O jejum de boas séries a-ca-bou! Agora o drama é ter tempo para acompanhar tudo. Certamente a minha semana ficará melhor com a volta da Rainha Serpente, ela mesma, a deliciosamente maliciosa e maquiavélica Catarina de Médici (Samantha Morton). Com a passagem de tempo de nada menos do que 10 anos, temos rostos novos, rostos conhecidos e o começo de um novo conflito social e religioso se armando em apenas um episódio. Que saudade de Catarina!

A série que está na MGM Plus, com apenas uns dias de atraso em relação aos Estados Unidos, é uma dos mais inteligentes, hilárias e instigantes séries de época que poderíamos esperar, com a ousadia de The Great, com figurinos de tirar o fôlego e toda gravada in loco nos castelos onde Catarina viveu. com uma trilha sonora de rock feminino e muita curiosidade.
Tirando proveito da má fama de Catarina na História – ser chamada de “serpente” é a menor das ofensas e bruxa ou vadia eram as mais comuns – temos uma Samantha Morton voando em ironia e quebrando a quarta parede para que Catarina contextualize suas iniciativas com sua visão “prática” de sobrevivência. Como narradora – cínica e cética – Catarina é fascinante.
Na primeira temporada, vimos a chegada de Catarina à França e sua ascensão ao Poder, com a evolução de uma jovem que sempre esteve exposta ao perigo, se apaixonou pelo marido (que na verdade, foi um erro de sua parte) e que superou o preconceito machista como a xenofobia para se tornar Rainha e depois, Rainha Regente. Na segunda, uma década depois, seus filhos estão adultos e após um improvável período de Paz religiosa com tolerância mútua entre protestantes e católicos, está à beira de um colapso social e econômico.
As maquinações políticas que ocorrem na corte incluem os filhos da Rainha, incluindo sua filha-inimiga, Margot. Há mais personagens e um cenário político mais complexo, como estamos enferrujados, levamos um pouco mais de tempo para lembrar quem é quem e o que cada um quer.

No caso de Catarina, ostensivamente uma viúva que ainda está de preto mesmo 10 anos depois da morte do marido, ela até pode ter genuinamente interesse em manter o convívio religioso em equilíbrio, mas não quer abrir mão do Poder de regente, criando um conflito obvio e explorado por seus rivais com seu filho, o rei Charles IX (Bill Millner). Quando a tensão religiosa escala, com os Guise (católicos) e os Bourbon (protestantes) liderando as brigas nos bastidores, o estopim vem com o ataque à pregadora protestante Edith (Isobel Jesper Jones), acelerando os confrontos violentos até o massacre da noite de São Bartolomeu. Como sabemos das aulas de História (e do filme Rainha Margot, rs), Charles será um Rei instável cujo legado foi sangue e um dos piores ataques religiosos de todos os tempos.
A grande atração da segunda temporada, mas um anacronismo ímpar, será trazer Elizabeth I (Minnie Driver), da Inglaterra, para uma visita à Catarina, quando na verdade as duas só trocaram correspondência.
Nesse primeiro episódio (um novo a cada sexta e são apenas seis), Catarina mantém a fachada de viúva sofrida, de mulher “submissa”, mas engana a poucos com sua mão firme no poder. Charles, um fraco, é atazanado pelos irmãos que assim como os Guise, o provocam por ainda deixar a mãe efetivamente governar em seu lugar. É incrível porque Catarina não ficou conhecida por tolerância, mas por uma década e aqui ela genuinamente está pensando nos súditos de todas as fés, sem agradar a nenhum particularmente. Por isso, os Bourbons e os Guise agem para acelerar sua queda.
Do lado protestante, Antoine e Louis pressionam para abrir relações comerciais com a Inglaterra, algo que Cataria evita para não irritar Roma. Os dois trazem de Navarra a esposa de Antoine, que vem com o filho dos dois Henry e aceita ser a ponte de contato com Elizabeth I. Se você ainda não associou, Henry será o Rei da França quando os Valois caírem, e será o primeiro marido de Margot. Outra iniciativa da dupla é se aproximar de Charles e convencê-lo de ser visto com os huguenotes, quem sabe vendo uma palestra da líder religiosa que Edith, a “filha” de Montmorency se tornou? Escondido da mãe, ele topa.
Do lado católico, Antoinette, a mãe dos Guise é que volta para retomar o controle da política, uma vez que nenhum dos filhos consegue. Charles e François divergem, porque o último é contra atacar os protestantes. Mas sua mãe consegue provas de que ele é gay e o chantageia para que ele participe do plano de iniciar a guerra civil religiosa. Sem alternativa, ele topa, botando fogo na igreja onde está Edith.

E se tem inimigos fora de sua família, nem com os filhos Catarina está bem. Charles ressente seu controle, Hercules ri e segue Anjou, o favorito, mas destemperado e invejoso do irmão mais velho. Claramente Anjou queria a Coroa e Catarina tem que domar os três. As filhas tampouco ajudam: Elizabeth é levada pelos outros e Margot, de personalidade forte, é a confidente de Charles e está cansada da retidão aparente de sua mãe, que não é carinhosa ou próxima da filha. A rivalidade de ambas é lendária e mal começou.
Do time-Catarina vemos que Rahima (Emma McDonald) é a cabeça da rede de espionagem da Rainha (uma liberdade artística, uma vez que ela não existiu, mas o ‘exército’ de mulheres bonitas para seduzirem homens e saberem dos segredos é fato, Catarina usava mesmo agentes treinadas por ela) e que Cosimo Ruggeri é sua fonte esotérica mais confiante. É para ele que a Rainha confessa seus sonhos/visões, que ele ajuda a decifrar com um aviso arrepiante: “as pessoas só podem ser governadas pelo medo, não pelo amor”.
Ou seja o esforço pacífico tem sido para nada. Mas alguém duvida que se partir para o “medo”, Catarina será ainda mais perigosa?
Tão bom ter Catarina de volta!
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