O filme A Jovem e o Mar (Young Woman and the Sea) passou rapidamente pelos cinemas para chegar onde parece ser seu melhor formato: as plataformas digitais. A biopic da nadadora Gertrude ‘Trudy’ Ederle, estrelada por Daisy Ridley reconta a incrível história de uma mulher determinada, ousada e que conseguiu quebrar recordes, expectativas e limitações impostas às mulheres nos anos 1920s, numa saga e ousadia de cruzar o canal da Mancha.
Com TUDO que Trudy conseguiu – e não foi pouco – o potencial para uma grande história de superação parecia estar garantido, mas o que está nas telas é muito pequeno em comparação, mesmo com boas atuações do elenco. O problema está no roteiro tão formulaico que parece preguiçoso, uma direção sem inspiração de Joachim Rønning que usa a música grandiosa de uma forma tão brega que, em vez de nos emocionar, nos distrai e quase vira um spoiler, nos forçando a saber os momentos de superação como se nem ele achasse emocionante o suficiente.

A chegada de A Jovem e o Mar (Young Woman and the Sea) é calculada para estar junto com os Jogos Olímpicos de Verão de Paris em 2024, com uma linda história sobre uma nadadora olímpica que teve seu recorde imbatível por homens ou mulheres por 35 anos. O projeto faz parte da iniciativa da Disney de trazer para o público histórias de mulheres inspiradoras e é uma adaptação do livro lançado em 2009 por Glenn Stout, Young Woman and the Sea: How Trudy Ederle Conquered the English Channel and Inspired the World. Até o título é enfadonho.
E isso é lamentável porque temos uma Daisy Ridley em forma, se esforçando para dar vivacidade à um roteiro frio, quase enfadonho. O filme retrata a dura infância de Trudy, filha de emigrantes alemães, cuja saúde frágil a levou à beira da morte por causa de um sarampo que ela venceu por ter uma força vital impressionante. Por conta dela que a nadadora ficou com problemas auditivos, e logo fica determinada a aprender a nadar como sua irmã Meg e os atletas que treinam em Coney Island. Porém, com o medo que inspira de ainda poder estar contagiosa, não pode entrar na piscina e é seu pai que amarra uma corda em sua volta e a leva para o Oceano Atlântico para ensiná-la sozinho, antes que finalmente ela ganhe seu lugar e possa nadar.
A força amorosa dos Ederle é a peça fundamental para que Trudy possa, quase imediatamente, ser extremamente competitiva e ousada. A sucarina não é poupada nem para que a vida sofrida do cortiço seja menos glamurosa do que vemos nas telas. Sem surpresa, a vemos vencendo cada desafio: conseguir ser treinada por Charlotte Epstein, que fundou a Associação de Natação Feminina, as competições amadoras de natação e sua grande vitória, há 100 anos, nas Olimpíadas de Paris de 1924, onde ganhou uma medalha de ouro no revezamento e duas medalhas de bronze.
Trudy realmente nadou mais de 25 quilômetros de Lower Manhattan até Sandy Hook, Nova Jersey e com isso decide ser a primeira mulher a cruzar o Canal da Mancha, primeiro lutando para garantir financiamento para sua missão e depois o desafio mesmo, que se revelou ainda mais complexo. A primeira tentativa, em 1925, falhou porque foi sabotada por seu próprio treinador, Jabez Wolffe. A segunda tentativa não foi imediata como no filme, mas o roteiro superficial tem pressa. Na verdade fez um ano depois, em 1926, quando passou a ser orientada por Bill Burgess, o segundo homem a nadar no Canal da Mancha e rival de Wolffe, e ele a ensinou a nadar com as marés, e não contra elas, o que acrescentou o dobro de distância para o cruzamento.
Fundamental para Trudy foi a presença de sua irmã, Meg, que era mais do que sua incentivadora, ela era criativa. Consertou os buracos nos óculos de proteção com cera de vela e mais ainda, inventou o biquini de duas peças para reduzir a resistência na água e aliviar a irritação de pele de Trudy.

As marés, a temperatura, as águas vivas e outros obstáculos como as minas marítimas herdadas da 1ª Guerra Mundial, poucos anos antes, não são explorados. Igualmente a determinação de Trudy não é tridimensional. Ela completa com sucesso em 14 horas e 31 minutos, batendo o recorde masculino por 2 horas, mas a gente sabia que seria apenas uma questão da primeira braçada.
Tudo é tão obvio que apenas mulheres vão entender como os homens atrás da produção parecem ser justamente todas as figuras masculinas ofendidas que estão nas telas: minimizam uma vitória astronômica a transformando em um conto de fadas. A verdadeira Trudy merecia muito mais.
Sim, você vai pensar logo e, Nyad que foi mais realista em tudo para contar o drama feminista de natação de resistência. Os dois filmes só tem 12 meses entre um e outro, mas enquanto o da Netflix explora o suspende e drama de como é difícil navegar pelo oceano por horas a fio, o da Disney disperdiça a atuação de Daisy Ridley em um filme Sessão da Tarde. Só recomendo porque ter mulheres inspiradoras nunca é demais. Mas, como disse, ela merecia mais.
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