A loucura de Alicent Hightower

Embora alguns fãs reclamem das liberdades criativas que House of the Dragon tenha tomado em relação ao livro, um dos acertos foi a que aproveitaram para recontextualizar Alicent Hightower (Olivia Cooke). Reprimida, magoada e religiosa mais do que necessariamente ambiciosa, Alicent não é uma inimiga a ser subestimada, embora ela ainda seja tanto por seus aliados como oponentes.

A única que a trata com cautela é Rhaenyra (Emma D’Arcy), cujo amor e amizade de juventude vai se tornando um ódio visceral. Segundo os mais atentos perceberam, já na segunda temporada o que muitos resumem como “a loucura de Alicent” está pré anunciada e de fato os trailers sugerem que o que o livro descreveu seu estado de espírito nos últimos dias de sua vida tem semente no draga que veremos em menos de três meses. Considerando que uma “mad queen” foi tema de polêmica em Game of Thrones, como lidar com a frágil saúde mental das mulheres Hightowers? Será interessante acompanhar.

Mais do que ambição, comprometimento com as regras

Na série, onde Alicent é mais jovem do que na obra original, ela cresce em meio à muita pressão política, mas com sonhos mais baixos dos que os de seu pai. Órfã de mãe, à sombra da carreira do pai, Otto Hightower (Rhys Iphans), Mão do Rei, a jovem acaba sendo usada para que sua Casa ascenda de vez, inesperadamente (para ela) virando Rainha quando Viserys I (Paddy Considine), fica viúvo.

Pra uma menina que já se feria nas mãos arracando a pele das unhas quando ficava ansiosa, a Coroa só piora tudo. Ela tem que se relacionar com um homem bem mais velho, ter filhos, ser discreta e obediente, perde sua melhor amiga, a enteada que agora a ressente por ter se casado com o pai, e praticamente ver sua vida acabar diante das tramas do Poder. Alicent tem tudo, menos autonomia e futuro. O desgaste é uma tragédia anunciada.

No livro, tinha um bom relacionamento com Rhaenyra, mas quando seu primogênito, Príncipe Aegon, nasceu, viu Rhaenyra ficar ainda mais ressabiada e estranha, paralelamente vivendo uma vida de prazer e felicidade das quais Alicent foi privada. Na série não é diferente, mostrando que a relação maternal com sua prole é radicalmente oposta à de Rhaenyra: fria, distante e complexa.

Além de Aegon II, Alicent tem uma filha, a Princesa Helaena, e outros filhos, o Príncipe Aemond e Daeron, todos sem entrarem na sucessão por escolha de Viserys.

Os erros de Alicent até adotar a cor de guerra de sua casa: verde

Enquanto nova, Alicent não tinha um estilo pessoal ou personalidade definidas, o que muda ao se sentir ignorada e manipulada por Rhaenyra e Viserys, adotando o Verde de sua casa como assinatura, declarando guerra velada aos que apoiam a princesa, que só usa preto.

Na passagem de tempo na série percebemos como a Rainha consorte muda e ganha liderança, agindo “pelos bons costumes”, defendendo seus filhos e ansiando para testemunhar a queda de Rhaenyra. Alicent custou a decidir que lado era o que abraçaria e por um tempo seu pai ficou prejudicado pela falta de maturidade política da filha. Por sorte dele, outros partilhava do desejo de impedir que Rhaenyra se sentasse no trono, mas o ‘atraso’ de Alicent de tomar liderança atrapalhou os planos dos Hightowers. E muito.

Alicent tem dois fiéis apoiadores pessoais, com quem consegue ser honesta e com quem faz todos seus planos políticos: Ser Larys Strong, que a mantém informada de tudo, e principalmente Sor Criston Cole (Fabien Frankel), ex-companheiro de Rhaenyra que mudou de lado depois do casamento da princesa com Laenor Velaryon. Desde então ele foi nomeado escudo pessoal juramentado de Alicent e sempre está com ela.

