E se Daemon Targaryen fosse Rei?

A guerra civil Targaryen foi desencadeada pela ganância, manipulação e chauvinismo, levando a consequências devastadoras. O verdadeiro orquestrador: Otto Hightower (Rhys Iphans).

Para piorar, foi o ódio mútuo entre Otto e Daemon Targaryen (Matt Smith) que acelerou uma crise que poderia ter sido evitada, afinal, Daemon estava na linha sucessória e foi preterido por sua sobrinha, Rhaenyra (Emma D’Arcy), por sua vez, ursupada de seu título por seu meio-irmão, Aegon II (Tom Glynn-Carvey). Mas… e se Daemon tivesse sido rei?

A origem do problema: machismo e sucessão

Tecnicamente, o conflito começou imediatamente após a morte do rei Viserys I Targaryen (Paddy Considine). Viserys havia nomeado sua filha Rhaenyra como sua herdeira, e ela havia sido reconhecida como tal por muitos senhores de Westeros. No entanto, após a morte de Viserys, seu segundo filho, Aegon II, foi coroado rei por um grupo de nobres que apoiava a supremacia masculina na linha de sucessão, entre eles a viúva Alicent Hightower (Olivia Cooke) e seu pai, Otto, Mão do Rei.

Mas, na verdade, o problema eclodiu após a morte de Viserys, mas a semente foi plantada e regada muitos anos antes, com o drama da sucessão do rei Jaehaerys I Targaryen, também conhecida como Grande Conselho de 101 AC, mostrado no prólogo de House of the Dragon.

Embora Jaehaerys tivesse tido vários filhos homens, todos morreram antes dele. O mais velho e herdeiro, Aemon, morreu em batalha. Por isso, o segundo filho, Baelon, passou a ser o herdeiro, mas ele também morreu prematuramente, portanto Jaehaerys chegou à idade avançada, sem um sucessor claro, criando uma crise constitucional.

O problema principal estava em uma espécie de lei sálica, na qual mulheres não podem herdar a Coroa. Por isso a única filha de Aemon, Rhaenys (Eve Best), foi preterida pelo tio homem. Quando esse tio morreu, Rhaenys já era casada e mãe de um pequeno filho homem, Laenor Velaryon, e entendeu que então seria ele o legítimo sucessor.

Porém muitos consideraram que – uma vez tirada da sucessão – não haveria volta para Rhaenys e o herdeiro seria o filho mais velho de Baelon, Viserys I. Ele estava casado, sua esposa Aemma estava viva, e além disso havia o irmão dele, Daemon. A tradição de Reis homens seria mantida.

Como entrou para a história conhecido como Conciliador, Jaehaerys convocou um Grande Conselho em Harrenhal em 101 AC para resolver a disputa. Lordes de todo o reino foram convidados a votar no próximo herdeiro e depois de muita discussão, escolheram Viserys.

Esta decisão teve grandes implicações futuras, mesmo tendo evitado uma guerra imediata. Rhaenys “aceitou” a derrota e passou a ser “A Rainha que Nunca Foi”.

Nos bastidores, a guerra política incitou a guerra civil

No final de seu reinado, Jaehaerys elegeu Otto Hightower como sua Mão e a filha dele, Alicent, era a sua leitora e companhia constantes. Ao herdar a coroa de seu avô, Viserys manteve Otto na posição e hoje podemos afirmar que foi um erro estratégico irreparável.

Viserys se espelhou na prudência e equilíbrio de seu avô para reger com leveza e evitar conflitos, mas seu irmão Daemon, com personalidade belicosa e mais arrogante, via nessa escolha sinal de fraqueza. Para piorar, havia Otto influenciando o Rei diretamente.

Otto Hightower é conhecido por sua prudência, inteligência política e desejo de estabilidade no reino. Em contraste, Daemon Targaryen é um príncipe impulsivo, carismático e muitas vezes imprudente, conhecido por sua busca por aventuras e poder. Essas diferenças fundamentais de personalidade e valores criam uma tensão natural entre os dois. Para Daemon, Otto queria elevar os Hightowers no lugar dos Targaryens, simples assim. Não estava exatamente errado, né?

