Uma das partes mais divertidas de Acima de Qualquer Suspeita (Presumed Innocent) é ver os cunhados na vida real – Jake Gyllenhall e Peter Sarsgaard– como inimigos mortais em cena. Sério, alguém mais esqueceu disso? Eu não consigo. Dito isso, vamos para um exemplo raro de uma refilmagem que melhora o original, algo que frequentemente acabamos dizendo que é impossível. A série da Apple TV Plus, que terá uma segunda temporada, está a um episódio da conclusão da primeira, sem ter deixado claro se vai manter quem matou Carolyn Pollhemus (Renate Reinsve) será a mesma pessoa da obra original. Me parece que sim.

Se há uma coisa que o cinema e a TV americana sabem fazer com maestria é conseguir transformar julgamentos em suspense e drama, longe da realidade entediante do que é o processo judicial. E aqui estamos, sete episódios depois ainda discutindo evidências do crime brutal que matou a promotora em ascensão, deixando como principal suspeito seu colega e ex-amante, Rusty (Gylenhaal). O promotor do caso, que achamos suspeito porque também era apaixonado por Carolyn é Tommy Molto (Sarsgaard), que precisa condenar seu desafeto “acima de qualquer suspeita”, ou, “sem dúvidas razoáveis”.

São tantas reviravoltas que não vale citar uma por uma, é suficiente saber que Rusty subestimou Tommy e caiu na armadilha da promotoria com um testemunho cheio de falhas, especialmente quando tem pavio curto e insiste em dizer que “não é violento”. Nem nós em casa caímos nessa, muito menos as pessoas da série. Apenas na sala tinham duas vítimas imediatas dos surtos “não violentos” de Rusty.

O problema de tudo é que ninguém está procurando quem matou Carolyn e sem investigação, não há como inocentar Rusty. E esse alguém que efetivamente matou a promotora, conseguiu entrar na casa de Tommy, deixar a arma do crime e ainda mandá-lo à merda. Sem cola do que já postei aqui, consegue desconfiar de quem é a culpa?

Bom, com a segunda temporada confirmada, já temos um spoiler potencial, mas estou curiosa para ver a alternativa da série e aqui vale fazer os elogios necessários à Jake Gyllenhaal, muito à vontade no papel que muitos ainda associam à Harrison Ford, ou seja, uma senhora sombra sobre ele. Mas Jake trouxe para as telas um Rusty muito mais coerente com o que está nas páginas de Scott Thurow. Sim, parece jovem para ser pai de dois adolescentes, mas traz a arrogância que fez de Rusty um promotor implacável e interessante.

E com uma atuação propositalmente dúbia, fica a questão: acredita na inocênciade Rusty?

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