Para Emily, Paris (ainda) é uma Festa

O que Emily Cooper (Lily Collins) fez por Paris foi resgatar aquela cidade dos sonhos, de romance, boa comida, melhor ainda vinho, cantinhos lindos e roupas espetaculares. Como uma excelente executiva de Marketing, qual seria a supresa que ela consiga vender ideias mesmas que falsas? E não tem nada de falso na linda cidade luz que vem nos proporcionando escapismo desde 2020. Sim, Emily in Paris está na sua quarta temporada (dividida em duas partes), sem avançar em nada numa história praticamente inexistente.

É difícil imaginar que Emily tinha um noivo em Chicago e que só foi parar na França meio que de surpresa e provisoriamente porque sua chefe estava grávida. Chegou em Paris, fez duas grandes amigas imediatamente, já mudou de emprego, já se apaixonou por dois homens diferentes, teve aventuras com outros e no momento está com um chef tão bonito que seria fácil imaginar filas de mulheres querendo conhecer o restaurante (pela comida, claro). E o dia-a-dia da agência, agora uma nova e francesa, é um festival de grandes marcas e eventos fantásticos. Dá para entender como Emily nunca olhou para trás ou sequer voltou aos Estados Unidos desde que desembarcou na Europa. Suponho que fosse órfã e livre de qualquer conexão para lembrar que deixou uma vida para trás.

Todo esse escapismo que foge lógica ou conexão com a realidade é natural. Emily in Paris é uma criação de Darren Starr, autor de Sex and the City e o conceito, assim como a fórmula vencedora da série da MAX tem funcionado na Netflix. A começar, é um conteúdo jovem para jovens. Lilly Collins é linda, é carismática e entende que não há profundidade: a meta é nos encantar.

Dito isso, chegamos a mais uma etapa da série onde a felicidade da heroína está ameaçada. Só para entender, começamos imediatamente após o bafão do casamento infeliz de Camille (Camille Razat) e Gabriel (Lucas Bravo) onde o caso dela com o cozinheiro foi exposto e Alfie (Lucien Laviscount) rompe com ela. Vemos a tentativa sem muito esforço de Emily para reconquistá-lo e FINALMENTE ela e Gabriel se entendem. O problema é mais uma vez a invejosa e insegura Camille, que até tenta um relacionamento com Sofia (Melia Kreiling), mas, efetivamente, já está de olho de novo para separar o casal. Sério? De novo?

Pois é, teremos uma viagem do trio para a Itália, onde Lily, que é fixada em Audrey Hepburn na vida real (pelo menos aparentemente) vai poder reproduzir novamente cenas de filmes de sua musa, em especial, A Princesa e o Plebeu (Roma Holiday). E sim, um novo interesse romântico pode complicar o que não tem nada de complicado.

Aqui está o problema de Emily In Paris: diferentemente de Carrie Bradshaw em Nova York, que era ‘local’, a vida de Emily Cooper na França é para ser passageira, ou pelo menos, ter maiores consequências do que uma aparente férias sem compromisso ou limite bancário. Com Carrie havia glamour, festas e roupas caras, mas também a angústia dela de pagar as contas, os problemas da cidade e sua relação tóxica e dependente com Mr. Big tinha a dificuldade dele não ser um homem confiável ou pronto para se comprometer. Não há nada de errado com Gabriel além de ser uma alma boa e a única problemática da história é a falsiane da Camille, que também é uma das principais clientes da agência, portanto tem Emily presa pelo bolso.

Há mais dramas desenrolando no fundo, muito mais interessantes do que a própria Emily. Como na França o movimento do #metoo esbarrou com um machismo estrutural forte, apenas recentemente as mulheres vêm se posicionando contra os abusos e com isso Sylvie (Philippine Leroy-Beaulieu), de longe a personagem mais interessante de toda série e todas temporadas, ganhando protagonismo e maior densidade quando finalmente se coloca à frente da questão feminista. Essa parte da história, que está rolando no fundo dos romances de Emily, é mais interessante do que as confusões da americana e está bem longe de acabar. Na verdade, é a única parte da trama que promete “reviravolta”.

Dessa forma, a primeira parte da quarta temporada é mais uma série de desfiles de restaurantes e pontos turísticos de Paris. Sim, sei que tudo parece estar em estúdio mas não está: a série é gravada in loco e Paris é realmente uma festa. Sua garota propaganda não nos deixa esquecer!


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