Ao longo dos anos, Daemon é um dos herdeiros potenciais ao Trono de Ferro, e sua ambição é bem conhecida. Consequentemente, tanto por temer a personalidade volátil e perigosa assim como por saber que se Daemon fosse rei os Hightowers seriam excluídos, Otto passou a ver no príncipe uma ameaça à estabilidade do reino e ao reinado de Viserys I.

Aproveitando que tinha grande influência sobre Viserys I, ele usou isso sem nenhuma vergonha, minando a relação um dia próxima dos irmãos, destacando com frequência os erros e imprudências de Daemon, e tornado essa competição pelo favor do rei ainda pior. Daemon ficava frequentemente enlouquecido com que considerava uma intromissão em assuntos que ele considerava familiares.

A sucetibilidade de Viserys aos “conselhos” de Otto é uma das piores falhas de seu reinado, porque por pior que fosse Daemon, cujas ações frequentemente causavam problemas e escândalos, ele era fiel à Casa Targaryen e nunca agiu para depor Viserys. Com o veneno plantado pela Mão do Rei, parecia difícil para Viserys confiar completamente no irmão. Em contrapartida, como Otto Hightower era mais calculista e político, por isso Viserys valorizava seu conselho.

Embora todos falassem que Daemon queria a Coroa, ele queria a preferência de Viserys e o prestígio de ser seu conselheiro, não necessariamente governar. O que Viserys custou a ver, até ser tarde demais, foi que as ambições de Otto incluíram plantar sua filha Alicent na família e, depois que foi mãe, a pressionar para que o filho dela fosse o sucessor. Por um bom tempo Otto conseguia apresentar o projeto de forma mais sutil e estratégica.

“Tudo menos Daemon!”

É incerto como Otto planejava mesclar os Hightowers com os Targaryens, uma vez que Viserys era casado, tinha uma filha, Rhaenyra, e ainda idade para gerar herdeiros homens. Alicent foi colocada estrategicamente para se tornar confidente da princesa, mas sem um filho, quem estaria na sucessão direta era ninguém menos do que Daemon Targaryen, forçando a Otto a ter que improvisar.

Usando secretamente fontes próximas de Daemon, incluindo sua amante, Mysaria (Sonoya Misuno), Otto sabia de tudo que o rival fazia e falava, antecipando a narrativa para deixar Viserys ciente. Foi assim que separou os irmãos ao avisar que Daemon teria brindado a morte do sobrinho porque assim ele permaneceria como sucessor direto do irmão. Foi ESSA informação que fez com que Viserys ouvisse Otto e quebrasse a tradição, anunciando Rhaenyra como sua sucessora.

Embora Daemon adorasse Rhaenyra, ele se magoou com a decisão de Viserys e não a respeitava pois sabia (Viserys o avisou) que a única razão pela qual o irmão decidiu pela filha como sucessora era porque ele não queria Daemon como futuro rei. Aqui está a semente de OUTRO problema.

Otto ganhou mais essa batalha contra Daemon, com o príncipe rompendo com Westeros por anos e só retornando anos depois para uma rápida reconciliação. Ao levar Rhaenyra para cohecer os bordéis e Flea Botton, Daemon colocou em risco a reputação da herdeira, criando o perfeito argumento para Otto Hightower reajustar seu plano e agora colocar o neto, Aegon II, na sucessão. Mais uma vez, a imprudência de Daemon ajudou seu inimigo.

Além do sangue, o ódio pelos Hightowers unindo Daemon e Rhaenyra

Desde que foi feita sucessora de seu pai, Rhaenyra se encontrou mais isolada e ignorada por ele. Em parte porque Viserys tinha culpa de ter se casado com a amiga da filha, também por conta do veneno constante de Otto, agora empenhado em provar que a princesa não era apta para o desafio.

O que Otto não conseguiu calcular era tanto o amor de Viserys por sua primogênita como sua culpa por ter perdido Aemma, a mãe dela, na busca incessante de um herdeiro homem. Aos poucos, assim como Daemon, Rhaenyra foi vendo o mal que o conselheiro fazia, sem conseguir anulá-lo.

