A origem do Conde de Monte Cristo

O romance O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, completa 180 anos em 2024 e é até hoje a fonte de inspiração para inúmeras obras de ficção, desde a novela Avenida Brasil à Revenge, para citar apenas dois sucessos das últimas décadas. São mais de 15 versões para o cinema de 1912 à 2024, com a mais recente adaptação da história de um homem enganado que volta para ter sua vingança.

O que traz atemporalidade à obra?

A combinação de cinco elementos básicos colaboram para que a obra de Dumas seja tão querida e adaptável mesmo mais de dois séculos depois. Claro, ele fala de sentimentos muitos humanos, mas usa com inteligência para criar um enredo intricado, com subtramas e personagens conectados e cada um com suas motivações e segredos, deixando tudo mais inesperado.

O tema da vingança que fala com todos que um dia se sentiram injustiçados e torcem pelo herói, mas ninguém é tão plano: todos se transformam, incluindo Edmond Dantes que começa ingênuo e simples mas se transforma no sofisticado e astuto Conde de Monte Cristo, porque não é apenas uma mudança física, mas também psicológica.

Outra característica presente nos livros do escritor é ter como cenário um momento histórico marcante. Aqui é a França do século 19, durante o período histórico da Restauração Bourbon e da Monarquia de Julho, o que nos localiza no tempo e nos traz uma visão fascinante do clima político e social da época. Ele acresce a aventura que traz ritmo e mais emoção, sempre nos deixando ansiosos (como Dantes consegue fugir da prisão, achar o tesouro são algumas das passagens clássicas e inesperadas que têm tantos obstáculos que gera tensão e ansiedade).

Sem dúvida, ter um romance pelo qual o leitor espere ver o final feliz, no caso, a ligação entre Edmond Dantes e Mercedes.

Ou seja: personagens complexos, enredo emocionante, cenário histórico e temas de vingança, transformação e amor. Por isso é sempre a base de qualquer folhetim!

A inspiração para o livro: o Conde existiu? Sim!

Sabemos que Alexandre Dumas adorava mesclar personagens fictícios com reais, e, quase todos livros de sucesso foram inspirados em uma história real, O Conde de Monte Cristo não é diferente. Alguns historiadores sugerem que a história é inspirada em um acontecimento real da vida do pai de Dumas, Thomas-Alexandre Dumas, que foi general do exército de Napoleão e que foi preso injustamente por um crime que não cometeu.

Mas não é bem assim. Na verdade, a experiência de dentro de casa já tinha nele a semente de querer uma história de vingança, mas foi quando soube de uma história real, escrita por um arquivista da polícia de Paris, em 1838, que Dumas encontrou seu “herói”. No episódio de Le Diamant et la Vengeance, de Jacques Peuchet, o escritor viu o fascinante relato da história de Pierre Picaud, “verdadeiro” Conde de Monte Cristo.

François Pierre Picaud era um sapateiro que vivia em Nîmes em 1807, noivo de uma mulher rica, mas que foi falsamenye acusado de ser espião inglês (França e Inglaterra estavam em guerra). Os acusadores eram três “amigos” – Loupian, Solari e Chaubart – enciumados com o que parecia a vida ideal de Picaud. Havia um quarto, Allut, que sabia do golpe mas que se absteve de participar.

O sapateiro foi trancado no Forte Fenestrelle por longos sete anos, mesmo que inocente. Apenas no segundo ano descobriu as (falsas) acusações contra ele e durante sua prisão, abriu uma pequena passagem para uma cela vizinha e fez amizade com um rico padre italiano chamado Padre Torri, que também estava detido na fortaleza. O clérigo italiano se afeiçou tanto a Pinaud que deixou como herança para ele um tesouro que havia escondido em Milão. Nessa altura, o governo imperial francês caiu, Picaud foi libertado em 1814 e logo tomou posse do tesouro que ficou para ele.

Agora rico, Picaud voltou para Paris, mas esperou 10 anos planejando em detalhes sua vingança contra os responsáveis ​​por sua injustiça.

O primeiro a receber o retorno foi Chaubart, que Picaud mandou esfaquear com uma adaga na qual estavam impressas as palavras “Número Um”. Solari foi o segundo, morrendo envenenado.

Loupian sofreu ainda mais. Dois anos depois da prisão de Picaud, ele se casou com a noiva dele e foi pai de dois filhos com ela. Portanto Picaud fez assim: primeiro enganou a filha dele para que se casasse com um criminoso, que ele prendeu. Ela foi levada à prostituição e morreu logo depois. Em seguida, Picaud incendiou o restaurante de Loupian, o levando à falência. Ainda não satisfeito, manipulou o filho de Loupian para que roubasse algumas joias de ouro e o incriminou por cometer o crime, sendo preso em seguida. Apenas nessa altura que Picaud esfaqueou Loupian até a morte.

E Allut? A essa altura ele identificou Picaud e sabia o que estava acontecendo. Antes que chegasse a sua vez, o sequestrou e o feriu gravemente no cativeiro. Picaud acabou sendo encontrado pela polícia francesa, e foi quando ele confessou tudo o que aconteceu – ficando um depoimento oficial – e morreu devido aos ferimentos. Que história, não é?

Há outras sugestões como a inspiração, mas em geral é a fascinante história de Picaud que é aceita como a base de O Conde de Monte Cristo.

Um clássico da literatura, perfeito para o cinema e TV

A história de Edmond Dantès é visto como um conto de advertência sobre os perigos da busca de vingança, à medida que sua vida é consumida pela vingança e ele perde de vista quem ele um dia foi.

No caso da trama de Dumas, Edmond perde tudo quando é injustamente acusado de ser um traidor bonapartista. Os homens que lucrariam com seu “afastamento”, são Danglars, que cobiça a posição de Edmond como capitão, Fernand Mondego, que deseja a noiva dele, Mercedes e Villefort, o promotor monarquista que quer proteger suas ambições políticas. Para doer ainda mais, Edmond é preso no dia de seu casamento, sem julgamento, e é condenado à prisão perpétua na prisão da ilha Château d’If. Em vez de sete, ele ficou quatorze anos preso e faz amizade com um companheiro de prisão, Abbé Faria, que o educa em diversas matérias e revela a localização de um vasto tesouro na ilha de Monte Cristo. Quando Faria morre, Edmond foge ocupando o lugar do corpo do amigo no saco funerário e é jogado ao mar. Ele encontra o tesouro, assume uma nova identidade – como Conde de Monte Cristo – e retorna à Paris para se vingar. Arruína meticulosamente Danglars, Fernand e Villefort, expondo a verdade.

Ao longo do caminho, Edmond recompensa quem foi gentil com ele e termina com um final em aberto, com o Conde indo para um destino desconhecido.

O primeiro filme, em 1908, ainda no período do cinema mudo, teve Hobart Bosworth como Edmond. Em 1922, John Gilbert interpretou o Conde, depois Robert Donat e ao longo dos anos ganhou nova vida com Jean Marais (em 1954) e Louis Jordan (1961). A mais recente foi a de 2002, com Jim Caviezel e agora, em 2024, vem a super produção francesa com Pierre Niney no papel título. O filme chegará aos cinemas em junhod e 2024. Ou seja, em 180 anos, a história ainda não cansou. Será que fará sucesso?


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