Mesmo em Fogo e Sangue, o livro que narra a saga dos Targaryens, há pouca menção de interação entre as meia-irmãs Rhaenyra e Helaena, mas, na série House of the Dragon, é inexistente. As duas circulam no mesmo meio, mas sempre distantes sem jamais endereçar duas palavras ou sequer olhares.
Parte dessa distância é porque, na série, os showrunners decidiram que a Alicent Hightower seria a amiga-inimiga de Rhaenyra, mas isso não reduz o fato de que, indiretamente, ela e Helaena são unidas pela mesma dor de perderem filhos de forma traumática e violenta sem terem necessariamente algo a ver com isso.

Como estamos acompanhando, a guerra civil resulta em muitas perdas e tragédias para ambas as facções Targaryen, destacando a natureza brutal e devastadora dos conflitos pelo poder. E o motor propulsor de todo conflito é o machismo pois são os homens que mesmo tecnicamente nos bastidores provocam conflitos e fatos que causam mortes e brigas. (Sim, senhor Otto Hightower, estou apontando o dedo para o senhor!)
Embora o foco principal de Fogo & Sangue sejam os eventos históricos e menos sobre as nuances emocionais dos personagens individuais, a série House of the Dragon tem a chance de explorar esse vácuo.
Tanto pela distância de idade como ambições políticas, Rhaenyra e Helaena nunca tiveram a chance de serem apenas duas irmãs. A filha mais nova de Viserys I, com sua segunda esposa, Alicent, nasceu quando a primogênita já era a herdeira oficial e não apenas começava a lidar com a vida adulta, mas se sentia (justificadamente) insegura com os Nobres de Westeros que juraram fidelidade, mas que nos bastidores esperavam e pressionavam ao Rei para mudar a ordem sucessória e colocá-la de volta “ao normal”, ou seja, passar a coroa para Aegon II em vez de Rhaenyra.

E Helaena como irmã de Aegon II, o principal rival oficial de Rhaenyra pelo Trono de Ferro, é também afastada. O livro não fornece muitos detalhes específicos sobre os sentimentos pessoais de Helaena em relação a Rhaenyra, ou vice-versa. No entanto, além de perderem seus filhos, suas mortes estão igualmente ligadas, assim como o destino de seus herdeiros e netos.
Uma oportunidade de união familiar perdida na política
Quando conhecemos Rhaenyra, ela era a única criança do casamento de Viserys e Aemma que tinha sobrevivido, todos seus irmãos morriam no ou após o parto, sendo que a última gravidez custou a vida da Rainha. Não é dito, mas obviamente percebemos pela intensidade da amizade que desenvolve com Alicent, que Rhaenyra apreciaria e muito ter tido uma irmã de sangue para poder partilhar suas alegrias e tristezas, ainda mais depois que percebeu que a única pessoa com quem tinha essa relação a traiu, se casando com um Viserys viúvo e vulnerável.
Como é comum nos primeiros anos de filhos que acompanham seu pai recomeçar a vida, era natural que houvesse ciúmes e inseguranças, mas, com o tempo, poderia haver também cumplicidade além da conexão sanguinea entre as duas princesas. No entanto, com a insegurança plantada por Otto em Alicent e o ressentimento e inveja dela pela enteada/ex-amiga, nunca houve chance para as meias-irmãs.

Para piorar, a sensível e vidente Helaena – sempre ignorada pela mãe e irmãos – foi indiretamente “levada” ao casamento com o asqueroso e cruel irmão mais velho, Aegon II, justamente porque Rhaenyra sugeriu (e Viserys adorou) que ela se casasse com o sobrinho, Jacaerys Velaryon. Alicent não viu a oferta como uma tentativa de Paz, assim como Viserys foi contrário à idéia de Otto de ter casado Rhaenyra com Aegon, quando o menino ainda tinha 2 anos e a irmã, 16. Alicent, espelhando sua própria negatividade, ignorou a genuina boa vontade de Rhaenyra. Para ela, a intenção real era a de “regularizar” a situação de Jace, claramente bastardo e filho de Ser Harwin Strong. Talvez fosse o bonus para Rhaenyra, mas, efetivamente como primogênito dela e herdeiro assumido do Trono de Ferro, Jacaerys casado com uma meia-Hightower também asseguraria o que tanto Otto queria. Apenas levaria mais tempo.
Portanto, graças à ambição desmedida do avô e a decisão emocional de sua mãe, Helaena se viu forçada a ser a esposa de um predador sexual que a ignora nos melhores dias e a maltrata nos outros. E, com ele, foi mãe dos gêmeos Jaehaerys e Jaehaera (no livro foram três filhos).
Jacaerys e Lucaerys, embora sobrinhos, tinham idades próximas de seus tios Aegon, Helaena e Aemond, por isso o relacionamento entre eles existia, mesmo que cheio de conflitos. Tanto que um dos momentos mais doces da 1ª temporada foi a cena na qual Jace tira a tia para dançar (irritando Aegon).
Toda rivalidade se intensifica com a morte de Viserys I. Com o golpe dos Verdes (apenas Alicent tentou passar a história de que o Rei mudou de ideia na última hora, mas não convenceu ninguém, de verdade), a disputa pela sucessão ao trono se tornou real. Helaena, sendo leal à sua família imediata, os Hightowers, apoia a reivindicação do marido irmão, enquanto Rhaenyra luta para manter sua posição como herdeira legítima. Ainda assim, que se saiba, não há “ódio” entre elas. Talvez depois de Sangue e Queijo isso mude.


