Estamos perto da conclusão de The New Look e ainda acompanhamos Dior (Ben Mendelsohn) e Cbanel (Juliette Binoche) seguindo caminhos paralelos, sempre ressaltando que, embora com dores semelhantes, para sobreviver, não poderiam ser mais opostos em temperamento e escolhas. São praticamente duas séries em uma, com Chanel trazendo a aventura e suspense para a trama, enquanto a nossa empatia com Dior é sempre por sua silenciosa entrega e fidelidade à sua família.
A trajetória de Chanel só não nos deixa mais irritados porque Juliette Binoche traz dimensão às escolhas questionáveis de uma sobrevivente, de uma mulher que tinha origem simples e ascendeu como empresária e passou a circular entre os ricos e famosos, apenas para ver seu mundo fraquejar quando se envolveu com o lado errado da Guerra.

Enquanto Dior está lidando com outros dramas pós-guerra, a estilista francesa está ciente de que se for exposta pelo envolvimento que teve com os nazistas estará acabada. É inegável que Chanel conscientemente se meteu na enrascada de sua vida ao ser “induzida” a trabalhar como espiã para os alemães, contra sua vontade e, mais uma vez, por sobrevivência.
Seu empenho em resgatar sua marca, em especial do perfume nº 5, assim como ajudar ao sobrinho, vêm sido usadas como os motores de uma série de decisões infelizes que mancharam para sempre a reputação dela. O que fica um tanto cansativo para nós, hoje mais do que cientes do que ela fez, é entender que naquele tempo poucos sabiam e The New Look mostra o empenho, eventualmente inútil, de Chanel de abafar o caso. Em oito episódios a angústia cansa um pouco.
O pânico de Chanel é justificado
Chanel fez sua própria cama ao se envolver com os alemães e a volta do aproveitador Spatz, que tem e suas mãos os documentos da missão de Coco Chanel como “Agente Westminster” é suficiente para que ela tente lidar com a chantagem.
Não sei como ela confiou no ex-amante, a série pelo menos nos deixa essa dúvida, mas ela acredita que o nazista quer ajudar a limpar seu nome, mas ele precisa de dinheiro para se manter escondido. Ela cede e volta a piorar tudo para o seu lado. Afinal já tem uma Elsa no seu pé, uma “amiga” falastrona e que agora está viciada nos calmantes que Chanel a ensinou usar. É fácil para Patz colocar as duas novamente em conflito porque uma apavorada estilista logo fica paranóica.

Eventualmente ela se afasta dos dois e resolve arriscar sem eles. Parece ser a decisão mais acertada dela em muito tempo. Procurada na Suíça pela jornalista americana Carmel Snow (Glenn Close), que está na Europa para um artigo da Harper’s Bazaar, Chanel é questionada por seu exílio, mas ela mantém que as histórias que circulam a seu respeito “são apenas rumores”.
A estilista aproveita para mostrar seu novo perfume e pede uma “ajuda” para voltar para Paris, mas as evidências do que fez na Guerra estão muito óbvias e torna isso quase impossível por hora. Ainda assim, Carmel aceita levar amostras do novo produto e dá-lo a algumas pessoas importantes. O drama de Chanel só vai ficar pior porque a polícia está se aproximando de todos que detém provas contra ela, Elsa também, sendo presa depois de brigar em uma farmácia. A essa altura, já estamos implorando que acabem logo com o drama, mas ele ainda vai render.
As preocupações e inspiração de Dior para o Bar Suite
Com a mão firme de Madame Zehnacker levando os negócios, Dior só tem que criar sua coleção, mas sua alma ainda não está na tarefa. Ele tem que ser convencido de se encontrar com Carmel Snow, que está em busca da história mais importante da alta costura do pós-guerra, mas hesita justamente por saber que falta uma peça que defina sua visão, algo que a editora de moda percebe quando tem acesso escondido aos primeiros desenhos.

Aqui The New Look traz uma visão menos fanfarrona como Cristobál sugeriu, com um Dior tímido e avesso ao marketing pessoal. Tentando manter a ética com os concorrentes, ele busca modelos para seu atelier para finalmente poder criar, não quer roubar as profissionais que trabalham no mercado, precisa de rostos novos. Em tempos pós-guerra, um desafio a mais e o que irrita a prática Madame Zehnacker. Isso tudo para que a gente conheça sua musa, a modelo Marie-Thérèse, que encontra no meio da multidão e a escolhe pessoalmente.
É uma delícia ter Glenn Close como Carmel Snow, assim como na série da Star Plus mostrou, ela buscou Balenciaga (Nuno Lopes) antes de Dior, não se deu bem com Balmain e só queria que ela tivesse tido uma cena com Lucien Lelong (John Malchovich) para ter tido um reencontro de Ligações Perigosas em Paris, 40 anos depois. Cinéfilos me entenderão…

O que fica um tanto claro é que Dior sofria muito a pressão familiar. Embora Catherine (Maisie Williams) esteja melhor vivendo com seu pai, ela ainda está traumatizada e há algo que vão revelar sobre a foto da garota do campo de concentração. O pai dos Dior cria um drama a mais para o estilista: seu fracasso comercial não apenas derrubou a família materialmente, o trauma emocional deixa Christian Dior ainda mais inseguro de estar se aventurando sozinho em um negócio com toda a cara de que pode dar errado.
Assim como teve a missão de cuidar de Catherine, cai nos ombros de Dior parar o que está fazendo para ir visitar e convencer seu irmão Bernard de voltar para casa. Ele está em um asilo, e o reencontro dos dois é emocionante pois lembram do passado e da expectativa da mãe deles sobre seus futuros. Bernard recomenda ao irmão que deixe a luz brilhar dentro de si mesmo e não se submeter à pressão familiar. Sim, esse é um dos detalhes de The New Look: não importa o que faça para agradar, e é sempre muito, até mesmo Catherine é um tanto tirana com o irmão. Todos parecem viver suas vidas mas cabe à Christian sustentá-los e mais ainda, obedecê-los. Não é nenhuma surpresa que ele esteja tão inseguro e menos criativo.


Por isso a morte repentina de seu pai gera em Christian mais culpa, ainda mais por não ter ido visitá-lo quando ele implorou. A recusa foi porque estava ocupado com o novo negócio e embora seja o que vá sustentar todos, de alguma forma ele ainda é antagonizado por sua escolha. No ímpeto do luto, Dior tira todos os esboços das paredes, chora um pouco e finalmente se conecta. Quando Madame Zehnacker pergunta onde estão os desenhos da coleção, finalmente ouve o que precisa: Dior encontrou “a peça”. Sim, vemos na folha de papel o terno bar, a peça que traz a luz vencendo a escuridão. Agora é a hora do lendário desfile na Avenue Montaigne.
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