Reboots ou refilmagens são complexos. Um bom exemplo é o caso de Acima de Qualquer Suspeita (Presumed Innocent), apesar dos 43 anos que separam o original, o elemento da surpresa da época do lançamento pode rapidamente ser eliminado com apenas uma pesquisa online, enquanto em 1987, foi um choque. Certamente os produtores, David E. Kelley e J.J. Abrahams, apostam na falta de informação para pegar um público novo. Pelos dois primeiros episódios, parecem estar na direção certa.

Um dos grandes segredos dessa nova versão da história, que foi best-seller e um filme de sucesso no início dos anos 1990s, está no ritmo, na narrativa que mescla bem flashbacks com o drama na atualidade e – sem dúvida – no elenco liderado por um excelente Jake Gyllenhaal. Há química, há complexidade e o drama nos engaja, mesmo como eu, que já sabe quem e como matou Carolyn Polhemus (Renate Reinsve). Não vou dar spoiler aqui porque já dei no post anterior.
Vamos considerar que você não leu o livro, não viu o filme e não sabe da história. Seguindo o livro de Scott Turow, Rusty Sabich (Gyllenhaal) é um procurador acusado de matar a colega com quem tinha um caso e NINGUÉM desconfiava. Embora ele nos afirme o tempo todo que é inocente, todas as evidências apontam para a culpa dele quase sem espaço para dúvida. Rusty era obcecado por Carolyn, o relacionamento terminou mal e ela estava grávida (dele). Embora conviva com uma esposa magoada, Barbara (Ruth Negga) o apóia incondicionalmente.
Para piorar tudo, no trabalho, Rusty lida com a perseguição política (e invejosa) de adversários perigosos que querem destruir sua carreira e vida. É basicamente o que os dois primeiros episódios mostram, as reviravoltas estão à caminho.


Alguns críticos, aparentemente apegados ao filme de 1990 que tinha Harrison Ford como Rusty, estão um tanto irritados com as “adaptações” da série da Apple TV Plus, mas há a vantagem de que com mais horas (são oito episódios), não terão que resumir ou acelerar nada como o original. Eles preferem o que chamam a atuação minimalista de Ford em comparação à atual, mas é bobagem. Faz mais sentido o que estamos vendo com Gyllenhaal.
Nos anos 1990s, havia a retrógrada narrativa de ter Carolyn como uma devassa que quase merecia morrer em contraste à sensibilidade de Barbara, a série já nos expõe maiores camadas onde não há exatamente virtude versus promiscuidade. Mais ainda, o original ficava mais na tradicional fórmula de julgamentos, mas aqui a vida doméstica tem maior destaque. A questão é mesmo confundir o público sobre presumir a inocência antes que a culpa seja provada acima de qualquer suspeita e como outros, minha suspeita é que vão mudar o final original justamente porque quem sabe da história pode ainda ser surpreendido. Será?
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