O sonho de Alicent e o “bem do reino”

“Tive um sonho, uma espécie de premonição sobre o fim da Dinastia Targaryen e do que sabemos”, diz Alicent Hightower (Olivia Cooke) no início do trailer final dos Verdes, a pouco menos de 30 dias para a ansiada estreia da segunda temporada de House of the Dragon.

O trailer em si não traz muitas novidades ou falas distintas do que a MAX topou dividir com a gente antecipadamente. Os trailers têm sido mais ou menos com as mesmas imagens ou falas da temporada, traçando o argumento dos Verdes que estão agindo “pelo bem do Reino” enquanto os Pretos lutam pelo que está certo, ou, na propaganda Hightower, por Vingança.

Porém abrir com Alicent ainda acreditando que está sendo correta e não vingativa é exatamente o ponto que a série, e George R. R. Martin, quer destacar: se você acredita nela ou não. Eu não, claro. Mas sonhos têm sido complexos em House of the Dragon e ter Alicent falando de premonições é um dos pontos essenciais da personagem na série. Em poucas palavras: ela é burra, iludida ou falsa?

A hipocrisia e cara de pau de Otto Hightower

A série manteve uma das dúvidas essenciais do livro: os Hightowers estariam matando Targaryens há anos? Alicent do livro era a “leitora favorita”de Jaeherys, alguns supeitavam até algo a mais entre os dois e estava sozinha com ele quando faleceu. Anos depois, foi escolhida por Viserys I como sua segunda esposa e ele também morreu suspeitosamente de uma hora para a outra. E Alicent era quem administrava sua medicação. E Alicent é obediente e partidária de seu pai, Otto Hightower (Rhys Iphans), outro que se vende como “honesto e bem intencionado”, mas sabemos que bem longe disso.

“Nós prevaleceremos e traremos a Paz, mas vocês devem aceitar que o caminho para a Vitória agora é de violência”, Otto aparentemente diz à Alicent, o que é contraditório pois é justamente o que ele aconselha ao neto evitar. Percebem como Otto é falso?

Porque ele fica alegando que é para o “bem do reino” que Daemon deve ficar longe do Trono e de Westeros, embora seja sangue puro e esteja na linha sucessória. Para garantir isso, ignorou o gênero de Rhaenyra e aconselhou que ela fosse a sucessora, “pelo bem do reino”. Imediatamente após sua filha Alicent dar luz à Aegon, o mesmo Otto começou a insistir que “para o bem do reino”, seu neto fosse o sucessor e que ninguém aceitaria uma rainha. Como não se todos juraram lealdade à Coroa, como ELE mesmo fez e recomendou?

Meu ódio por Otto não é pequeno e tenho a grande satisfação de saber que o dele está escrito. No entanto, antes, muitos inocentes vão pagar “pelo bem do reino”.

Os sonhos confusos envolvendo Targaryens

Saber que Alicent vai buscar “confirmação moral” do que ela quer acreditar ter sido uma iniciativa certa do lado dela, embora saiba que o pai já tinha articulado um golpe, era natural. Alicent, na série, é uma mulher frustrada, manipulada, ressentida, abusada e invejosa. Rhaenyra para ela é tudo que ela não teve ou não pôde ser: amada pelos pais, livre para escolher um marido, abertamente vivendo casos de amor com outros homens e ainda assim Rainha e adorada.

“Apenas algumas semanas atrás, meu Senhor marido estava vivo e o reino estava em paz. Você sabia que o Reino nunca aceitaria uma Rainha”, ouvimos Alicent. “Onde está o dever?”, ela perguntou desesperada quando atacou a enteada/ex-amiga na 1ª temporada. Na experiência de Alicent, ela fez tudo que mandaram e ainda assim é ignorada, ridicularizada e infeliz. Obvio que ela queria ver Rhaenyra ser punida e tentou inúmeras vezes expor, bem, convenhamos, a verdade. A “virtude” da Princesa foi comprometida anos atrás, ela teve nada menos do que três filhos com o amante e ainda circulava como se as regras não se aplicassem à ela. Dá para entender Alicent, não é?

Mas o fato de que Alicent entendeu errado o que Viserys disse a ela antes de morrer – “tem que ser Aegon” – mesmo tendo se arrastado ao Trono há poucas horas para reafirmar a posição de Rhaenyra, não é exatamente “um erro de roteiro”. O próprio Viserys plantou a semente da discórdia.

No episódio 3 da 1ª temporada, o que é para celebrar o aniversário de 2 anos de Aegon, Rhaenyra e o pai estavam em uma birra sem fim. Naquele momento, em um momento meio delirante, Viserys revelou à sua jovem esposa estar em dúvida quanto a sua escolha de Rhaenyra, sem entrar nos detalhes de que ele estava tentando entender a profecia de Aegon, o Conquistador, que aludia à guerra entre vivos e mortos e a necessidade de um Targaryen estar no trono. Alicent nunca demonstrou sagacidade, jogar nela palavras confusas é pedir uma má interpretação. E bingo!

Nesse mesmo episódio vemos Alicent dando conselhos importantes à Viserys, inclusive indo contra o que Otto dizia, que era deixar Corlys Velaryon (Steve Toussaint) e Daemon Targaryen (Matt Smith) morrerem na Guerra das Stepstones. (que ódio de Otto!) Havia ali uma relação de confiança e confidência entre marido e mulher, Alicent não era um objeto para Viserys. E ALI foi plantado o mal entendido.

Isso mesmo, naquele momento, Alicent ainda estava tentando se encaixar na família Targaryen, sendo respeitosa com a amiga/enteada e carinhosa com o marido. Dez anos depois, quando se convenceu que seu pai estava certo e que tanto Viserys como Rhaenyra mentiram para ela, Alicent era (literalmente) outra pessoa. Mais agressiva, venenosa (mesmo sob a aparência puritana) e ardilosa.

Na compreensão de Alicent, no entanto, ela está certa, afinal ela fez todos os sacrifícios demandado dela, ela só quer “justiça”. Como passou uma década cobrando do Rei que de alguma forma confrontasse Rhaenyra pelos filhos bastardos, ouvir dele em seus últimos momentos que “precisava ser Aegon”, é sim para ela, uma resposta de Viserys à ela, confirmando de que sempre teve razão.

Otto não fez nada para dissipar a iditioce de sua filha, afinal, ela estava afim do “jogo sujo” e caiu como uma luva ter essa informação que faria do que já iria acontecer, algo legítimo. O quanto a série vai explorar o gaslighting paterno é incerto, mas Alicent vai sentir na pele as consequências do que fez. Claro, se vitimizando. Ela pode ter sido abrupta e suspeita ao simplesmente coroar o filho rapidamente sem nem avisar à Rhaenyra que perdeu o pai e a coroa. E mesmo que saiba que será Aemond (Ewan Mitchell) que dará o ponta-pé para a guerra matando Lucaerys, na visão de Alicent (e de Otto, obvio, que aproveita a carona em mais uma deturpação da filha), o “problema” de Rhaenyra é querer ser rainha “por vingança”. Alô? Como assim?

Como membro partidário dos Pretos, claro que estou ansiosa para saber mais do sonho de Alicent… será que ela virou vidente? Será que viu Daenerys e pensou em Rhaenyra? Ou só “sonhou” o óbvio?




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