460 anos de William Shakespeare

23 de abril de 2024 marca os 460 anos de nascimento de William Shakespeare, o maior dramaturgo inglês de todos os tempos e um dos mais influentes do mundo. É virtualmente impossível mesmo no século 21 não ter sido impactado por alguma de suas obras e o poder da atemporalidade de seu texto é ímpar.

A genialidade de Shakespeare é tanta que até hoje questionam sua autoria, duvidando que um ator de origem simples pudesse ter o poder de escrita, e mais ainda, análise psicológica da natureza humana tão apurada, creditando a autoria de suas peças à outros homens de origem nobre ou mais reconhecidos intelectualmente. Não entro nesse mérito, independentemente de “quem foi” William Shakespeare, suas palavras têm um poder e uma poesia emocionantes mesmo que traduzidos. Esse taurino que faz aniversário perto do meu é um dos meus ídolos.

Em sua biografia, falta informação

Nascido e criado em Stratford-upon-Avon, William Shakespeare ganhou destaque em sua carreira de ator e autor quando tinha cerca de 21 anos, quando também apareceu como co-proprietário da companhia de teatro Lord Chamberlain’s Men, mais tarde conhecida como King’s Men depois que James VI da Escócia sucedeu Elizabeth I no trono inglês.

As primeiras de suas obras mais famosas foram escritas quando tinha apenas 25 anos, sendo que se aposentou aos 49 (e morreu aos 52, no dia de seu aniversário). A falta dos registros históricos sobre sua vida fora dos palcos contribuem para a especulação que questiona sua genialidade, aparência física, sexualidade, religião e até autoria. Seus primeiros sucessos foram comédias e depois entrou na sua fase dramática, com peças que incluem Hamlet, Romeu e Julieta, Othelo, Macbeth, Rei Lear e A Tempestade.

Um gênio e suas obras

Muitas de suas peças são reconhecidas como dramas históricos, dramatizando personalidades como Reis e Rainhas, mas, obviamente, diante da cultura de sua época. Por exemplo, ricardianos questionam sua visão vilanesca de Ricardo III que influencia até hoje a biografia do último rei dos Yorks. É fácil implicar que Shakespeare jamais colocaria o homem derrotado pelo avô da Rainha Elizabeth I, sua patrona, como um nobre digno pois isso reascenderia a ira daqueles que consideravam os Tudors usurpadores da Coroa. Da mesma forma, o conto do Príncipe dinamarquês contou com ajustes dramáticos. Onde a Arte e a História se encontram e se afastam? Shakespeare certamente deixou essa área mais cinzenta.

Mesclando contos populares e figuras históricas, o texto de Shakespeare evoluiu da leveza das comédias até os dramas mais pesados, onde sua compreensão da natureza humana se revelou acima de qualquer outro. O estudo do ciúme de Othelo, as dúvidas existenciais de Hamlet, as consequências de um Rei que abre mão de seu poder em Rei Lear ou a ambição violenta de MacBeth, os textos de Shakespeare são estudados ainda em 2024 porque sua precisão (e poesia) traduzem sentimentos com uma precisão incrível.

Obviamente há peças problemáticas em tempos modernos. Em Os Dois Cavalheiros de Verona o texto parece aprovar estupro, em Mercador de Veneza as palavras contra o antagonista Shylock revelam anti semitismo, Othelo inclui feminicídio e A Megera Domada é uma história de repressão e “domesticação” de uma mulher forte e independente. Pois é, não dá para ser perfeito, mas como não ter problemas 400 anos depois?

A linguagem rebuscada das peças de Shakespeare refletem o estilo convencional da época, com metáforas complexas e a linguagem que visava atores declamando em vez de falando. Ele foi adaptando seu estilo aos poucos, ficando mais solto e combinando os dois.

Há uma métrica para a leitura de Shakespeare, que é pentâmetro iâmbico, onde das dez sílabas por linha, se fala com ênfase cada segunda sílaba, por isso é tão difícil interpretá-lo e há atores que o fazem melhor do que outros. Há textos onde o autor variou o fluxo, mas em geral demanda muita técnica para dar o destaque à beleza do raciocínio e das palavras.

A principal habilidade de Shakespeare foi também combinar poesia e drama, com uma capacidade de entender o que o público gostaria como nenhum algoritmo ainda hoje consegue reproduzir. Em poucas palavras: ele sabia dominar o pop. Suas peças tem uma estrutura onde há vários subtramas montando a principal e assim proporciona à audiência múltiplos lados de uma mesma narrativa. Segundo especialistas, isso é um dos segredos de sua atemporalidade pois não importa a tradução ou montagem, o drama central fica intacto. Além disso, ele sabia apresentar suas personagens com transparência e objetividade: sabemos suas motivações e reações, apenas acompanhamos os desdobramentos e consequências de seus atos.

Sua obra, escrita primordialmente para o teatro (há sonetos e poesias publicados, mas são as peças que o fazem ainda mais famoso) influenciaram atores, diretores, escritores, poetas, músicos, bailarinos, pintores, políticos, psicólogos e até cientistas desde então. Mais ainda, ele inspira as “pessoas comuns”.

Com a precisão de seu texto, Shakespeare também definiu o idioma inglês: seja na pronúncia ou gramática. Ele criou expressões que são usadas em outros idiomas inclusive, como “com a respiração suspensa” (Mercador de Veneza) e “uma conclusão precipitada” (Othelo). Sim citamos Shakespeare sem mesmo nos darmos conta.

As mais populares

No cinema, o top 5 das peças de William Shapeskeare transformadas em filmes são:

1- Hamlet

2- Romeu e Julieta

3- Macbeth

4- Othelo

5- Sonhos de Uma Noite de Verão

Shakespeare em números


– 37 peças (10 tragédias, 10 histórias, 17 comédias)

– 154 sonetos

– 884.647 palavras ao todo,

– 1.700 palavras na língua inglesa, são atribuídas à sua autoria

– Mais de 410 obras adaptadas para TV ou Cinema (até 2024)

– 1.800 filmes, incluindo em produção, sobre suas obras.

– 525 filmes dão a Shakespeare algum tipo de crédito como autor, incluindo 294 adaptações completas de suas peça.


– 64 mortes violentas em suas peças:

33 esfaqueamentos
7 envenenamentos
5 decapitações
2 corações partidos
2 enforcamentos
2 assados em uma torta
1 afogamento
1 sufocamento por travesseiro
1 falta de sono
1 morte súbita
1 picada de cobra
1 dilaceramento pela multidão
1 por comer brasas
1 “desaparecimento”
1 jogado no fogo
1 indigestão
1 enterrado até o pescoço e morrendo de fome
1 cortado em pedaços
1 se joga
1 comido por urso

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