Após a coroação indevida de Aegon II, Rhaenyra poderia reconhecer a agilidade dos Verdes e aceitar sua “derrota”, como Alicent esperava, pelo bem de Westeros. Não que Otto fosse deixá-la (ou seus filhos) viver, mas como herdeira legítima, se recusou.
Diante do impasse, o passo para resolver o conflito pacificamente era ter o maior número de apoiadores nos sete reinos, o que gerou imediatamente a corrida por aliados. Infelizmente, quis o Destino (ainda mais do que Otto) que a violência escalasse.
Aemond ataca Lucaerys e sem conseguir controlar Vaghar, mata o sobrinho. Não testemunhamos em House of the Dragon a passagem que há no livro, na qual Aemond anuncia que matou o sobrinho deliberadamente e Alicent, assim como Otto, se desespera antecipando a resposta à altura dos Pretos. Se dependesse de Daemon, teria vindo, mas Rhaenyra, paralizada com a dor, impediu.

Mas é claro que a Paz não era para durar. Ao encontrar os restos de Lucaerys, Rhaenyra volta seu ódio para o meio-irmão do meio e demanda sem meias palavras que “quer Aemond Targaryen” para responder por seu crime. Daemon, inquieto, gritou que estava cuidando de tudo correndo para King’s Landing.
Daemon contrata Sangue e Queijo para “matarem o príncipe” e, no caso de não encontrarem Aemond fica no ar a alternativa. Vimos que ela acabou sendo tirar de Helaena seu filho Jaehaerys e da forma mais violenta imaginável.

O que sabemos é que Helaena nunca se recupera do trauma, que se houvesse seu filho Maelor seria ainda pior. Rhaenyra, que jamais mandaria matar uma criança inocente, ficará com a fama de Cruel e jamais recupera sua credibilidade. Dessa forma, pelo conhecimento geral, uma irmã mandou matar o filho da outra por pura vingança. E, na verdade, ambas não tiveram nada a ver com o que aconteceu com o filho da outra.
O que poderia ser mais Game of Thrones do que isso?
E como claramente está antecipando a dúvida do que vai acontecer com os filhos de Rhaenyra e Helaena, vale relembrar.
Lucerys é morto por Aemond Targaryen, irmão de Helaena, durante um confronto aéreo entre dragões. Por conta desse “acidente”, o pequeno Jaehaerys é assassinado por ordem de Daemon Targaryen, “em nome de Rhaenyra”.

É uma passagem tão importante que ainda não vejo House of the Dragon cortando. Ainda mais que é por isso que o povo em King’s Landing se volta contra Rhaenyra e, na fuga, Joffrey Velaryon morre tentando salvar sua mãe e ela é capturada por Aegon II, que a mata a dando para ser executada pelo dragão, Sunfyre.
Em seguida, Jacaerys vai morrer em batalha, lutando bravamente pela causa de sua mãe e protegendo seus irmãos mais novos, Aegon III e Viserys II. Na série não conhecemos Maelor, que seria o caçula de Helaena e que é capturado durante a guerra e acaba sendo morto em um ato brutal. Um do qual sua mãe jamais se recuperaria e se mataria, embora os rumores fiquem de que Rhaenyra a teria matado.
Mesmo sem Helaena ou Rhaenyra, “sobram” três crianças: Jaehaera, Aegon III e Viserys II, que sobrevivem à guerra. Aegon III eventualmente se torna rei, mas ele nunca se recupera do trauma de ter testemunhado a execução de sua mãe, nem Jaehaera, que se casa com o primo. Com uma vida marcada por tristeza, ela também, eventualmente comete suicídio.
E Viserys II, que é capturado na batalha na qual Jacaerys é morto, é mantido prisioneiro pelos inimigos de Rhaenyra por anos, mas depois que é libertado se torna Mão do Rei para seu irmão, Aegon III.
E no futuro, da linhagem dos filhos de Aegon III e Jaehaera é que vem Rhaeghar, Viserys III e Daenerys Targaryen. E sim, Jon Snow. Ou seja, de uma forma trágica e triste, o destino de toda saga está marcada pela dor de duas irmãs que jamais conviveram ou tampouco desejaram mal uma à outra. Mas o Jogo dos Tronos destruiu suas vidas.
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