Will Smith: de volta ao básico

Para quem acompanhou a ascensão de Will Smith em Hollywood a noite de 27 março de 2022 foi um tapa na NOSSA cara também: a noite na qual coroaria Will como uma lenda do cinema entrou para a História, mas pelos motivos errados. A partir daí, o comediante Chris Rock – que seria lendário por seu mérito próprio, mas comparativamente “menor” que Will Smith – ficou para sempre ligado à um dos eventos mais chocantes do Oscar.

Desde então, no caminho inverso de seus antecessores, a estrela do ator vencedor flertou perigosamente com o cancelamento e ele precisou de alguma forma “sumir” para sobreviver. Está de volta estapeando a todos ao conseguir bater os 56 milhões de dólares nos Estados Unidos em um único fim-de-semana e mais de 100 milhões ao redor do mundo com Bad Boys 4: Ou Tudo ou Nada, um filme seguro para dar o reboot em sua carreira.

O que tem gerado manchetes não é a história (simples e superficial, como todos da franquia) ou das cenas de ação, mas o fato de que Smith tenta pesadamente fazer “piada” com seu erro, dividindo opiniões. Isso mesmo, há muitos tapas em sua cara ao longo da ação, numa metalinguagem que tanto diz que ele está dando sua cara a tapa para críticos e sim, minimizando o que claramente não vê como erro. Nossa, esse tapa é realmente “profundo”.

Eu era fã de Will Smith, nunca amei Chris Rock e não curto Jada Pinkett-Smith. Vou deixar bem clara minha opinião para evitar dúvidas. Chris sempre foi meio grosseiro, Jada sempre foi linda, mas arrogante e Will navegava entre eles simpático e autêntico. A longa relação dele com a esposa sempre foi turbulenta e esquisita, mas apenas o tapa deixou tão clara como é profundamente complexa e triste.

Eu discordo de muitas amigas de muita coisa sobre aquela noite do Oscar. Primeiro, eu entendi a referência de Chris Rock quando brincou que Jada parecia G.I. Jane: a soldado americana do filme estrelado por Demi Moore era corajosa, vencedora e icônica. Mas também entendi que ele estava brincando que ela “queria” ser G.I. Jane, porém ele alega – e acredito – que não sabia que o visual de Jada era porque ela sofre de alopécia e perdeu o cabelo. Se Will tivesse esperado 20 minutos, ele poderia ter destruído o ex-amigo quando subisse ao palco para receber seu Oscar de Melhor Ator. Mas ele, que riu da brincadeira e só resolveu tomar atitude quando viu que Jada fechou a cara, deixou sua emoção tomar conta e colocou tudo a perder.

Em tempos recentes, ter um homem defendendo a honra da mulher era algo romântico. Hoje é desnecessário. Will não conseguiu mudar em nada quem já não simpatizava com Jada, até piorou a situação, e se destruiu aos olhos de muitos fãs. Não importa a versão dos fatos, Will Smith errou na hora, errou depois e segue errando. Chris Rock, por outro lado, fez o que é preciso. Manteve a pose, respondeu esporadicamente e seguiu em frente.

Logo após o incidente, tanto Jada como Will tentaram “conversar” com Chris, mas no programa dela no Facebook, ao qual o comediante mandou um “Não, obrigado” que mais uma vez estava justificado. Mesmo o pedido de desculpas do ator soou mais uma crítica à Chris do que arrependimento, algo que Bad Boys 4 repete.

Até a noite do Oscar eu acreditava no sorriso e nas lágrimas de Will Smith, mas, desde então, tudo me parece premeditado, uma consciência de um carisma ímpar. Voltar à franquia que fez dele uma estrela do cinema é a prova disso. É a regra do recomeço do zero, literalmente, para testar e provar que ainda tem apelo de mercado.

E aqui está minha raiva renovada: se não se arrepende, mantenha a cabeça erguida que fez o que achou melhor. Agredir alguém (fisicamente) e depois agredir moralmente, sugerindo que o agredido está errado em não perdoar e ter humor de ter levado um tapa na cara na frente de milhões confirma a falta de sensibilidade de Will Smith.

As bilheterias internacionais provam que a estratégia do ator vai funcionar, mas não comigo. Não quero ver nada com ou sobre Will Smith por um bom tempo. Nem tabefes.


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