Grandes Hits (Greatest Hits) – Uma Jornada Musical de Recomeço

Há inúmeros filmes sobre fins de relacionamentos e a dificuldade da heroína de seguir em frente, por isso, não se pode dizer que Grandes Hits (Greatest Hits) está no campo da originalidade. Tampouco por conta do apoio que a narrativa tem em cima de uma trilha sonora repleta de canções dos anos 1980s, ainda assim, é um filme que cumpre sua missão: esquenta nossos corações e emociona com sua conclusão. Encontre a música certa, mude seu passado. Encontre a pessoa certa, mude seu futuro, diz o cartaz com um resumo perfeito da trama.

Antes de comentar os detalhes, vamos ao resumo da história: encontramos Harriet (Lucy Boynton), uma jovem que vive em um universo estudadamente isolado – especialmente em som – mas que, quando está em casa sozinha, usa a música para literalmente voltar no tempo e reencontrar o namorado Max (David Corenswet). Rapidamente percebemos que Max morreu e que Harriet está há dois anos em um luto constante.

Isso acontece porque ao descobrir que as músicas que ouvia com ele abrem um portal no tempo, a meta dela é mudar a História e salvá-lo. Mas, para isso, precisa encontrar a última melodia que ouviram juntos, algo que ela ainda não conseguiu. Presa emocionalmente no passado, Harriet é confrontada com o presente ao conhecer David (Justin H. Min) em um grupo de terapia de luto. Com o envolvimento natural dos dois, ela precisa decidir como será seu futuro e a escolha não é fácil.

Primeiro uma pergunta: quem não guarda em seu coração aquela canção especial que te transporta emocionalmente para um momento do passado? Eu tenho minhas playlists para viagens, para semanas, para encontros e desencontros. Algumas perderam o efeito, outras o mantém intacto. Posso voltar para a viagem na estrada com a minha família ou para um dia corriqueiro qualquer que as risadas com amigos ou ex-namorados me esquentam o coração. A música é mesmo esse portal e o fato de que o roteirista e diretor Ned Benson apostou na fantasia literal é muito interessante.

Segundo consta, sua inspiração veio em 2008, quando leu Musicophilia: Tales of Music and the Brain, escrito pelo neurologista Oliver Sacks e que discute as conexões entre música e memória. O diretor, que fez sucesso com filmes como O Desaparecimento de Eleanor Rigby e Viúva Negra, sempre soube usar com precisão as canções para apoiar a história, mas, aqui, a trilha sonora seria ainda mais essencial. O roteiro começou a ser escrita em 2009 e apenas durante a pausa forçada da pandemia que voltou a ele.

Se você em algum momento pensa em Efeito Borboleta encontra 500 Dias com Ela está certo: são ambos filmes com ar mais esperançoso. Mais ainda, se considera que é uma reedição do que o diretor já fez antes, outros também perceberam. Ele se defende: “Esta é uma história magicamente real”, disse ele na época do lançamento. “Trata-se do início dos relacionamentos, das coisas às quais nos apegamos e de como um relacionamento pode ser necessário para passar para o próximo.”

Em apenas uma hora e meia, que passa rápido, Grandes Hits (Greatest Hits) é o nosso portal para experiências universais de perda, de dúvidas, de saudade e de recomeços. Mesmo a tragédia é tratada de forma suave, nos faz conectar com o passado, presente e sonhar com o futuro de Harriet, refletidas em um impecável gosto musical. Embora tenha críticos que esperavam que o filme fosse buscar a razão e a prática de como os portais são abertos, ou até mesmo porque apenas Harriet parece ser “afligida” pelo problema (ela não tem controle: se ouvir uma música na rua que abra o portal, ela desmaia e viaja no tempo e fica lá pelo tempo que a música durar), não entramos nessa estrada. Ela realmente não importa, entendemos a metáfora!

Em toda história que demande uma escolha irreversível da protagonista há a angústia de abrir mão tanto do que é bom ou do que poderia ser. Exatamente como Sliding Doors, a conclusão é doce e confortante. Se ainda não viu, não perca. Grandes Hits (Greatest Hits) está no Star Plus (que depois do final de junho de 2024 será apenas Disney Plus). E vai sim querer fazer Playlists. Eu vou atualizar a minha!

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