A briga de Doug Liman e o Streaming: embate entre Viewing e Bilheteria

Durante a pandemia, quando todos estivemos “presos” em casa, uma discussão que vinha ganhando fôlego anos antes – qual o futuro do Cinema – ganhou proporções épicas. Ainda é cedo para lacrar o resultado, mas tudo convergiu para acalorar uma disputa ainda longe do fim.

A mudança de comportamento e de consumo ainda está no coração da equação. Sempre houve um dilema entre gerações onde o alvo é sempre os jovens e os realizadores os mais velhos, mas, com a digitalização e gamificação impactou de tal forma que a comunicação tem sido binária, agressiva e inconclusiva. A “garotada” gosta de conteúdos mais curtos, realistas ou reais, precisam se identificar, participar e interferir, sem se incomodar em nada se a tela cabe na palma da mão. Os “maduros” insistem que ouvem o que o público quer, mas que tem autonomia de contar a história como quiser e que obrigatoriamente ela deve estar em telas maiores (se possível a maior de todas) antes de caírem no universo multifacetado das redes sociais.

É um resumo muito simplista, mas que um observador mediano rapidamente pode identificar. Portanto, não é surpresa de ainda esbarrar com realizadores pré-millenials se queixando do momento atual. Voltando à pandemia, há algo a mais.

Com o crescimento da Netflix ao longo dos últimos 10 anos, os estúdios tentaram diferentes estratégias de “interromper” o crescimento das plataformas digitais que antigamente não produziam conteúdo. Além da maior, Netflix, Amazon Prime Video e Apple TV Plus vinham também ganhando fôlego e a saída dos canais e produtores de cinema foi 1º tirar seus produtos deles, e 2º lançar suas próprias plataformas. Portanto, quando os cinemas foram fechados eles tinham onde disponibilizar seus filmes, desagradando atores e diretores que contratualmente não ganham a mesma coisa se não houver bilheteria oara compartilhar os lucros.

Sim, gente, podemos ouvir que a briga é pela Arte, mas não é: se trata de questões financeiras. Questões válidas e justas, por acaso. A atriz Scarlett Johanson foi uma das principais agentes para denunciar o abuso e problemas com a Disney; Tom Cruise sentou em cima de Top Gun por dois anos para esperar a liberação das salas de projeção e Christopher Nolan brigou tanto por Oppenheimer no cinema que nos créditos explicita: “escrito para as grandes telas” em vez de apenas roteiro. Outro que vem esperneando com alguma razão é o diretor Doug Liman.

No início de 2024, ele escreveu um desabafo contra a MGM e a Amazon Prime Video e o tratamento dispensado à sua regravação de Matador de Aluguel (The Road House), pensado para o cinema mas lançado diretamente na plataforma. “Fiz um ótimo filme, um “sucesso estrondoso” – palavras da Amazon, não minhas, aliás. Road House teve um resultado melhor do que meu maior sucesso de bilheteria, Sr. e Sra. Smith. O teste foi superior ao Bourne Identity, que gerou quatro sequências”, Liman escreveu na época, se queixando que pular os cinemas reduziria os lucros da obra. Estamos em agosto de 2024 e os números, segundo ele, comprovam seu medo.

Particularmente, não achei que o filme mereça tanto estardalhaço, me desculpe Doug Liman, mesmo o apoiando em todos os argumentos sobre o que significa. Na véspera de lançar um novo filme, também direto para plataforma, só que agora na Apple TV Plus, o diretor volta a bater na Amazon Prime Video sobre Matador de Aluguel (The Road House). E o tema? “Ninguém foi compensado”, acusa.

O artigo da Variety esclarece alguns pontos. Por exemplo, quando ele comentou que a Amazon Prime Video o orientou a “fazer um bom filme” para decidir o que fazer no lançamento vinha de um cenário onde, o plano original com a MGM, que foi adquirida pela Amazon no início da produção mudou. Liman teve que escolher entre um orçamento de 60 milhões de dólares para o cinema ou 85 milhões se fosse direto para o streaming. Isso não estava claro.

Se os executivos da Amazon acharam que o diretor estaria mais calmo, depois do artigo público e das ameaças (não cumpridas) de boicote, se enganaram. Ele está sendo específico: o problema do mercado não é o streaming, é o modelo de negócio que não compartilha lucros com base nas visualizações de streaming.

“Precisamos de filmes em streaming porque precisamos de escritores para trabalhar, diretores para trabalhar e atores para trabalhar, e nem todo filme deveria estar em um cinema. Então, sou um grande defensor de séries de TV, de filmes em streaming, de filmes de cinema, deveríamos ter tudo isso”, ele disse à IndieWire. “50 milhões de pessoas viram ‘Road House’ e eu não ganhei um centavo, Jake Gyllenhaal não ganhou um centavo, [o produtor] Joel Silver não ganhou um centavo. Isso está errado.”

Pelo menos, segundo ele, o acordo com a Apple, que é onde está o seu novo trabalho, The Instigators, é diferente. “Desde o começo, dissemos que estávamos fazendo isso para streaming, nossos contratos compensavam o streaming, todos nós somos compensados ​​por estar no streaming — há algo chamado de aquisição de streaming — então a Apple tem sido honesta desde o começo”, diz o diretor.

Será que a treta tem solução?


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