A morte do apresentador e empresário Senor Abravanel, mais conhecido como Silvio Santos, abalou o Brasil nesse 17 de agosto de 2024. Há anos afastado da TV – que o fez ícone da cultura popular do país – devido à problemas de saúde, Silvio tinha 93 anos e estava internado no hospital Albert Einstein desde o início de agosto.
O camelô filho de imigrantes que nasceu no subúrbio do Rio e montou um império de comunicação, era tão controverso como querido, e deixa uma lacuna no meio em transformação. Por mais de 60 anos os domingos eram “seus”, com um programa de auditório onde fez história. E era dono de um conglomerado que inclui rede de emissoras de televisão, empresa de capitalização, rede de hotéis e uma marca de cosméticos.
“Vender” sempre foi seu forte, dizem que ainda pequeno sabia negociar doces para comprar mais e sua “carreira” como camelô foi iniciada quando tinha apenas 14 anos. As ruas do centro do Rio foram seu primeiro palco: ele se destacava por fazer de sua atividade, um show.
O carisma era inegável, por isso o Rádio – maior meio de comunicação da época – foi o primeiro passo numa carreira lendária. Fez um teste e passou, mas preferiu voltar a ser camelô, onde ganhava mais. Só quando passou pelo serviço militar obrigatório que voltou a considerar uma carreira na comunicação, isso porque nas folgas de domingo trabalhava em uma rádio e repensou seu futuro.

Quando foi liberado, Silvio entrou para a maior estação daquela época, a Tupi, mas ficou pouco tempo. Um emprendedor tão hábil como comunicador, percebeu que havia melhor oportunidade se tivesse o próprio equipamento de alto-falantes na barca entre Rio e Niterói, onde passou a se apresentar como corretor de anúncios. Ficou rico, implementando outros serviços e oportunidades. E isso tudo com apenas 24 anos.
Aprovado em um teste na Rádio Nacional, Senor (ainda não tinha adotado seu nome artístico), se mudou para São Paulo, onde ficaria até o final de sua vida e para sempre conectado com a cidade. Já como Silvio Santos, foi crescendo como locutor, aperecendo também em circos e outros shows. Como sócio criador do “Baú da Felicidade”, ganhou rápida popularidade nacional.
Sempre atento, antes que fosse “febre”, percebeu que deveria estar na TV e usou seus rendimentos para comprar um horário no ar, estando portanto entre os pioneiros do meio no Brasil. Os programas Silvio apresentava eram veiculados pela TV Paulista, que acabou comprada pelas Organizações Globo (hoje, Grupo Globo), em 1966. Foi ali que nasceu o “Programa Silvio Santos”, que ia ao ar aos domingos e ocupava nada menos do que seis horas da grade de programação. Logo era um dos mais assistidos e adorados no país.
Ainda nos anos 1960s, a Globo passou a considerar eliminar os programas de auditório, o que afetaria diretamente Silvio e ele não conversou: lançou seu próprio canal. Anos depois de já estar investindo em outros canais, Silvio conseguiu a concessão de quatro canais em mais de um estado (Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul e no Pará, criando a rede SBT. A estreia foi em 19 de agosto de 1981, como a casa oficial do “Programa Silvio Santos”.
Por mais de 40 anos o SBT teve altos e baixos, mas chegou a ameaçar a liderança de audiência da TV Globo em mais de uma oportunidade. Ele não media investimentos, mas era rápido em descartar o que via que não dava certo. Ficou famoso por “se inspirar” em formatos de outros e Não pagar pelo licenciamento, mas eu esbarrei com ele nos mercados internacionais: o que ia ao ar era pessoalmente escolhido por ele.
O que fazia de Silvio um herói popular foi sempre focar na classe trabalhadora, sem jamais tentar agradar às elites. Falava simples, não exibia luxos e sempre estava à frente de prêmios ou competições que a camada mais pobre podia participar e ganhar.
Idolatrado como rebelde e original, Silvio também protagonizou momentos traumáticos para o Brasil, quando sua filha foi sequestrada e só liberada depois do pagamento de um resgate milionário. E o próprio apresentador foi feito refém. Em 1988 chegou a tentar uma carreira política se candidatando à presidência, mas foi barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Sim, seria um Donald Trump 40 anos antes dele.
Sem o menor problema com nepotismo, colocou suas filhas no ar e à frente dos negócios, se afastando aos poucos quando a saúde passou a falhar. Ele faleceu em decorrência de uma broncopneumonia após uma gripe causada pelo vírus H1N1. Hoje é dia de falar da saudade das boas iniciativas e esquecer seus derrapes misóginos ou conservadores. Dia de luto para quem trabalha com comunicação no Brasil.
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
