Kit Harington e o “fantasma” de Jon Snow

Há de dar muito crédito à Kit Harington e o mega estrelato que alcançou com Game of Thrones. Virtualmente transformado em um dos rostos mais conhecidos do planeta, por quase 10 anos ele foi “impossibilitado” de mudar seu visual como Jon Snow (dizem que era contratual) e, não importa o quanto tenha nos dado boas atuações em comédia e ou outros dramas, ele não sai da sombra de sua personagem mais famosa. Ou, seu fantasma.

Jon foi ao mesmo tempo herói e antagonista, se você for um defensor de Danaerys Targaryen (Emilia Clarke), e criou uma pressão tão grande na saúde mental do jovem astro que ele passou por período de detox e reinvenção, nos palcos e em conteúdos “menores”. Nem mesmo seis anos depois, Kit se livra de falar de Jon. E dobramos o crédito: ele jamais se recusa a falar da série, do personagem ou das questões polêmicas. Sou fã do personagem e do ator que agora está de novo em todos os veículos por ter entrado para o elenco da série Industry, também da MAX.

E no entanto, seja em outras franquias, seja em animação ou até outras séries, o que sempre queremos saber de Kit é sobre o universo de Westeros. Em particular, o spin-off Snow, que nos surpreendeu estar em desenvolvimento e agora nos deixa frustrados em ser “aposentado”. Quem lê o blog sabe que sou do grupo defensor de Jon e que considera que sua conclusão na saga foi minimamente frustrante. Seria a chance de “resolver” alguns pequenos detalhes. Mas teremos que esperar ou apenas sonhar.

Em entrevista à revista GQ, mais uma vez Kit Harington foi generoso com sua franqueza. Ele nunca escondeu que assim que Game of Thrones acabou ele era oficialmente alcóolatra, entrando imediatamente para reabilitação quando ninguém o deixava dar um passo na rua com tranquilidade. Hoje, casado com Leslie Rose (que conheceu gravando a série) e com um casal de filhos pequenos, ele se mantém aberto sobre tudo que viveu, feliz ou triste.

E obviamente, o fato que até hoje a maior parte das pessoas ainda reclame do final de Game of Thrones a petição online de um “novo final” já tem mais de 1,8 milhão de assinaturas, oficializando que a rejeição não faz parte de um menor grupo de insatisfeitos. “Acho que se houve alguma falha com o fim de Thrones, é que estávamos todos tão cansados, não poderíamos ter continuado mais. E então eu entendo que algumas pessoas pensaram que foi apressado e eu posso concordar com elas. Mas não tenho certeza se havia alguma alternativa”, ele reflete.

A entrevista é extremamente interessante até porque a repórter esteve com ele em 2017, no auge da fama de GOT e tem boas comparações com quem reencontrou em 2024, sendo que ele admite que muita da calcula indiferença que tentava transparecer na época era puramente baseada em pânico diante da fama massiva. Algo que hoje domina tão melhor que, entrar na terceira temporada de uma série em andamento, não é nem de perto um problema.

Assim como na série da Apple, Extrapolations, em Industry, vemos o ator dando vida à um milionário com moral questionável, o oposto do sempre correto Jon, portanto nem precisa ir longe para entender que ele quer mudar sua imagem. Ele explica que sempre foi fã da série e pediu para entrar no elenco. E obviamente, sendo uma estrela, conseguiu.

Mas queremos mesmo saber é de Snow e o que chegou a ser feito, e por que deixou de ser desenvolvido. A parcela traumatizada reagiu com desconfiança sobre o que poderia ser o spin-off considerando que a temporada final ficou tão diferente do esperado. “Acho que houve erros cometidos, em termos de história, talvez no final. Acho que houve algumas escolhas interessantes que não funcionaram muito bem,” Kit defendeu diplomaticamente. Para evitar mais especulação, ele se esquivou de explicar qual seria a base do spin-off, que, forçosamente, teria Jon Snow em seu exílio como base.

“O que posso dizer é que foi a HBO que veio até mim e disse: ‘Você consideraria isso?’ Minha primeira reação foi não. E então pensei que poderia haver uma história interessante e importante sobre o soldado depois da guerra. Senti que poderia haver algo a ser dito e uma história a ser contada de uma forma bem limitada. Passamos alguns anos indo e voltando desenvolvendo. E simplesmente nada nos deixou animados o suficiente”, ele explica, usando as mesmas palavras toda vez que fala sobre o assunto. “No final, eu meio que recuei e disse: ‘Acho que se forçarmos isso ainda mais e continuarmos desenvolvendo, podemos acabar com algo que não é bom. E essa é a última coisa que todos nós queremos.’”, tenta encerrar a discussão.



Como comentei aqui no blog há algum tempo, ainda é cedo para voltar à Westeros tão perto de Daenerys. Isso fica claro com House of the Dragon: mesmo com a trama ocorrendo 200 anos antes, qualquer cena é comparada à mãe dos dragões e a sua imagem no episódio final da 2ª temporada causou furor.

“De certa forma, você precisa se divorciar completamente dessa coisa anterior, e estamos apenas alguns anos depois disso”, Kit comentou com a GQ. “O papel [Jon Snow] sempre será um fator tão significativo da minha vida. Pode muito bem ser o maior e mais importante trabalho que faço. Conheci minha esposa nele. Tenho filhos dele. Tenho alguns amigos de longa data. Sou reconhecido na rua por isso. [Mas] também estava indo contra o que estou tentando fazer, que é me separar [do programa]. Por ainda estar com ele, [seria] muito difícil pedir às pessoas que o vissem como outra coisa. E é meio essencial para fazer meu trabalho, que as pessoas venham me ver e não vejam Jon Snow,” reforçou.

Entendo 300% o que ele diz. Mesmo sonhando com um Snow em 2027 ou 2028, ainda assim seria cedo demais para consertar a confusão criada com a conclusão da série. Ficou extremamente difícil. Assim como não será provável vê-lo no universo da Marvel tão cedo novamente, uma vez que Eternals não decolou. Ele não está sozinho: a participação de Emilia Clarke em outras franquias, incluindo a própria Marvel, tampouco fez sucesso semelhante ao de Game of Thrones.

Isso tudo me faz lembrar o que Mark Hamill falou um dia de Star Wars. Na época, ele comentou, considerou que todos os projetos que viram depois, seriam iguais. Obviamente nunca foram, nem a trilogia mais recente. Hoje considera – finalmente – o capítulo encerrado. “Você nunca diz nunca”, ele disse ao LA Times caso mais à frente o chamem mais uma vez. “Eles têm tantas histórias para contar”, ele continuou. “Eles não precisam mais de Luke.”

Posso discordar? Sempre precisamos de Luke Skywalker como precisamos de Jon Snow. Só temos que dar um tempo para sentirmos sua falta. Ainda mantenho a esperança!


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