O casamento político da princesa, tanto para assegurar a aliança com os Velaryons (e consertar o erro de Jaehaerys), também plantou outros problemas que Otto soube aproveitar. Rhaenyra seduziu Ser Criston Cole (Fabien Frankel) e provocou a demissão da Mão do Rei como parte do acordo para se casar com Laenor Velaryon. Isso transtornou Alicent, que considerou que o pai apenas falou a verdade e que Rhaenyra estava sendo inconsequente.

Alicent e Ser Criston se uniram contra a princesa, que claramente teve três filhos com o amante e insistiu em mantê-los como legítimos. A hipocrisia mútua foi escalando ao ponto de que Rhaenyra estava realmente ameaçada. Foi aí que, para surpresa de Otto, o destino agiu.

Viúvos ao mesmo tempo, Daemon e Rhaenyra se casaram, unido os dois Targaryens legítimos e puros na sucessão ao trono. O que ela não contava? Com a ousadia de Otto e a burrice de Alicent.

Daemon, assim como Rhaenys, deveria ter sido o Rei

Assim que Viserys I morre, Otto e Alicent agem para coroar Aegon II antes da meia-irmã. Embora Otto o faça descaradamente ignorando os desejos do Rei, Alicent se convence que está sendo correta e que seria o desejo do marido. Seja como for, Rhaenyra não seria Rainha.

Para decepção e frustração de Daemon, em vez de agir, Rhaenyra optou por cautela, uma decisão que protelou em nada o fato de que Aegon passou a ser Rei e assim custou a vida de seu filho, Lucerys. Rhaenyra tenta emular a estratégia conciliatória de seu pai, repetindo (na visão de Daemon) sua principal falha.

Se Daemon pudesse ter matado Otto em todas as oportunidades que tentou, vimos pelo menos duas delas, Rhaenyra teria sido rainha. Mas a princesa o impediu, traçando seu trágico destino. Para piorar, ela agora está insegura quanto ao marido, e apenas ela vai sofrer sem seu apoio.

A verdade é que o desastrado plano de Otto Hightower vai custar a vida de todos. Assim como Rhaenys deveria ter sido Rainha, a coroa deveria ter ido para Daemon Targaryen. Seria um Targaryen legítimo e com pulso, escrevendo uma história em Westeros significativamente diferente.

O reinado de Daemon seria sim marcado por violência, conflitos internos e externos, mas também por um forte senso de honra pessoal e lealdade à sua família, com alguns pontos a considerar:

  1. Política Interna: Daemon poderia ter enfrentado resistência significativa de outras casas nobres devido à sua natureza volátil. Sua tendência a resolver disputas com violência poderia ter levado a uma instabilidade contínua dentro do reino.
  2. Política Externa: Daemon era um guerreiro habilidoso e poderia ter buscado expandir o território de Westeros através de conquistas. Isso poderia ter levado a guerras prolongadas com reinos vizinhos.
  3. Relações Familiares: Daemon tinha afeição por Rhaenyra e a queria como esposa. Dificilmente seria fiel a ela, mas a dinâmica familiar seria mais próxima da tradição Targaryen.
  4. Dragões: Como membro da Casa Targaryen, Daemon tinha acesso a dragões. Seu uso desses poderosos seres poderia ter influenciado significativamente o equilíbrio de poder em Westeros.
  5. Legado: O legado de Daemon como rei dependeria de suas ações e decisões. Ele poderia ser lembrado como um rei guerreiro que expandiu o reino, ou como um tirano cuja impulsividade levou a anos de conflito e instabilidade.

Um exemplo específico de como Daemon poderia ter agido como rei é justamente sua liderança na luta por Rhaenyra. Como um líder militar proeminente, sem hesitar em tomar decisões drásticas para alcançar seus objetivos, ele deixaria um legado marcado por conflitos e uma política agressiva, tanto internamente quanto externamente. Mas não teriam exterminado os dragões, não teria perdido Rhaenyra e os Hightowers jamais teriam chegado tão perto de conseguirem criar uma linhagem de reis.

Sinceramente? Preferia Rei Daemon I! E você?

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