque finalmente ela deixou claro quem foram os homens que ousaram a querer que ela fizesse sexo com o co-estrela para que o filme desse certo. Sim, você leu isso mesmo.

A biografia e o “segredo”

Sharon Stone teve uma longa carreira em Hollywood, mas, curta de fama. Embora uma das mais belas atrizes dos últimos anos, ela explodiu com Instinto Selvagem, protagonizando cenas de nudez e sexo que omitiram vários aspectos mais interessantes da história e que a transformaram em uma das mulheres mais famosas do planeta.

Em 2021, depois de vários problemas de saúde, Sharon lançou sua biografia, The Beauty of Living Twice e falou do derrame que quase custou sua vida e como está reconstruindo sua vida. Diante da quase-morte, Sharon reavaliou sua longa e dura jornada em um universo toxico masculino como é o de Hollywood em uma narrativa transparente e ousada por sua sinceridade.

Sharon nunca foi de poupar palavras, aí estava sua verdadeira beleza. Porém, muitos esperavam que em seu livro ela falasse mais sobre sua carreira e relacionamentos, mas de alguma forma, ela não se estende tanto nos temas. Ainda assim, ela usa sua vivência em alguns momentos muito fortes que chamaram a atenção, porque para Sharon são contos que reforçam a resiliência das mulheres em Hollywood e porque o #metoo foi e é tão importante.

São histórias ainda mais chocantes porque aconteceram com uma grande estrela, só é de se imaginar como a indústria funcionava. Ela menciona como “um diretor” se recusou a filmar suas cenas se ela não se sentasse em seu colo. Ela conseguiu incluir cláusulas de aprovação para cenas de nudez e sexo apenas para vê-las ignoradas. de atores em seus contratos eram rotineiramente ignoradas. E foi “aconselhada” por um produtor a dormir com um de seus colegas de elenco para estabelecer a química na tela. Ela não cita nomes, mas quem acompanha sua carreira sabe exatamente de quem ela está falando. Essa semana ela quebrou o “sigilo” dessa última e mais ofensiva história dando o nome ao produtor. E passou a ser notícia.

Os bastidores de Invasão de Privacidade: caos e abusos

Em 1993, Sharon estava pronta para novos desafios, mas os produtores queriam ganhar mais em cima da nudez e cenas de sexo com ela. Atenta que esse era o caso, o contrato da atriz dava a ela a aprovação para as cenas mais íntimas, uma vez que em Instinto Selvagem ela teria sido enganada para gravar a cena de cruzar as pernas sem calcinha sem saber que seria usada na versão final.

Sharon não foi a primeira opção para o elenco, e o roteiro estava claramente com problemas, mas acabou aceitando o papel. As dores de cabeça em seguida foram tão públicas que hoje são até lendárias.



Depois de recusas de astros como Johnny Depp, o papel masculino principal foi para William Baldwin, com que Sharon imediatamente se tão mal que foi impossível abafar as brigas ou ter alguma química nas telas. Talvez por isso o produtor Robert Evans tenha achado necessário interferir.

E aqui está a surpresa da hora. No livro, Sharon Stone não o cita por nome, mas quando ele foi proibido por ela de estar nos sets enquanto gravava não seria a dica de quem era o produtor? Até porque, ela SEMPRE mencionou que quando todos viram que o filme não estava dando certo e que William não estava bem no papel, a alternativa que encontraram foi pedir à atriz que fizesse sexo com ele para talvez transportar algum sinal de intimidade para as telas.

Pode ler de novo. Os produtores de Hollywood acharam que era razoável e possível pedir à maior estrela de Hollywood daquela hora que transasse com o companheiro de elenco para ajudar ao filme. Passados 31 anos, ainda é chocante.

Obviamente ela se recusou e o filme é um dos piores de 1993, com muita gente colocando a culpa nos ombros DELA, nunca dos homens ou da história machista e absurda que eles tentaram contar. William Baldwin, claro, nega que exista verdade nessa história e alega que Sharon o paquerou, mas que foi ELE que não quis ter um caso com ela. Os dois se detestavam tanto que maior parte das cenas de sexo a tinha sempre de costas para ele para que não se beijasse ou sequer se olhassem. Imagina trabalhar nessas circunstâncias?

“Ele explicou por que eu deveria foder meu colega de elenco para que pudéssemos ter química na tela”, ela falou no podcast com Justin Theroux. “E precisávamos que Billy melhorasse no filme, porque esse era o problema. Se eu apenas fizesse sexo com ele, isso salvaria o filme”, ela seguiu.

Mas, pensando enquanto ouvia a “sugestão”, ela pensava: “vocês insistiram nesse ator quando ele não conseguiu filmar uma cena inteira no teste. Agora você acha que se eu transar com ele, ele se tornará um ótimo ator? Ninguém é tão bom na cama,” emendou.

Não sei você, mas estou rindo de nervoso, de ofensa e de como Sharon, que mandou Evans se foder, ainda joga isso na cara: não tem sexo algum que garanta algo. Mas o que era pior: “Eu senti que eles poderiam simplesmente ter contratado um coadjuvante com talento, alguém que pudesse entregar uma cena e lembrar suas falas, mas era meu trabalho atuar”, completou.

“Eu não precisei foder Michael Douglas [em Instinto Selvagem]. Michael poderia vir trabalhar e saber como atingir essas marcas e fazer aquela linha, ensaiar e aparecer. Agora de repente estou no negócio de ter que foder as pessoas?!”, ela ressaltou o absurdo.

Por isso mesmo sendo uma notícia “velha”, é ainda uma das mais absurdas de Hollywood de todos os tempos. E dói ter que dizer que Sharon Stone teve ainda maior coragem de se recusar a fazer o que pediram dela do que ainda contar a história citando nomes. Sou fã de Sharon, agora? Ainda mais.


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