Na série, Alicent não pressiona o marido a mudar a ordem sucessória e só passa a querer seus filhos quando Rhaenyra claramente têm filhos bastardos e nada acontece para colocá-la em risco. Embora a enteada seja indiferente aos meio-irmãos, Alicent se convence de que uma vez Rainha, matará qualquer um que a coloque em risco sua Coroa, tornando-se perigosa e um tanto paranóica.

Testemunha da tragédia da vingança: uma tática que só gera dor

Antes da morte de Viserys, Alicent teve um único confronto aberto com Rhaenyra, isso quando Aemond ficou cego de um olho quando brigou com os sobrinhos, em especial, Lucaerys. Ela tentou atacar a criança com uma adaga, pedindo o olho por olho para equilibrar a tragédia, claro sem conseguir. O que resultou dessa noite fatídica é a sombra da morte sobre seus próprios filhos.

No livro, Viserys I determina que Alicent e seus filhos permaneceriam na corte em King’s Landing, enquanto Rhaenyra e sua família permaneceriam em Pedra do Dragão, mas na série o afastamento era anterior ao drama e só faz as relações entre parentes ficarem ainda mais tóxicas.

O casamento com Daemon Targaryen (Matt Smith) dá à Rhaenyra o apoio necessário para estabilizar sua posição de herdeira, e, diferentemente do livro, não vemos Alicent perdendo as estribeiras quando sabe que Rhaenyra batizou seu primogênito com Daemon também como Aegon, vendo na escolha o desprezo contra seu próprio filho.

Anos depois, Aemond atacou Lucaerys e matou o filho predileto de Rhaenyra, levando a Daemon argumentar o uso do mesmo “olho por olho, um filho pelo outro”. Alicent sentirá na pele o que é a vingança Targaryen.

O ataque à Helaena e seus filhos será no quarto da Rainha,. Alicent será surpreendida, amarrarada e amordaçada, esperando pelo pior.

Ela também verá sua filha chorar e implorar pelos filhos, e testemunhará o assassinato do Príncipe Jaehaerys, filho de Aegon II. A dor da Rainha mãe será dobrada ao perder o neto e ver a filha enlouquecer. Afinal, Helaena nunca volta a ser a mesma a partir dessa noite, podemos dizer que Alicent tampouco.

A Rainha Louca?

No livro fica um tanto em aberto se Alicent “acelerou” a morte de Viserys para dar um golpe de Estado, mas na série a rainha genuinamente se confunde com o que ouve e acredita que seus filhos são os que trarão estabilidade ao reino. Mas, até agora, Alicent é insegura e obcecada, mas consciente.

Com o trauma de Helaena, sua única filha e a quem ela colocou sua própria coroa na cabeça antes de chamá-la “minha rainha”, Alicent terá uma chance em House of the Dragon de vir a ser a “nova Cersei Lannister”, o que quem conhece Game of Thrones, é perigoso.

O conceito de “rainha louca” é um que flerta com o público há tempos, com Cersei Lannister explodindo inimigos e Daenerys Targaryen destruindo a capital. Antes do fim da série, será tanto Helaena – que eventualmente se mata ou será morta – como Alicent serão as rainhas loucas. Quem as culparia?

Imagina-se que a segunda temporada terminará com Rhaenyra tomando King’s Landing, onde. a violência contra os verdes escala. Será na terceira temporada que Alicent ficará pior, mas nos dois trailers, vemos que Alicent terá momentos onde vai mergulhar sozinha, meio que parecendo buscar o silêncio. É para muitos, a confirmação da perda de razão de Alicent Hightower.

Na parte final, Alicent testemunhará a execução de seu pai, a morte de seus três filhos (Aemond, Helaena, Daeron e até Aegon II, além dos dois netos homens), o que contribuirá para seu isolamento e aversão ao Verde. Para piorar, verá o filho de Rhaenyra e Daemon a assumir o Trono de Ferro e vai se casar cim sua única neta, Jaehaera, contra sua vontade.

Será incrível acompanhar o grande trabalho de Olivia Cooke em um dos papéis mais interessantes de toda saga. Será que a jornada da dor de Alicent terá desequilíbrio emocional? O que é certo é que ela é um dos perigos.


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