Argylle: a fantasia de aventura com fórmulas conhecidas

Argylle é uma comédia non-sense com reviravoltas sendo mais o foco do roteiro do que uma história efetivamente com sentido. A produção da Apple TV Plus traz um grande elenco, voltas ao mundo e um ritmo característico do diretor Matthew Vaughn, mais conhecido por Kingsman. Em geral a aventura de espionagem humorada tem sido massacrada pela crítica, mas, sem inventar a roda, diverte. Um pouco, pelo menos!

Num universo de espiões, uma inspiração dos anos 1980s

Depois de Tudo por Uma Esmeralda (Romancing the Stone), que por sua vez lembra muito a proposta de O Magnifico, de 1973 ter um escritor (ou escritora) vivendo inesperadamente a aventura que imagina no papel passou a ser uma fórmula stand by de Hollywood para romcoms ou, como é o caso aqui, uma forma de brincar com as aventuras de espionagem.

No filme francês de 1973, estrelado por Jean-Paul Belmondo e Jaqueline Bisset, Francois é autor de romances de espionagem cujo herói, Bob Saint Clair, é extremamente popular (claramente uma alusão à James Bond) e o oposto de sua personalidade. O sucesso de sua obra desperta o interesse acadêmico de Christiane, uma linda estudante inglesa de sociologia, que inspira a François a inovar no livro que está escrevendo e que deve ser o último com Saint Clair.

Mais da metade das ‘piadas’ do filme estão canceladas nos dias de hoje, mas O Magnífico foi por muito tempo, hilário. No entanto, não fez tanto sucesso como Tudo por Uma Esmeralda (Romancing the Stone), lançado em março de 1984 e um dos grandes clássicos recentes do cinema. Nele, Joan Wilder é uma escritora solitária e tímida, que vende best-sellers de aventuras exóticas e fantasiosas, até que acidentalmente é levada a viver na vida real uma aventura que nem ela poderia ter imaginado, quando seu cunhado é assassinado por traficantes colombianos e sua irmã é sequestrada. Para salvá-la, Joan parte para a Colômbia, onde acidentalmente conhece o aventureiro Jack Colton, que a ajuda a encontrar a esmeralda do título e salvar o dia.

Em Argylle, Elly Conway (Bryce Dallas Howard) é uma escritora reclusa de best sellers de espionagem, sempre com o agente Argylle (Henry Cavill) e sua equipe. Em um momento de falta de inspiração para terminar o livro atual, a vida de Elly sofre uma reviravolta quando passa a ser alvo de agências de espionagem que identificaram em suas obras detalhes extremamente apurados de atos ilícitos de uma sinistra organização criminosa, portanto querem saber antes do tempo como o livro termina. Isso desencadeia uma série de eventos que tiram Elly de sua apatia e a jogam num universo que apenas seus livros faziam sentido: jatinhos, bombas, ataques e suspense onde ficção e realidade não são mais diferentes.

Argylle também lembra Cidade Perdida

Já falaremos mais das viradas, mas sim, se pensou que Argylle também lembra Cidade Perdida, com Sandra Bullock, Brad Pitt e Channing Tatum, não está sozinho. Embora o filme de 2022 seja abertamente uma revisitação do filme de 1984, ele tem mesmo muito em comum com Argylle: desde a trama à estética e às piadas.

Repare: a brilhante, porém reclusa, autora Loretta Sage (Sandra Bullock), que escreve sobre lugares exóticos em seus romances populares de aventura com o herói Dash (Brad Pitt), é sequestrada por um bilionário excêntrico (Daniel Radcliffe), porque ela acerta na descrição de uma cidade perdida em uma floresta tropical e pode ajudá-lo a encontrar um tesouro.  Porém o modelo usado nas capas do livro de Loretta, Alan (Channing Tatum), que acredita ser o verdadeiro Dash, tenta resgatá-la e assim os dois se vêem forçados a viver uma aventura épica na selva.

Voltando à Argylle, Elly é ajudada por Aidan (Sam Rockwell), um espião de verdade que ela não sabe se pode realmente confiar. Deculpem os spoilers, mas depois de usar a base conhecida que listei aqui, o filme então parte para uma série de pegadinhas para inverter a história e tentar trazer originalidade à ela. Porém TUDO já esteve em algum filme antes.

A maior revelação é a verdadeira identidade de Elly Conway. Como um Jason Bourne, ela sofreu uma perda de memória e foi manipulada por uma organização do mal, A Divisão, a trabalhar para eles. Seus livros são na verdade recontagem de aventuras lideradas por ela e seu último livro guarda o segredo que todos mais querem, um pen drive com informações sensíveis da Divisão e de vários governos.

Sam Rockwell sempre consegue navegar com facilidade entre comédia, drama e aventura, sendo que obviamente temos sua dança assinatura, e ele sustenta boa parte da maluquice de Argylle. Bryce teria a escolha menos obvia de uma espiã perfeita, mas não incomoda. O que os fãs adoraram está na cena de pós créditos no qual há a conexão de Argylle com o universo de Kingsman. Ou seja, se está sem coisa para ver, há em um filme uma lista significativa de títulos ainda mais interessantes para curtir a história de Vaughn. A dificuldade? Encontrar nas plataformas. Uma aventura que essa autora está se aventurando a decifrar!


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