Um dos momentos que agora confirmamos fazer parte do filme Maria, a biopic sobre os últimos dias de Maria Callas (Angelina Jolie) que está confirmada para estrear no Festival de Veneza 2024, será a apresentação da La Divina em Londres, em 1973.
“An Evening of Songs, Arias and Duets” foi a turnê de despedida e volta do soprano, que estava afastada dos palcos há 8 anos e que, depois de viajar pelos Estados Unidos, Japão e Europa com seu parceiro, Giuseppe Di Stefano, parou de cantar totalmente.

Entre 25 de outubro de 1973 e 11 de novembro de 1974, Maria e Di Stefano fizeram quarenta recitais com seus maiores sucessos acompanhados apenas por um piano, algo íntimo e inesperadamente simples para a grande estrela da Ópera, uma das maiores de todos os tempos.
A turnê abriu em Londres, com o carinho do público, mesmo com a primeira noite tendo sido cancelada (por conta do nervosismo de Maria). Dessa vez poucos a culparam por “estrelismo”, algo que antes gerava manchetes duras com ela. A pressão psicológica era inegável e TODOS sabiam da tristeza profunda da vida pessoal da estrela, que praticamente se aposentou para viver como amante de um homem casado apenas para perdê-lo quando ficou viúvo e escolheu outra (mais jovem e mais famosa) como esposa. Em meio disso tudo, voltar a cantar? Ninguém queria perder.


Biógrafos lembram que ela estava particularmente ansiosa do retorno, alternando autoconfiança e medo intenso, como suas cartas daquele ano atestam. “Claro que não sou o que era aos 35 anos – esperemos o melhor,” escreveu.
A turnê começou em Hamburgo, não Londres, algumas semanas depois da data esperada e a presença de Elizabeth Taylor na platéia chamou mais a atenção de fotógrafos e jornalistas do que o soprano, mas, quando chegou na capital britânica, em 26 de novembro de 1973, História estava certamente sendo escrita.
O show foi transmitido ao vivo pela BBC e gravado pela EMI, por isso temos o registro da ansiedade de Maria em suas apresentações, mesmo com seus sorrisos calorosos. Ela tinha deixado o público enlouquecido quando fez sua última aparição em uma montagem de Tosca, em 1965, mas quando começou a cantar, ficou claro que parecia ser outra. Os fãs não se importaram, Maria Callas sempre foi técnica, mas, acima de tudo, coração e aqui estava ela, sem personagens e sendo apenas ela, aos 48 anos, sozinha e vestida em “um longo simples de seda branca com uma capa azul cobalto até o chão fixada no ombro esquerdo, cruzando a frente do pescoço e flutuando para trás enquanto ela se movia”. Em uma palavra? Divina.

Ao longo da noite ela foi relaxando, mas o alcance ou volume não estavam mais lá. “Uma sombra de sua antiga glória”, alguns descreveram. E Maria estava ciente disso, pois teria dito dias depois que “Eles me amam mais do que eu merecia… Eles amam o que eu era, não o que sou”.
A atmosfera do show, que é o cartaz do filme Maria, com Angelina Jolie de costas, recebendo os aplausos, foi de puro carinho e adoração, algo extremamente importante para ela naquele momento. Todos recitais tiveram ingressos esgotados, mesmo com as “falhas artísticas”, porque foi uma oportunidade única para toda uma nova geração conferir a magia de Maria Callas ao vivo. Após a turnê, em novembro de 1974, ela se retirou da vida pública definitivamente, vivendo sozinha em seu apartamento em Paris, sem ver praticamente ninguém, até setembro de 1977, quando morreu de uma parada cardíaca.
Sabe o que também temos certeza? Que teremos sim, Oh Mio Babbino Caro nesse momento. Será que vamos segurar as lágrimas?
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