Em 2004, quando Mean Girls chegou aos cinemas não era ainda comum ter filmes ou séries que endereçassem tão precisamente a realidade do comportamento feminino diante da sociedade patriarcal, começando nas escolas. Com um filme leve, divertido e profundo a roteirista Tina Fey, que faz uma ponta também, estabeleceu com clareza o início do movimento que mudaria o comportamento das meninas, para melhor, com temas como sororidade e empatia. Foi um sucesso absurdo e merecido.

Cerca de 14 anos depois, Mean Girls chegou aos palcos da Broadway e conquistando um público novo com a mesma história da rivalidade de Cady Heron e Regina George. E é essa versão que, duas décadas depois voltou aos cinemas, sem o mesmo resultado, infelizmente.
A história é exatamente a mesma, assim como os diálogos, com apenas alguns ajustes e talvez seja esse o principal problema: conhecemos as piadas e as surpresas, pra que passar por tudo novamente?

Cady Heron foi criada na África por pais carinhosos e quando volta para os Estados Unidos descobre que a verdadeira selva é outra. Quando se chega na nova escola, se envolve com um grupo de garotas populares conhecidas como “Plastics” e ganha a proteção de sua líder, a nojenta e pedante Regina George, a garota mais influente de toda escola. Escapar da ira do veneno de Regina é essencial para sobrevivência, e quando Cady se apaixona pela primeira vez, os riscos aumentam, afinal, ele é o ex de Regina. Despertando a fera dentro de Cady, os resultados são inesperados.
Claro que a troca do elenco, que tinha Lindsay Lohan e Rachel McAdams nos papéis principais, poderia ser uma das razões, pois nem Angourie Rice ou Renee Rapp (essa repetindo seu sucesso na Broadway) poderiam estar “à altura”, mas o problema não é esse. Ambas estão espetaculares, mas é que mesmo com boas músicas, o roteiro não é um roteiro de musical, mas o filme original fazendo pausas para incluir música e dança. Não dá liga!


Angourie é facilmente engolida por Renee, que trouxe uma Regina diferente de Rachel, mais agressiva, mesmo perigosa por isso mesmo. A grande graça da Regina George do filme de 2004 era uma aparente doçura, que deixava os absurdos que dizia mais perigosos e inesperados. A Regina de Renee é um trator que lidera por arrogância e ameaça, enquanto a de Rachel parecia mesmo ser um modelo por fora, apenas quando se via por dentro percebia sua falsidade. Igualmente a Cade de Lindsay Lohan, no seu auge, transmitiu melhor sua transformação crescente em plastic de forma mais coerente, Angourie nunca perde sua doçura.
Portanto, esse remake tão próximo de seu original, acaba errando em timing. E o principal é que ironicamente a canção que mais faz sucesso em 2024 (graças a Mean Girls) não é nenhuma das canções originais, mas o hit natalino dos anos 1960s. Se estamos falando de um MUSICAL, deveríamos ter uma canção em nossas mentes. Não temos.

Se hoje consideramos que apenas 20 anos já justifica refilmagens (tinha a impressão antes que era o dobro do tempo, se não mais, perto de uns 30 a 50 para falar de remake), aqui está a armadilha dos remakes: o público que VIU o original ainda estará com ele fresco em mente quando for comparar com o novo. Inicialmente era para ter ido direto para a Paramount +, o que faria ainda algum sentido. Como ambas versões estão na plataforma, ainda fico com a de 2004. E você?
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